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Nº 1524 - Ano 32
30.03.2006

Brasil terá perfil ampliado da incidência
de diabetes e doenças cardiovasculares

Liderado pela UFMG, estudo em Minas envolverá três mil pessoas

Kleyson Barbosa

m consórcio formado por centros brasileiros de pesquisa, incluindo a UFMG, inicia este ano um aprofundado estudo sobre doenças cardiovasculares e diabetes melito no país. A pesquisa, denominada Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (Elsa), busca sistematizar informações para a criação de um perfil nacional da incidência dessas enfermidades na população adulta, relacionando fatores de risco, perfil sociodemográfico e outras doenças coadjuvantes.

O estudo acompanhará por cerca de 20 anos a saúde de aproximadamente 15 mil adultos, com idade superior a 35 anos – daí a origem da expressão longitudinal. Segundo especialistas da área, o Brasil é carente de estudos com este perfil, ou seja, que busquem identificar os fatores de risco que influenciam o aparecimento dessas doenças na população brasileira em longo prazo. Para analisar essas influências, os pesquisadores valem-se de informações das populações americana e européia – que possuem características culturais, sociais e genéticas divergentes da brasileira. O Elsa surge, portanto, como a maior pesquisa sobre as doenças cardiovasculares e diabetes já realizada na América Latina.

Felipe Zig

Sandhi Barreto: contribuições para o estudo de doenças crônicas

O estudo resultará na produção de um banco de dados que permitirá compreender melhor a dinâmica das doenças crônicas no país, avalia a professora da Faculdade de Medicina e coordenadora do Elsa em Belo Horizonte, Sandhi Barreto. “Tem crescido a incidência de doenças crônicas e, em particular, das cardiovasculares. Um dos maiores desafios é buscar novas contribuições para essa área do conhecimento”, aponta.

De acordo com o Ministério da Saúde, após a violência e os acidentes, os fenômenos que mais trazem danos à saúde da população brasileira são a hipertensão e o diabetes. No Brasil, o percentual de prevalência da hipertensão chega a 35% da população com idade igual ou superior a 40 anos – cerca de 12 milhões de pessoas. No caso do diabetes melito, o índice é de 11%, o que representa quase quatro milhões de brasileiros nessa faixa etária.

O Elsa será desenvolvido em centros de investigação localizados em vários estados brasileiros. Em Minas Gerais, a instituição responsável pela pesquisa é a UFMG; no Rio de Janeiro, Fiocruz e Uerj; em São Paulo, a USP; na Bahia, a UFBA; no Espírito Santo, UFES; e no Rio Grande do Sul, UFRGS. As instituições foram selecionadas por meio de chamada pública e receberão R$ 22,6 milhões – dos quais quatro milhões aplicados em Minas Gerais – até 2008.

Clínica
Em seu primeiro ano, o programa trabalhará no recrutamento, formação e treinamento da equipe, que produzirá os protocolos de estudos e os manuais de campo que padronizam os procedimentos. Os pacientes mineiros serão acompanhados na Clínica Elsa, que será construída no Ambulatório Bias Fortes do Hospital das Clínicas.

Em 2007 e 2008, os participantes serão submetidos a um conjunto de avaliações, incluindo questionários, coleta de sangue e urina, teste de tolerância à glicose, retinografia, ecocardiograma, ultrassonografia de carótidas e eletrocardiografia. Essa linha-base servirá de referência para o monitoramento de ocorrências e problemas clínicos que surgirem posteriormente – do diagnóstico até outros fenômenos relacionados. O estudo exigirá a montagem, em cada centro de investigação, de uma complexa estrutura para obtenção de dados.

A previsão é de sejam recrutados cerca de três mil participantes para o estudo somente em Minas Gerais. “As pessoas não serão escolhidas somente em função da doença; elas podem ou não ter problemas de saúde”, informa Sandhi Barreto. A expectativa é de que sejam feitos exames completos a cada três anos e, nos intervalos, uma vigilância das ocorrências clínicas.

Centros de leitura
Para uniformizar os procedimentos de interpretação de exames, foram estabelecidos centros de leituras, distribuídos em quatro cidades. Belo Horizonte será responsável pelo centro de leitura de eletrocardiografia. Todos os eletrocardiogramas realizados pelo projeto no país serão enviados, por meio eletrônico, para a capital mineira. “O centro vai produzir laudo e codificar os exames, conforme padrão internacional, para análise da importância das alterações encontradas no prognóstico dos indivíduos”, explica Luiz Antônio Pinho Ribeiro, coordenador do Centro de Leitura de Eletrocardiografia.

Os coordenadores do projeto acreditam que, em dez anos, será possível conhecer a incidência das ocorrências clínicas mais importantes relacionadas ao diabetes e aos males do coração. “E isso já será um marco, afinal atualmente trabalhamos com pesquisas externas, produzidas em ambientes diferentes”, comemora Sandhi Barreto.

A partir do levantamento desses dados, será realizada uma estimativa de tempo necessária para obter resultados mais conclusivos com o número de participantes do projeto.