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Nº 1532 - Ano 32
25.05.2006

Estudo tenta “blindar” recém-nascido
contra transmissão do HIV

Coordenada em Minas pela UFMG, pesquisa testa três tipos de medicamentos em bebês

Kleyson Barbosa

Grupo de Aids Materno-Infantil da Faculdade de Medicina da UFMG participa de estudo internacional multicêntrico que procura avaliar novas formas de prevenção ao HIV em recém-nascidos, filhos de mães portadoras do vírus. A iniciativa testa estratégias para bloquear a transmissão do HIV para bebês de mães que não receberam terapia anti-retroviral durante a gestação. O objetivo é descobrir formas de melhorar a eficácia dessa prevenção.

Trata-se de uma profilaxia pós-exposição (prevenção à qual uma pessoa é submetida após ser exposta a um agente infeccioso) que começa já no primeiro dia de vida do bebê. Atualmente, o tratamento-padrão baseia-se no uso da droga anti-retroviral AZT durante seis semanas. O estudo compara a eficácia desse tratamento com outros dois protocolos alternativos. As terapias testadas pelo estudo já são utilizadas para prevenir a trasmissão do HIV pós-exposição em outras ocorrências e usam combinações de drogas anti-retrovirais. Uma investiga o composto formado pela droga nevirapina e o AZT e a outra, AZT com nelfinavir e 3TC.
Eber Faioli

Jorge Andrade: estudo compara eficácia de três tratamentos

O professor Jorge Andrade Pinto, coordenador do Grupo de Aids Materno-Infantil da Faculdade de Medicina e que está à frente do estudo pela UFMG, explica que normalmente as mulheres grávidas portadoras do HIV são submetidas à retroviral a partir de 14 semanas até o final da gestação. Feito isso, se o parto for conduzido corretamente e a mãe não amamentar o bebê, a taxa de transmissão do HIV da gestante para o recém-nascido não passa de 3%.

“O que ocorre é que há um grupo de mulheres que não se beneficia disso. Ou porque elas estão fora do Sistema de Saúde ou porque não sabiam que estavam infectadas”, explica Jorge Andrade Pinto. São elas o alvo desse estudo internacional.

Rede
O trabalho começou no primeiro semestre de 2004 e integra uma rede nacional de ensaios de prevenção ao vírus da Aids, a HIV Preventions Trials Network (HPTN), que atua na África do Sul, Argentina, Brasil e Estados Unidos. No Brasil, além da UFMG, outros seis centros de pesquisa participam do projeto: Unifesp e USP-Ribeirão Preto (São Paulo), Grupo Hospitalar Conceição (Rio Grande do Sul) e Fiocruz, UFRJ e Hospital dos Servidores do Estado (Rio de Janeiro).

Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o projeto deve atender cerca de 15% das gestantes que chegam às maternidades públicas – percentual correspondente ao número de mulheres que não recebem o tratamento durante o pré-natal. Para detectar gestantes com essas características, a equipe do Grupo de Aids Materno-Infantil da UFMG estabeceu uma rede de informações em maternidades da Região Metropolitana. Identificada uma mulher grávida que não cumpriu rotina pré-natal ou que não fez o teste de HIV, ela é submetida ao exame para verificar se tem o vírus. O resultado sai em dez minutos.

Caso o teste seja positivo e a gestante concorde em aderir ao tratamento, seu bebê entra em um sorteio para escolher a qual dos tratamentos ele será submetido. A equipe da UFMG já avaliou os três tipos de medicação em 20 recém-nascidos. De maio de 2004 a dezembro de 2005, 15.223 mulheres fizem o teste de HIV. Vinte e nove eram soropositivas (0,19%) e 20 permitiram que seus filhos participassem do estudo. Em todo o mundo, a pesquisa pretende testar os tratamentos em 1.700 bebês. Cerca de 650 recém-nascidos já foram avaliados. A expectativa é finalizar a pesquisa em 18 meses.

terapia anti-retroviral Recomendada durante a gravidez, a terapia já seria um tratamento eficiente, uma vez que retarda a progressão da imunodeficiência e restaura a imunidade da mãe.


Pesquisa também avalia dosagem

A UFMG e a Fundação Osvaldo Cruz foram os centros escolhidos pelo consórcio para avaliar a distribuição das drogas no organismo humano, tarefa fundamental para verificar se a dosagem utilizada é adequada. Esse estudo está em fase final e os resultados preliminares já foram apresentados na 13ª Conferência em Retrovírus e Infecções Oportunistas, realizada em Denver, nos Estados Unidos, em fevereiro de 2006.

“Os resultados parciais demonstram que estamos no caminho certo e que a dosagem é adequada”, afirma Jorge Andrade Pinto.



Pesquisa: Estudo clínico randomizado sobre a segurança e eficácia de três esquemas terapêuticos anti-retrovirais neonatais para a prevenção da transmissão do HIV-1 no parto
Unidade: Grupo de Aids
Materno-Infantil da Faculdade de Medicina da UFMG
Coordenação: Jorge Andrade Pinto, professor do departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina
Agente financiador: Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos
Recursos: Cerca de U$ 80 mil