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Nº 1531 - Ano 32
18.05.2006

No meio do caminho tinha uma canção

Projeto da UFMG quer resgatar produção musical da Estrada Real

Manoella Oliveira

Circuito Cultural Estrada Real, projeto da UFMG aprovado integralmente pela Lei Rouanet, é o mais novo aliado da preservação do acervo artístico nacional. A partir deste ano, uma das produções musicais mais ricas do país será integrada e fortalecida. Ela é originária de 177 municípios de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro, localizados no antigo caminho que ligava as reservas de ouro e diamante à Corte Portuguesa, no Rio de Janeiro.


Mapa da Estrada Real, que ligava as reservas de ouro e diamante, em Minas Gerais, ao Rio de Janeiro

“Existem boas políticas de preservação de bens tangíveis, como bibliotecas, monumentos e museus, mas quando se trata de música há uma certa dificuldade. Preserva-se a partitura, mas partitura não é música”, diz o professor Maurício Veloso Queiroz, da Escola de Música, e coordenador acadêmico do Projeto. Ele argumenta que gravações são registros importantes para conhecimento, “mas a verdadeira riqueza está na reprodução oral, na música que se renova a cada performance e constrói a tradição”. Para tanto, no segundo ano de existência do Projeto, serão promovidos concertos de música erudita, festival de música popular e concurso para criação do Hino da Estrada Real. Esses eventos serão registrados em CDs.

A proposta do grupo é construir uma rede para integrar compositores, produtores, gravadoras, emissoras de rádio, ONGs e outros setores envolvidos na produção musical ao longo de uma rota de 1.400 quilômetros. “Queremos centralizar as informações sobre a produção musical porque ela é enorme, mas seccionada. Vamos divulgar e promover eventos para a comunidade”, explica a professora Ângela Bibiana Nogueira, coordenadora-executiva do Circuito.

Núcleos
Fruto de discussões realizadas pela Pró-Reitoria de Extensão com diversas unidades acadêmicas da UFMG, o Projeto será estruturado em cinco núcleos regionais, criados a partir do mapeamento e da análise da produção musical já existente. O levantamento e o tratamento de informações sobre as características musicais de cada município serão reunidos em bancos de dados georreferenciados (processados a partir de variáveis geográficas), com imagens fotográficas, audiovisuais, e com fontes secundárias, de interesse cultural, histórico e turístico.

Cada núcleo envolve representantes dos músicos que moram nos municípios margeados pela Estrada Real e suas organizações, bolsistas da comunidade e professores e alunos da UFMG. Seminários serão realizados para explicar aos músicos os objetivos do projeto e definir com eles o eixo a ser seguido. “O papel da Universidade é de estímulo. Não se trata de um projeto pronto, mas que está sendo construído conjuntamente”, destaca Maurício Queiroz.

O objetivo da equipe é fazer com que os cinco núcleos operem de forma integrada e, ao mesmo tempo, autônoma para articular e organizar as redes de trabalho. A Universidade coordenará o projeto em seus três primeiros anos, mas em 2009 ela se tornará co-gestora.

Universo inexplorado
O Circuito Cultural Estrada Real procura estabelecer parcerias em torno da ampliação e criação de espaços para música local, favorecendo o turismo da região. O Circuito pretende articular as associações de músicos, coros, bandas e manifestações folclóricas, tradicionais em Minas. “A maior parte do acervo do século XVIII foi encontrada em Minas, principalmente em Ouro Preto e Mariana, e o Circuito Estrada Real traz essa idéia de mapeamento e resgate”, diz o professor Lucas Bretas, diretor da Escola de Música, ao manifestar sua expectativa de conhecer acervos aos quais não se tem acesso hoje.

O projeto, apoiado pelo Instituto Estrada Real, pela Secretaria de Cultura de Minas Gerais e pela Prefeitura de Ouro Preto, receberá investimento de R$ 2,5 milhões vindos exclusivamente de patrocínio empresarial. Os recursos estão em fase de captação.