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Nº 1527 - Ano 32
20.04.2006

Implante biodegradável combate
doenças intra-oculares

Técnica desenvolvida na UFMG foi testada em hospital da USP

Kleyson Barbosa

ma equipe de pesquisadores da UFMG estuda novo implante para a cura de doenças intra-oculares, alternativa aos atuais tratamentos baseados no uso de antiinflamatórios de difícil administração. O implante, biodegradável, liberará o paciente da necessidade de medicação à base de antiinflamatório via oral ou injeções, apresentando menor efeito colateral.
Felipe Zig

Sílvia Fialho: menos danos
à estrutura da retina

Parte da tese de doutorado da pesquisadora Sílvia Ligório Fialho junto ao programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da UFMG, o método trará vantagens no tratamento de doenças inflamatórias e de outras enfermidades intra-oculares, como retinopatia diabética, degeneração macular e edema macular.

A pesquisa compreendeu o desenvolvimento de implantes e os estudos in vitro e pré-clínico em coelhos, que apresentaram resultados satisfatórios. A equipe do Serviço de Retino e Vítreo do Hospital das Clínicas da USP Ribeirão Preto colaborou na etapa oftalmológica do implante, realizando cirurgias e aplicando o medicamento em animais. O grupo aguarda aprovação do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para iniciar o estudo clínico em humanos – última fase da pesquisa antes de iniciar a comercialização da técnica.

O implante permite obter uma concentração da droga dentro da chamada faixa terapêutica por um período prolongado. Por ser biodegradável, não é preciso retirá-lo do olho, uma vez que ele se dissolve, diminuindo os riscos de efeitos adversos. Apenas uma cirurgia é necessária para a injeção do medicamento, que pode ser preparado de modo a permitir que a droga seja liberada por vários anos, continuamente. “Uma grande vantagem do implante é que ele promove a liberação da droga diretamente no local de aplicação,reduzindo os danos causados à estrutura normal da retina”, enfatiza Sílvia Fialho.

Os antiinflamatórios atualmente utilizados no tratamento dessas doenças intra-oculares são de difícil aplicação na região posterior do olho. Eles se baseiam na administração de colírios ou de injeções intra-oculares. Nenhuma das alternativas produz o resultado desejado. O uso de colírios tem efeito terapêutico mínimo, enquanto a injeção intra-ocular, mesmo sendo um bom procedimento, possui atuação reduzida, devido à rápida circulação sanguínea nesses locais.

Para que a atuação seja eficaz dentro da faixa terapêutica, é necessária a repetição continuada de injeções. “A injeção é tão efetiva quanto o implante e vem sendo amplamente utilizada. Mas a aplicação exaustiva pode causar desconforto ao paciente”, pondera o professor Márcio Bittar Nehemy, chefe do Serviço de Retino e Vítreo do Hospital São Geraldo da UFMG.

Tratamento individualizado
Com o implante, os pesquisadores esperam propiciar a individualização do tratamento. “A expectativa é de que o paciente receba doses de acordo com o tipo de doença e com o grau de manifestação”, explica Sílvia Fialho. Desse modo, será possível tratar as diversas doenças intra-oculares de modo eficiente.

No estudo com animais, realizado durante oito semanas, 60% da droga preparada foi liberada continuamente no vítreo – quantidade considerada eficaz para o tratamento. “Esse resultado representa a aprovação do implante. Agora esperamos obter resultado semelhante em humanos”, avalia o oftalmologista Rubens Camargo Siqueira, responsável pelo Setor de Retina e Vítreo da USP de Ribeirão Preto. O estudo clínico deve começar ainda este ano e também será realizado em conjunto com a equipe de especialistas daquela universidade.

Os implantes poderão ser desenvolvidos na forma de bastão, de discos ou de membranas. Apesar de os estudos serem voltados para a região intra-ocular, o medicamento pode ser implantado em diferentes regiões do olho humano. A liberação contínua da droga ataca as doenças até curá-las, pois se mantém em níveis terapêuticos suficientes para combater o agente causador da enfermidade.

Estudo preliminar mostra que o medicamento a ser produzido no Brasil terá preço bastante inferior ao do implante norte-americano, que custa cerca de 20 mil dólares. A pesquisa foi premiada no Congresso Brasileiro de Retina e Vítreo, em 2004, e no Congresso Brasileiro de Catarata e Cirurgia Refrativa, em 2005. Além disso, dois artigos já foram aceitos para publicação em revistas internacionais indexadas.

Faixa terapêutica - É o intervalo de tempo necessário entre uma dose e outra para que um medicamento não provoque efeitos colaterais graves em seus usuários.

 

Tese: Desenvolvimento de implantes biodegradáveis destinados à administração intra-ocular de corticóides
Autora: Sílvia Ligório Fialho
Defesa: 19 de janeiro de 2006 junto ao programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da UFMG
Orientador: Armando da Silva Cunha Júnior