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Nš 1497 - Ano 31
25.08.2005



Cidadania em mãos pequenas

Ana Paula Ferreira

 
Interferência: Rita
da Gloria
foto: Eber Faioli

uando um projeto educativo estimula a participação de crianças, existe a espe rança de que elas se transformem em adultos mais conscientes e atuantes. Por acreditar nesse ideal, estudantes de pós-graduação do departamento de Biologia Geral do ICB criaram o projeto de extensão Pampulha Limpa, voltado para conscientização do público infantil acerca do impacto ambiental causado pelo lixo em um dos cartões-postais de Belo Horizonte: a Lagoa da Pampulha.

O projeto promove a visita de especialistas em meio ambiente a 14 escolas de ensino fundamental, localizadas na região delimitada pela bacia da Pampulha*, com o intuito de realizar palestras sobre a poluição na lagoa. Além disso, monitores-voluntários – alunos de graduação da UFMG – desenvolvem atividades de campo com as crianças. Segundo Jean Carlos Santos, doutorando em Ecologia e coordenador do projeto ao lado de Leonardo Viana, aluno de mestrado, a idéia de trabalhar com o público infantil baseou-se na possibilidade de influenciar a postura dos futuros adultos. “As crianças ainda não têm opinião formada sobre esse tipo de questão e estão mais abertas à mudança. Além disso, o público infantil pode influenciar a visão dos adultos”, explica.

Mutirão

O projeto surgiu em 2003, quando um mutirão de crianças realizou coleta do lixo acumulado às margens de quatro córregos que abastecem a Lagoa da Pampulha. O evento marcou, em Belo Horizonte, a primeira edição do Dia Mundial da Limpeza de Rios e Praias, comemorado anualmente no terceiro sábado do mês de setembro. A data foi instaurada pela ONG norte-americana The Ocean Conservancy, que trabalha pela preservação dos oceanos, atua em mais de 120 países e conta com 40 milhões de voluntários. Hoje, cerca de 25 mil brasileiros, residentes em cidades litorâneas, participam do evento. O mutirão infantil promovido há dois anos pelo Pampulha Limpa ficou marcado como o primeiro realizado em uma lagoa de água doce.

Todas as crianças que participam da coleta recebem uma camisa e um par de luvas para se proteger de possíveis acidentes. Além de coletar os resíduos que encontram pelo caminho, os participantes-mirins pesam, classificam e catalogam o material em fichas técnicas. Os dados são enviados para a sede da The Ocean Conservancy, que repassa relatórios com informações das coletas, realizadas ao redor do mundo, para a Comissão Intergovernamental Oceanográfica (IOC), órgão da ONU que monitora a poluição marinha.

Em 2004, o trabalho de limpeza não se limitou aos córregos. Novo mutirão infantil realizou coleta de lixo na Lagoa da Pampulha, onde está concentrada a maior parte da poluição da bacia. Na orla, foram recolhidos materiais plásticos, latas, papéis, vidros, madeira, isopor e tecidos. Segundo Leonardo Viana, os resíduos nem sempre são lançados no espelho d’água. “As latas, garrafas plásticas e embrulhos são, muitas vezes, jogados nas vias públicas e levados para a lagoa pela enxurrada”, conta.

O próximo mutirão de limpeza da lagoa acontecerá no dia 17 de setembro, das 8 às 12h. Para esta edição, os organizadores esperam a participação de cerca de 1 mil pessoas, entre elas 700 crianças das 14 escolas que integram o projeto.

* Integra a bacia do Ribeirão do Onça, que deságua no Rio das Velhas. A Lagoa da Pampulha, que recebe água de oito afluentes, foi construída em 1936, com o objetivo de ampliar o abastecimento de água da região Norte de Belo Horizonte e contornar as constantes inundações. A ocupação urbana desordenada ocasionou rápido processo de degradação da lagoa. O acúmulo de sedimentos, de esgoto e lixo deixou a água imprópria para consumo e lazer.