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Nº 1524 - Ano 32
30.03.2006

O milagre na telona

Professor Rafael Conde, da Escola de Belas-Artes, filmará conto de Cornélio Penna

Maurício Guilherme Silva Jr.

tabira. Início do século 20. Com imensa expectativa, os habitantes da pequena cidade mineira mantêm olhos e ouvidos atentos ao milagre anunciado. Num dos sobrados do município, a misteriosa Maria Santa deverá, a qualquer instante, cumprir a profecia religiosa. Principal argumento do romance Fronteira, publicado em 1935 pelo escritor Cornélio Penna, a iminência do ato divino é “pintada” em “cores” fortes: a narração não se prende à narrativa literária. O clima de tensão, incomunicabilidade e apreensão da história pode ser “visualizado” com clareza pelo leitor.

A força imagética do texto de Penna foi o que levou o cineasta mineiro Rafael Conde, professor da Escola de Belas-Artes (EBA) da UFMG, a imaginar Fronteira nas telonas. O desejo artístico ganhou força, em janeiro de 2006, com o prêmio de R$ 1 milhão recebido pelo diretor, fruto da inscrição do roteiro de longa-metragem homônimo no concurso para produção de filmes de baixo orçamento, iniciativa do Ministério da Cultura. O mesmo trabalho já havia lhe rendido R$ 750 mil no prêmio Filme em Minas, oferecido pela Secretaria de Estado da Cultura em parceria com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).


Cena de Chuvas nos telhados antigos, filme de Rafael Conde que encerra a trilhogia baseada na obra de Luis Vilela

A idéia de filmar a literatura de Cornélio Penna foi alimentada, por Rafael Conde, ao longo de vários anos. O primeiro contato do cineasta com a escrita do autor deu-se com Menina Morta, livro que, apesar de pouco conhecido, é um dos mais significativos da literatura brasileira. “Cornélio Penna possui uma literatura plástica, descritiva. Seu texto conta com elementos do dito e do não-dito. Tudo é sempre muito velado”, comenta Rafael Conde, ao ressaltar, ainda, que o escritor é bastante estudado por pesquisadores da UFMG. Tais “espaços” de narração e ausência de diálogo representam matéria-prima única para o cineasta, que começará a rodar o longa-metragem em julho.

Pesquisa
Nas produções de Rafael Conde, a exemplo de seu primeiro longa – Samba-Canção (2002) – e de seus curtas-metragens, a concepção dos filmes é transformada em projeto de pesquisa. Com isso, estudantes da UFMG têm a oportunidade de aprender muito sobre o fascinante universo do cinema. No caso de Fronteira, o cineasta prevê a realização de workshops para aprendizado de atividades relacionadas a fotografia, técnica de som e de efeitos especiais, direção de arte e foto-montagem.
“Trabalharei com uma equipe de aproximadamente 60 pessoas”, conta o professor, que ainda não definiu completamente o elenco do filme. Apenas a atriz Débora Falabella está confirmada, no papel de Maria Santa. O novo longa-metragem de Conde será realizado pela Filmegraph, empresa do próprio cineasta, e produzido pela Camisa Listrada, composta de ex-estudantes da UFMG, muitos deles estagiários de antigos trabalhos do diretor.

Trilogia
Além de lançar-se à produção de Fronteira, que terá o maior orçamento de sua trajetória como cineasta, Rafael Conde filmou, no início de 2006, o curta-metragem Chuvas nos telhados antigos, baseado em conto do escritor mineiro Luis Vilela. Com o filme, o diretor conclui a trilogia inspirada no autor, composta também de Françoise (2001) e A rua da amargura (2003). As três obras são conectadas conceitualmente pela abordagem das angústias humanas. Chuvas é outro projeto de pesquisa de Conde, que contou com o trabalho dos estagiários Rodrigo Vieira (Montagem e direção), Glauciene Lara (Produção) e Giuliana Danza (Continuidade e fotografia de cena).