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Nº 1536 - Ano 32
22.06.2006

Grupo gestor negocia entrada de empresas no Parque Tecnológico

Empreendimento vai movimentar R$ 500 milhões
em dez anos

Ana Maria Vieira e Manoella Oliveira

ão logo sejam finalizadas as obras de infra-estrutura do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), em janeiro de 2007, a população, enfim, visualizará os primeiros traços do empreendimento que deverá mudar a face econômica da cidade. Em terreno de 535 mil metros quadrados, cedido pela UFMG na Região Norte da capital, o Parque reunirá laboratórios de pesquisa, empresas nacionais e estrangeiras dedicadas a produzir tecnologias inovadoras, além de serviços de apoio. Tudo isso em convivência harmoniosa com uma extensa reserva ecológica.

Parte desse projeto já é uma realidade. Não se trata, unicamente, da execução das obras de implantação, mas da conclusão de negociações entre comunidade científica, investidores, governos e empresariado para constituir aglomerações em diversas áreas, como meio ambiente, informática, biotecnologia, materiais, automação industrial e nanotecnologia. Para garantir o aporte de investimentos, a direção do empreendimento já iniciou conversações com o BNDES e o BDMG com a finalidade de definir pacote de linhas de financiamento para os condôminos do Parque.

“Por semana, recebemos de cinco a dez empresas interessadas em conhecer o Parque e demonstrar seu desejo de participar do projeto”, informa o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG (Face), Mauro Borges Lemos, presidente do Conselho de Administração do BH-TEC. Ele explica que, devido à restrição de espaço físico e à grande demanda de empresários e cientistas, os gestores deverão adotar critérios rigorosos para selecionar as propostas. “Não importa o tamanho da empresa”, diz o professor. “O critério de entrada é, basicamente, a inovação: daremos preferência a projetos de tecnologias inovadoras”, esclarece.

A mobilização do mercado mineiro em torno do projeto, conforme avaliação de Lemos, é a resposta de uma demanda reprimida na área de serviços tecnológicos. “Cada vez mais, as empresas necessitam dessa modalidade de serviço devido à mudança da matriz de produção industrial em direção à busca intensiva de conhecimento nas suas atividades”, avalia Lemos, ao constatar que a cidade não está equipada para atender a essa demanda. O economista considera que, como a UFMG possui grande acervo de conhecimento científico, é fundamental criar uma ponte entre essa produção e sua aplicação. “Isso não ocorre automaticamente, e o Parque tem o papel de fazer essa mediação”, completa o professor.

Energia renovável
Uma das parcerias de maior repercussão do BH-TEC resultará no Centro de Excelência de Energias Renováveis, núcleo nacional de pesquisa comandado pelas empresas Eletrobras, Furnas, Cemig e pelo departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas (ICEx). Conforme assinala Mauro Lemos, o núcleo terá edifício próprio, com arquitetura high tech. Sua proposta é desenvolver pesquisas específicas no setor, permitir a conexão com redes mundiais de pesquisa em energia renovável e promover treinamentos para recursos humanos de alta qualificação.

Eber Faioli

Obras de infra-estrutura do Parque Tecnológico serão concluídas em janeiro de 2007

Outras negociações, já em fase de conclusão, envolvem as áreas de informática e biotecnologia. Os segmentos são considerados vitais pelos pesquisadores e, novamente aqui, a instalação de empreendimentos deverá se originar da associação entre a Universidade e empresas. “Em termos de aglomeração em alta tecnologia, as duas maiores forças em biotecnologia e informática, em Belo Horizonte, têm como origem os departamentos de pesquisa da UFMG”, lembra Mauro Lemos.

Ele revela que grupo de empresários da área de informática, ligado à Insoft, está finalizando planta arquitetônica de edifício que sediará o chamado Porto Digital, dentro do BH-TEC. O projeto vai reunir incubadora e empresas dedicadas à prestação de serviços e ao desenvolvimento de novos produtos. No setor de biotecnologia, os planos do setor produtivo também são ambiciosos. “As negociações para construção de um edifício ancorado por uma empresa de grande porte nessa área de pesquisa estão bastante avançadas”, afirma o professor. O projeto inicial prevê que ela deverá se coligar a outras 25 empresas do mesmo segmento com o objetivo de intensificar a produção de novos conhecimentos.

