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Nº 1511 - Ano 32
1.12.2005

Nada além do verb to be

Dissertação da Fale revela divergências de crenças entre alunos e professores sobre o ensino de inglês na escola pública

Ludmila Rodrigues

famosa lição do verb to be costuma ser aquela que introduz os alunos de colégio ao universo da língua inglesa. Por isso, muitos se recordam dela como se tivesse sido ensinada na véspera. O problema é que, para grande parte dos alunos de escola pública, o aprendizado do idioma não chega à segunda lição.


A ausência de um programa pedagógico estruturado foi uma das deficiências detectadas pela pesquisadora Hilda Coelho que, durante pesquisa de mestrado, ouviu professores e alunos em busca de resposta a uma questão que angustia os mestres da rede pública: é possível aprender inglês na escola? Hilda Coelho, professora de inglês das redes pública e particular, encontrou diferentes opiniões e crenças quanto ao ensino do idioma.

Ela realizou um estudo de caso com quatro professores e 124 alunos de 5ª e 8ª séries do ensino fundamental e de 1o ano do ensino médio de três escolas públicas, em Viçosa, Minas Gerais. O estudo resultou na dissertação defendida este ano no Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Faculdade de Letras (Fale). A partir da análise das crenças, a pesquisadora procurou mostrar a necessidade de repensar o ensino escolar da língua estrangeira.

Dificuldade x vontade
A principal divergência identificada está no fato de que os alunos dizem querer aprender, enquanto docentes afirmam não ter ambiente ideal de trabalho. Segundo Hilda Coelho, os professores acham as turmas grandes e os alunos, fracos. Além disso, reclamam da escassez de material didático. “Os professores tendem a acreditar que o formato de ensino dos cursos de idiomas e a experiência de um intercâmbio são as melhores formas de aprender a língua”, afirma Hilda.

Já muitos alunos dizem que o conteúdo dos livros usados em sala de aula é infantil e, cerca de 70% deles acham que deveriam começar a aprender antes da 5ª série, quando o ensino é oficialmente iniciado. “Muitos disseram que gostariam de aprender inglês com um profissional, para falar, entender filmes e músicas”, diz. Hilda lembra que ouviu de vários jovens queixas sobre “aquele negócio do verb to be”, como se fosse a única lição aprendida durante todo o ensino fundamental.

Contradição
Segundo ela, 90,3% dos alunos concordam com a afirmação de que é possível aprender inglês sem sair do Brasil, ou seja, acreditam que podem aprender a língua inglesa sem grandes investimentos, como um intercâmbio. Mas, quando perguntados sobre o melhor lugar de aprendizado, 39% apontaram o cursinho particular. “É muito curioso, porque muitos deles nunca entraram numa escola de idiomas, não conhecem o esquema do cursinho”, observa a professora.

Por outro lado, 34% acreditam que sozinhos poderiam adquirir conhecimentos do inglês. “É aí que os alunos acabam demonstrando que o aprendizado da língua requer esforço de cada um, se estudarem podem aprender”, analisa. “O que percebemos então é um conflito entre o desejo de aprender do estudante e a desmotivação do professor”, conclui Hilda.

Para tentar quebrar as crenças que envolvem professores e alunos e reverter o quadro de conflitos, a pesquisadora aponta algumas saídas. De acordo com ela, reformular os programas de inglês e estar atento a continuidade da matéria podem ser algumas soluções. Além disso, é fundamental que o professor conheça a realidade da escola em que está inserida e o perfil dos alunos que ali estudam. “É preciso ouvir, proporcionar um diálogo”, diz.

Dissertação: É possível aprender inglês na escola? Crenças de professores e alunos sobre o ensino de inglês em escolas públicas
Autora: Hilda Simone Coelho
Orientadora: Heliane Mello
Defesa: Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Faculdade de Letras (Fale)