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Nº 1527 - Ano 32
20.04.2006

Tradição e modernidade dividem o mesmo palco

Centro difusor da música clássica, Conservatório UFMG comemora 80 anos
com homenagem a Mozart e concurso de piano

Ana Maria Vieira

omo tantos outros registros sobre a história da capital mineira, a notação de Victor Silveira, que consta na publicação Minas Gerais em 1925 – e editada pelo governo de Mello Viana, em 1926 – revela a forte presença da música na cidade, no início do século passado. Mas não apenas isso. É visível, nesse comentário, os sinais da solidez de heranças e hábitos culturais dos mineiros que, transportados no tempo e no espaço – e em especial com a transferência da capital para Belo Horizonte em 1897–, procuravam novas formas e locais para se expressar.

A percepção política não tardou. Minas Gerais, herdeira de imensa tradição musical profana e sagrada, necessitava de espaço que permitisse o encontro e a aprendizagem de futuros músicos na jovem capital. Foi nesse caldeirão que, ainda na observação de Victor Silveira, “entendeu muito bem o governo do sr. Mello Viana que o Conservatório era o resultado lógico de uma necessidade que cumpria não ser adiada”. A decisão se mostrou acertada e Victor registra a surpreendente receptividade do público à instalação do Conservatório Mineiro de Música em um velho casarão no Parque Municipal, em 1925. A procura foi tamanha que o espaço se mostrou inadequado imediatamente à sua criação.
Eber Faioli

Carlos dos Reis: formação do público


A reação do governo foi imediata e, para fazer frente à demanda, Mello Viana inaugura, em 5 de setembro de 1926, a sede do Conservatório, na avenida Afonso Pena, tendo à frente, como diretor, o maestro e compositor Francisco Nunes. Contudo, a inquietação dos músicos e a existência de uma elite interessada em eventos musicais fazem com que, já em seu nascedouro, o local adquira nova identidade.


Como relatam Sérgio Freire, Alice Belém e Rodrigo Miranda, autores do livro Do conservatório à escola – 80 anos de criação musical em Belo Horizonte, “em pouco tempo, o Conservatório passou a ser não só um local para formação de instrumentistas, mas também um novo espaço para a realização de concertos”.

Diversidade
A formação de instrumentistas não é mais atribuição do Conservatório – há décadas a cargo da Escola de Música, que funcionou no mesmo espaço até 1997, e sediada hoje no campus Pampulha –, mas o espaço continua recebendo o que há de melhor em música erudita. Transformado em complexo cultural há cerca de seis anos, abriga, sob suas linhas neoclássicas e contemporâneas, sala de recitais, galerias de exposições, auditórios, salas de aulas e espaço para concertos. Como Janos, o deus mitológico, cuja face olha em duas direções, guardando o passado e o futuro, a instituição mantêm sua visão aberta para a diversidade.

Essa característica ficará ainda mais evidente durante as comemorações dos 80 anos do Conservatório, que terão seu ponto alto em setembro. A agenda das festividades, recentemente divulgada, será marcada pela inovação. “Nosso objetivo é apoiar projetos destinados à formação e ampliação de platéia em música erudita e em cultura popular”, diz o diretor da instituição, Carlos Alberto Marques dos Reis.

Uma das atrações é a promoção do 1° Concurso Nacional de Piano Cidade de Belo Horizonte (leia mais na página 7), que vai contemplar músicos com
prêmios nos valores de R$ 10 mil, R$ 7 mil e R$ 5 mil, e com apresentações no exterior. Segundo a professora e pianista Sandra Loureiro, idealizadora da iniciativa, o concurso é uma forma de incentivar e agradecer músicos belo-horizontinos que, há pelo menos seis anos, têm se apresentado em salas de espetáculos gratuitamente.

Outro destaque da programação (leia mais na página do Conservatório) é o concerto do Erudito ao Popular, marcado para 5 de setembro, nos jardins do Conservatório. Também em setembro começa o Festival Mozart, que terá concertos na Sala de Recitais do espaço e no campus Pampulha, em homenagem aos 250 anos de nascimento do compositor austríaco.