O perfil de funcionamento do BH-TEC – estabelecido em torno do desenvolvimento de tecnologia avançada, e não apenas de produtos, como ocorre em distritos industriais convencionais – deverá lançar novas bases para a geração de emprego e renda no Estado. Segundo Lemos, o Parque deverá ser pólo de atração de recursos humanos qualificados e contribuir, a longo prazo, para a instalação de indústrias em outros municípios da Região Metropolitana, como Confins, Contagem e Betim. “Belo Horizonte não possui área física para expandir atividades industriais, sua perspectiva de crescimento está em explorar os acervos de conhecimento produzidos pelos seus centros de pesquisa, incluindo a UFMG”, afirma.

Marcos do projeto

Fevereiro/2002
Conselho Universitário UFMG aprova a realização dos estudos de viabilidade do BH-TEC.

Fevereiro/2003
Liberação dos recursos pela Finep e Fapemig para realização dos estudos.

Fevereiro/2003
Formalização da Comissão Executora e do Núcleo Executivo do Parque Tecnológico.

Agosto a novembro/2003
Realização do concurso público para o plano diretor do empreendimento.

Julho/2004
Aprovação de cessão de uso do terreno pelo Conselho Universitário da UFMG.

Maio/2005
Oficialização da Fundação BH-TEC/Eleição do Conselho de Administração e aprovação do Estatuto.
Junho/2005
Obtenção da licença ambiental prévia.

Setembro/2005
Obtenção do registro em cartório e CNPJ.

Outubro/2005
Obtenção da licença ambiental de
implantação do Parque.

Novembro/2005
Projeto executivo de engenharia das obras de infra-estrutura é concluído e orçado pela PBH.

Dezembro/2005
Lançamento Oficial do BH-TEC.

Fevereiro/2006
Finalização de processo de licitação para
execução das obras de infra-estrutura.

Abril/2006
Início das obras de infra-estrutura.


 

BH-TEC marcará
“reconversão produtiva” da capital

lém das restrições de área para construção de grandes empreendimentos, a Região Metropolitana de Belo Horizonte sofre esgotamento do padrão de crescimento econômico baseado na indústria metal-mecânica. Devido a essa característica,o professor e economista Mauro Borges Lemos considera que o BH-TEC será a âncora de uma reconversão produtiva da cidade, em direção às atividades de alta tecnologia e à diversificação econômica.

Pesquisa realizada pelo próprio Mauro Lemos e pelo professor Clélio Campolina – atual diretor da Face – indica que, após a instalação de atividades industriais leves na década de 1950, a Grande BH assistiu ao crescimento de empreendimentos da área da mecânica, ligada aos setores de metalurgia e de mineração. “Após a vinda da Fiat, esse padrão de desenvolvimento, proporcionado pela indústria metal-mecânica e de produção de bens duráveis, esgotou-se”, afirma Lemos.

Eber Faioli

Lemos: critério de entrada é a inovação


O estudo realizado pelos dois pesquisadores mostra que, nos anos 70, a economia de Belo Horizonte crescia acima da média nacional, mas, a partir de 1985, a tendência se inverteu. De 1999 para cá, houve uma ligeira melhora na curva do crescimento econômico de BH, decorrente, segundo Lemos, da expansão das exportações. “Mas esse quadro não é sustentável por muitos anos”, adverte a o professor, para quem, no entanto, é preciso aproveitar o bom momento para empreender a diversificação da economia da cidade.

O diagnóstico é compartilhado pelo assessor e representante da Prefeitura de Belo Horizonte no Parque, Leonardo Pontes. Otimista, ele acredita que o BH-TEC criará um núcleo produtivo diferenciado na cidade. “É uma aposta estratégica”, defende.

Segundo tempo
Até ser concluído, em dez anos, o BH-TEC terá canalizado investimentos no valor de R$ 500 milhões. O projeto está sendo viabilizado por meio de parceria entre a UFMG, Governo de Minas, Prefeitura de Belo Horizonte, Fiemg e Sebrae. Após a execução das obras de infra-estrutura, – que incluem serviço de terraplenagem, drenagem, canalização e pavimentação do terreno, construção de redes de água e esgoto e de dutos para fiação de iluminação pública e para cabeamento de fibras óticas – está previsto o início da etapa de edificação da área, sob a responsabilidade do governo estadual, com obras orçadas em R$ 6,5 milhões.

Nessa fase, será construído prédio, que contará com centro administrativo, condomínios de empresas e outros equipamentos de apoio às empresas. Outros passos de implantação prevêem a instalação de um DemonCenter – centro de transferência de tecnologia –, de incubadora de empresas, minicentro de conferências, além de expansão dos edifícios.