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Nº 1491 - Ano 31 - 07.07.2005

Veterinária inaugura laboratório pioneiro em calorimetria animal

Ana Rita Araújo

laborar dietas capazes de atender as exigências energéticas dos animais de clima tropical é tarefa das mais difíceis, pois as tabelas que expressam tais necessidades utilizam informações colhidas na Europa e nos Estados Unidos. Além das forragens e condições climáticas diferentes – que se refletem no consumo de energia – ainda não há estudos específicos sobre os chamados rebanhos mestiços, que resultam de cruzamentos e existem em grande escala no Brasil.

Pesquisas como esta agora podem ser desenvolvidas na Escola de Veterinária da UFMG. O recém-inaugurado Laboratório de Metabolismo e Calorimetria Animal Professor José de Alencar Carneiro Viana abre campo para investigações de caráter interdisciplinar, podendo alcançar inclusive a área de nutrição humana. “É o primeiro laboratório deste tipo na América Latina e o segundo no mundo com estudos na área tropical, se considerarmos o da Índia”, diz o coordenador, professor Norberto Rodríguez.

Instalado com recursos do edital CT-Infra (Finep/MCT), da própria Escola de Veterinária e da Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia, o laboratório pode simular qualquer clima ou temperatura do planeta e consegue detectar as trocas gasosas ocorridas no corpo do animal observado. Medir o consumo de oxigênio, a produção de anidrido carbônico e, no caso de ruminantes, a produção de metano, é fundamental para calcular o calor gerado, determinando, assim, as exigências de energia líquida* do animal.


Norberto Rodríguez testa aparelhos no laboratório, que pode simular qualquer temperatura do planeta
Foto: Foca Lisboa


Com base nas informações colhidas em um período de 24 horas, em que o animal permanece nas câmaras repirométricas, é possível formular dietas que contenham os teores de energia líquida capazes de atender suas exigências de consumo energético. “Os outros métodos existentes para esse tipo de estudo dependem do abate e da análise da carcaça, enquanto aqui podemos obter informações rapidamente, mantendo o animal vivo”, explica Norberto Rodríguez. Segundo o professor, a maioria dos rebanhos do Brasil resulta do cruzamento de raças zebuínas (indianas) e européias. Pesquisas indicam que o zebu exige menos energia e se adapta mais facilmente a altas temperaturas, mas pouco se sabe sobre o comportamento energético de animais mestiços. “Nos países de clima tropical são usadas as tabelas nutricionais norte-americanas ou européias, mesmo sabendo que não são adequadas”, diz o professor, ao lembrar que só a partir da década de 1970 os países de clima frio deixaram de utilizar sistemas empíricos e passaram ao sistema científico que expressa, em tabelas, o valor de energia líquida dos alimentos e as exigências energéticas dos animais.

Racionalização

A criação do laboratório abre perspectivas para diversas pesquisas, entre as quais o conhecimento de energia metabolizável e de energia líquida de forragens tropicais e resíduos agroindustriais para ruminantes, bem como de outros insumos disponíveis para animais não-ruminantes. Desse modo, será posível racionalizar biológica e economicamente o uso de recursos naturais disponíveis no país, para aumentar a produção animal. Tais estudos devem resultar, em alguns anos, na possibilidade de elaborar tabelas para formular dietas nutricionais específicas para animais de clima tropical, baseadas em energia líquida, o que permitirá otimizar o uso dos insumos disponíveis e reduzir os custos de produção.

Segundo Norberto Rodríguez, o laboratório beneficiará, de imediato, o ensino e a pesquisa na graduação, permitindo ao estudante acompanhar e participar de experimentos e executar testes biológicos. Já na pós-graduação, acrescenta, “os estudantes contarão com necessárias e apropriadas instalações para desenvolver suas pesquisas”.

Na opinião do coordenador, as novas instalações possibilitam a formação de um centro de excelência em nutrição animal tropical de ruminantes e não ruminantes, para estudos de exigências nutricionais e de bioenergética, o que significará “um salto significativo em termos de ciência e tecnologia aplicada à nutrição animal”, ressalta.

* Energia metabolizável absorvida pelo animal, excluída a parcela transformada em calor.

Homenagem a um emérito

O nome do laboratório homenageia o professor José de Alencar Carneiro Viana, um dos fundadores e professor titular da Escola de Veterinária da UFMG. O pesquisador, que faleceu em 14 de agosto passado, recebeu o título de Professor Emérito em 1992. foi secretário de Agricultura de Minas Gerais e presidente da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Entre outras produções, publicou os livros O Terceiro Mundo não é assim, está assim (1999), e Revolução cultural brasileira (2004).

Graduado em Medicina Veterinária em 1939, pela Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais, que funcionava em Viçosa, concluiu mestrado na Universidade de Iowa (EUA), e doutorado na UFMG. Nasceu em 18 de junho de 1917, no município mineiro de Ubá.