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Nº 1511 - Ano 32
1.12.2005

Educar pela terra

UFMG abre curso para formação de professores de assentamentos

Flávia Camisasca*

sar a terra como mediação pedagógica é uma das estratégias do curso Educação básica do campo: pedagogia da terra, iniciado no dia 21 de novembro. Voltado para a formação de professores de 28 assentamentos ligados ao MST e ao Via Campesina (outra entidade que luta pela reforma agrária), o curso abre mais uma possibilidade de diálogo entre a Universidade e movimentos sociais.

Eber Faioli

A reitora Ana Lúcia Gazzola durante a aula inaugural do curso Pedagogia da terra: diálogo com os movimentos sociais

Parceria da UFMG com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e com os dois movimentos, o curso é financiado com recursos de R$ 927 mil do Programa Nacional de Educação em Reforma Agrária (Pronera). Ele terá duração de cinco anos, com módulos presenciais e não-presen­ciais. Sua coordenadora, professora Maria Isabel Antunes Rocha, da Faculdade de Educação, afirma que o curso abre um importante campo de produção de conhecimento para a Universidade, por meio de frentes de pesquisa, extensão e estágio.

A iniciativa, planejada a partir de demanda proposta em 2004, permitirá que os próprios movimentos tenham condições de estruturar escolas nos assentamentos, evitando que as crianças tenham que enfrentar grandes distâncias para estudar. “É obrigação da Universidade abrir as portas para os sem-terra, indígenas, negros e pobres. Este é o papel de uma universidade pública: criar alternativas para a inclusão social”, defende Isabel Antunes.

O curso da UFMG é o 17o do gênero no país. Universidades como as federais do Espírito Santo, do Rio Grande do Norte, da Bahia, de Pernambuco, de Santa Catarina e a Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí) já oferecem programas semelhantes.

Múltiplas dimensões
“Ajudar a criar uma escola pensada pelo campo e para o campo”. É essa a expectativa da jovem Maire Cardoso da Silva, aluna do curso de Pedagogia da Terra. Moradora do assentamento 1o de junho, em Miritinga, próximo a Governador Valadares, e coordenadora pedagógica do MST em Minas Gerais, ela conta que a criação do curso de Pedagogia da Terra em vários estados do Brasil ampliou os horizontes da educação no seio do movimento.

Maire relatou que, durante oito anos, estudou em escola pública de “péssima qualidade” e que sua formação só melhorou quando ingressou numa escola do MST no Rio Grande do Sul. “O movimento trabalha a partir da realidade e da capacidade dos alunos. Sua educação é voltada para as várias dimensões do ser

Licenciatura indígena realiza “vestibular”

Nos mesmos moldes do programa idealizado para as comunidades de assentamentos, a UFMG também estruturou o curso Formação intercultural de professores, voltado para a formação de professores indígenas, que começa em março. O curso, financiado com recursos do edital do Programa de Apoio à Implantação e Desenvolvimento de Cursos de Licenciatura para Formação de Professores Indígenas (Prolind), aberto pelo Ministério da Educação, selecionará sua turma de alunos nos dias 19 e 20 de dezembro.

Representantes de sete povos indígenas de Minas Gerais participarão do curso: Xacriabá, Maxacali, Krenak, Pataxó, Caxixó, Xukuru-Cariri e Pankararu. Sua coordenadora, a professora Lúcia Helena Álvarez Leite, da FaE, destaca o caráter intercultural da iniciativa. “Os povos indígenas precisam dominar a lógica racional, ocidental, mas também desejam conhecer e valorizar sua própria cultura”, afirma. O curso também dará ênfase a projetos sociais desenvolvidos em áreas indígenas, “de modo que a escola fique enraizada na realidade social de cada povo”, acrescenta Lúcia Helena.

O edital do Prolind reservou R$ 500 mil para a licenciatura. A Funai destinará R$ 372 mil anuais e a Secretaria de Educação de Minas Gerais, R$ 89 mil. A UFMG entra com o corpo docente e os equipamentos. Além do projeto da FaE, foram selecionadas pelo Prolind licenciaturas das universidades federais de Roraima, do Amazonas, de Campina Grande, da Bahia e de Tocantins; e das estaduais de Londrina (PR), da Bahia, de Mato Grosso do Sul, do Oeste do Paraná e do Amazonas.