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Nš 1499 - Ano 31
08.09.2005



Acupuntura urbana

Trabalho da UFMG que concorrerá na Bienal Internacional de Arquitetura propõe “microintervenções” no centro de BH

Ludmila Rodrigues


Foto: Eber Faioli

Esquina das ruas Guarani e Tupinambás, que faz parte da área estudada

O cenário caótico do hipercentro de Belo Horizonte pode parecer pouco atrativo para as milhares de pessoas que por lá circulam todos os dias. Trânsito intenso, ruas tumultuadas e poluição são alguns dos incômodos que comprometem a qualidade de vida na região. Mas se depender de um grupo de estudantes de Arquitetura e Urbanismo da UFMG, o centro da capital pode ser um bom local para se viver. Eles vislumbram ali agradáveis condomínios e recomendaram um tratamento urbanístico para revitalização dos edifícios.

As intervenções compõem o projeto Microunidades de planejamento: inversão paradigmática, proposta de novo modelo habitacional para os edifícios residenciais e comerciais de uma área de 200 mil metros quadrados – delimitada pela avenida Paraná, rua Carijós, avenida do Contorno e praça Rio Branco (da Rodoviária). O trabalho representa a Universidade no Concurso Internacional de Escolas de Arquitetura, cujo tema é Viver na Metrópole: Realidade – Arquitetura – Utopia. O concurso faz parte da programação da 6ª Bienal Internacional de Arquitetura, que ocorre entre 22 de outubro e 11 de dezembro, em São Paulo.

“A idéia é aproveitar o potencial dos vazios do centro, ou seja, de galpões e edificações abandonados ou mal-utilizados”, explica Eduardo Caetano, que juntamente com Frederico Bicalho, Guilherme Sá, Pedro Fialho, Vladimir Hinkelmann, Geraldo Ângelo Silva e Felipe Carrara diagnosticaram as características e condições do local. Sob a orientação dos professores Jupira Gomes de Mendonça, Maria Lucia Malard e Maurício Laguardia Campomori, o grupo elaborou espécie de plano piloto para a região escolhida.

Segundo os estudantes, o centro não atrai moradores. “Prédios quase nunca são construídos ali”, observa Geraldo Silva. Partindo desse pressuposto, o grupo propôs mudanças para o local, visando principalmente a atrair novos moradores ou melhorar a qualidade de vida daqueles que já o habitam. A solução encontrada baseia-se na acupuntura urbana – conceito usado pelo arquiteto, urbanista ex-prefeito de Curitiba, Jaime Lerner – que propõe intervenções estratégicas em quadras do centro da metrópole.

Diversidade

Implantar diferentes estruturas nos condomínios é uma das principais propostas do trabalho. Segundo os estudantes, a posição dos edifícios não favorece as relações entre os condôminos: os prédios são voltados para a rua, de costas uns para os outros. “Uma das idéias é abrir os miolos dos quarteirões e tranformá-los em espaços livres, áreas de circulação”, conta Frederico Bicalho.

O projeto também prevê a construção de galerias comerciais, com passagens alternativas que conduziriam o pedestre a outros espaços nas quadras. Além disso, “cada quarteirão é uma unidade condominial”, afirma Geraldo Silva, que prevê, ainda, a instalação de mini-estações de tratamento de esgotos e de sistemas de captação de águas pluviais e produção de energia, entre outros. “As medidas visam a aumentar a participação do indivíduo na vida do local onde mora ou trabalha”, ressalta Frederico Bicalho. O ideal, segundo eles, é que os condomínios residenciais abrigassem as pessoas que trabalham no próprio local, o que traria uma série de vantagens, como redução da violência e de gastos com transporte.

Identidade

As intervenções pontuais vão de encontro à tendência atual de planejamento urbano. De acordo com os estudantes, os grandes projetos urbanísticos são impositivos e, muitas vezes, não respeitam as identidades comunitárias. “São pouco humanos”, ressalta Guilherme Sá. Com as mudanças, os estudantes pretendem transformar a realidade do morador, atender suas necessidades e permitir que a moradia absorva traços de sua identidade.