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Nº 1524 - Ano 32
30.03.2006

Nunca é tarde para aprender

Programa de ensino de jovens e adultos da UFMG completa 20 anos

Manoella Oliveira

vone da Silva Lage é uma senhora simpática e cheia de energia que preenche seus dias com hidroginástica, alongamento e curso de informática. Artesanato é uma de suas paixões, mas o que ela gosta mesmo é de estudar.

Incentivada pela filha, Luísa Lage, funcionária da Universidade, Dona Ivone concluiu, aos 80 anos, a 8a série do ensino fundamental pelo Projeto de Ensino Fundamental de Jovens e Adultos 2o segmento (Proef-2), da UFMG, e se prepara para cursar o ensino médio. “Não gosto muito de matemática”, admite, em tom de brincadeira. “Mas gosto de qualquer aula porque os professores nos fazem querer aprender”, completa.

Felipe Zig

Ivone Lage prepara-se para cursar o ensino médio

Dona Ivone é apenas uma dos muitos beneficiados pelo Projeto, que comemora 20 anos em 2006. Para celebrar a data, a equipe do Proef-2 elaborou um calendário de eventos, aberto em 15 de março, com aula inaugural do professor emérito da Faculdade de Educação, Miguel Arroyo.

Os professores do Proef-2 lecionam o conteúdo escolar correspondente ao segundo segmento do ensino fundamental – da 5ª a 8ª séries. O projeto, coordenado pelo Centro Pedagógico (CP) e pela Faculdade de Educação (FaE), nasceu da reivindicação dos funcionários da Universidade pelo direito ao ensino fundamental. A demanda foi atendida, em 1986, com a criação do Proef-2, aberto à comunidade externa, por equipe de coordenadores, bolsistas e professores de várias unidades da UFMG.

As aulas, noturnas, acontecem de segunda a quinta-feira. Às sextas-feiras, os alunos participam de atividades facultativas como informática e educação física, enquanto os monitores se reúnem com a coordenação do programa. “Os bolsistas ainda não são formados, por isso precisam de orientação e recebem acompanhamento dos professores das respectivas áreas. É um trabalho de iniciação à docência muito importante”, ressalta o professor Julio Emilio Diniz, coordenador do Proef-2.

Guarda-chuva
O Proef-2 é parte do Programa de Educação Básica de Jovens e Adultos (Proeja), “guarda-chuva pedagógico” que abriga seis projetos. Entre eles, três de escolarização: o próprio Proef-2, o Proef-1 (alfabetização) e o projeto de Ensino Médio (Pemja). “O Programa é uma articulação que atende toda a educação básica, somado a outros três projetos de extensão”, detalha a coordenadora Maria da Conceição Ferreira Reis Fonseca. Sobre o Proef-1, a professora diz que ele é muito mais que um projeto de alfabetização. “É o início de uma escolarização que tem continuidade no ensino fundamental e no ensino médio”, define.

O Proef-1 equivale ao curso oferecido pelas instituições de ensino entre a primeira e a quarta séries e é coordenado pelo Centro de Alfabetização Leitura e Escrita (Ceale), da FaE. Após sua conclusão, o aluno pode continuar seus estudos no Proef-2. Também podem participar deste segmento alunos que não cursaram o Proef-1, mas que, alfabetizados, pretendem concluir o ensino fundamental.

O ciclo se fecha com o Pemja, coordenado pelo Colégio Técnico da UFMG, e que corresponde ao ensino médio. Nele estão matriculados os alunos interessados em cursar faculdade. A estudante de História Grace Alves de Oliveira, do Uni-BH, foi aluna do Pemja. “Podia ter feito supletivo, mas, depois de concluir o primeiro grau pelo Proef-2, optei pela qualidade de ensino que já conhecia”, diz Grace, que coordena o centro cultural da Lagoa do Nado.

Aprendizado
O Proeja, vinculado ao Núcleo de Ensino de Jovens e Adultos, da FaE, é uma oportunidade para os licenciandos aprenderem a metodologia de educação de jovens e adultos. “É um aprendizado cada vez mais necessário porque esse mercado se ampliou em todo país, em função das iniciativas do Governo Federal, como o programa Brasil Alfabetizado”, afirma a professora Maria da Conceição. “Lamentavelmente, não há, na grade dos cursos de graduação, uma disciplina que contemple essa formação de ensino, que exige modos de lidar com o conhecimento próprios da cognição adulta”, completa.

A escolarização de jovens e adultos exige uma metodologia específica, construída na própria Universidade ao longo do desenvolvimento de seus projetos. “Não se trata apenas de transmitir o conhecimento, tal como é ensinado a crianças, em uma sala de aula repleta de adultos. Pesquisas mostram que não é assim e nossa experiência confirma”, reforça o professor Julio Emílio.