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Nº 1511 - Ano 32
1.12.2005

Reflexões sobre a “consulta”

Ronaldo Castro d´Ávila*


indo o processo de consulta à comunidade universitária, com o objetivo de subsidiar a elaboração da lista tríplice para escolha do reitor e da vice-reitora da Universidade Federal de Minas Gerais, proponho uma reflexão sobre o processo.

Ouvindo comentários sobre o andamento da consulta, uma professora expressou a seguinte opinião: “Estamos em uma universidade, seria importante que tivéssemos dado conta de fazer uma eleição diferente dessas que estão aí, mostrar aos alunos como poderia ser interessante”. Percebem a riqueza desse comentário? Quais as semelhanças e diferenças entre as eleições para cargos políticos em relação à nossa “consulta”? Analogias são possíveis?

Em primeiro lugar, proceder a uma “consulta para subsidiar o Colégio Eleitoral para elaboração de uma lista tríplice” parece pouco frente a um processo que indicará quem conduzirá esta Universidade nos próximos quatro anos. Deveríamos encaminhar, para quem quer que seja, somente os nomes dos mais votados (a reitor e vice): Afinal, “esses são os professores que escolhemos”, diz o pensamento corrente. Esse é o sentido da consulta, essa é a nossa cultura.

Vejo que, na tentativa de estabelecer regras claras para o processo, de modo que tudo ocorra na mais perfeita ordem, acabamos exagerando: são 36 artigos, mais parágrafos, letras e números do Regulamento do Colégio Eleitoral e 44 artigos, mais parágrafos, letras e números do Regimento elaborado pela Comissão Eleitoral (fora os casos omissos), juntamente com as regras para os debates. Seria possível que os candidatos sentassem à mesa e combinassem, à semelhança de um jogo de crianças na rua (onde não há árbitros), o que vale e o que não vale? Claro que sim. Numa reunião da Comissão Eleitoral, que envolveu todos os candidatos, foram acertados, em ambiente de cordialidade, vários detalhes não previstos “em lei”. Acordos bem feitos geram resultados saudáveis e consistentes.

Não há a intenção de desvalorizar o que já foi feito, tampouco diminuir a importância do processo, mas deve haver algum modo mais simples de conduzi-lo. Entendo que o que realmente direcionou o processo foi o comportamento das pessoas que se envolveram e não somente a aplicação dos regulamentos.

Voltemos às semelhanças. Podemos considerar as “chapas” como “partidos políticos”? Temos marqueteiros, cabos eleitorais, comitês, fiscais, propaganda de boca-de-urna, campanhas, promessas, panfletos, faixas, camisas, debates. Qualquer semelhança é intencional, pois temos como referência as eleições para vereadores, prefeitos, governadores e presidente. Neste aspecto, talvez caiba perfeitamente o comentário daquela professora citado no início deste texto. O que poderíamos ter feito para fugir deste modelo? Esta pergunta é para todos nós.

Não consigo imaginar o desgaste físico, mental, pessoal e financeiro dos candidatos a reitor e vice. Talvez fosse possível reduzir o período de “campanha”. Coloquemos como marco inicial a reunião do Colégio Eleitoral que aprovou as normas para a consulta: 23 de agosto de 2005 e, como final, a reunião do mesmo Colégio para elaboração da “lista tríplice”: 24 de novembro de 2005. Foram três meses de uma verdadeira maratona para os professores-candidatos, que, ao final, deveriam receber, sem exceção, medalhas e não abacaxis. Afastar-se das aulas, das pesquisas, das orientações para dedicar-se 24 horas (acredito que eles e elas não tiveram tempo para descansar) e cumprir uma agenda desumana, não é trivial. Todos têm a minha admiração.

Acredito que, apesar dos desgastes, a UFMG foi discutida, houve um grande aprendizado, conhecemos muitas pessoas, conversamos, fizemos planos, nos renovamos. E esse foi o maior ganho para a instituição.

Afinal, o processo de consulta à comunidade universitária foi um sucesso. Sucesso como resultado de muito trabalho e dedicação de muita gente. Todos merecem elogios – da Comissão Eleitoral (Hudson, Beatriz, Guedes, Efigênia, Denise, Maurício, Maria do Carmo, Célia e Ronaldo) ao grupo de pessoas da Reitoria, do TRE, do Cecom, do Cedecom, da Sods, da CAC, do DSG, dos motoristas, dos seguranças, dos meninos e meninas da Cruz Vermelha, dos mesários, dos chefes de unidades, dos alunos e alunas. Daí, nasceu uma grande equipe e ela foi a responsável pelo trabalho realizado.

O número de votantes também foi significativo: 74,3% dos professores, 55,98% dos funcionários e 24,32% dos alunos. Quero acreditar que o baixo índice de participação dos alunos tenha sido alguma forma de manifestar sua insatisfação com o processo. É triste imaginar que tenha sido por descom­promisso, justamente no momento em que os alunos querem mostrar para a universidade que seu voto tem peso e não pode ser discriminado. Talvez tenhamos (nós, universidade) que nos preocupar com essa questão, já que pretendemos formar cidadãos.

Depois do esforço de tantos, não é possível que não consigamos transferir esse nível de mobilização para outros momentos em que a universidade necessitar. Não é possível que isso só acontecerá na próxima consulta, daqui a quatro anos.



*Professor do departamento de Esportes da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional e membro da Comissão Eleitoral

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