Busca no site da UFMG

Nº 1536 - Ano 32
22.06.2006

Pesquisa traça retrato sociológico de Belo Horizonte

Coordenado por pesquisadores da UFMG, estudo investiga
temas ligados à segurança, emprego e trabalho

Ana Rita Araújo

m amplo perfil da população residente na Região Metropolitana de Belo Horizonte e suas condições de vida foi apresentado à prefeitura
da capital mineira, no início de junho, por pesquisadores do departamento de Sociologia e Antropologia da Fafich, com a colaboração de especialistas do Departamento de Ciência Política (DCP). Os dados revelam, por exemplo, como a população da cidade usa seu tempo, que estratégias utiliza para conseguir emprego e qual a influência da escolaridade no nível de renda.

Felipe Zig

Neuma Aguiar: adoção de políticas públicas

“Acreditamos que os resultados podem subsidiar a adoção de políticas públicas”, comenta a coordenadora do estudo, professora Neuma Aguiar, que prepara livro a ser publicado pela Editora UFMG, com as análises dos dados. O trabalho, que foi antecedido por uma atividade-piloto e teve seu primeiro módulo em 2002, busca criar instrumento científico de levantamento de dados com o emprego de técnicas de amostragem probabilística, além de estabelecer mecanismo para avaliar a situação social de Belo Horizonte, comparando-a com a de metrópoles do Brasil e de outros países.

A última rodada da pesquisa é parte de projeto de análise comparada realizada simultaneamente na Cidade do Cabo (África do Sul) por pesquisadores da Universidade de Cape Town. Desenvolvida em 2005, foi dividida em módulos que investigaram temas como criminalidade, participação e desigualdade política, justiça distributiva, raça, cor e identidade, valores e identidade de gênero, capital cultural, trabalho, estratificação e características demográficas.

Segurança
A redução de horas de lazer da população, detectada em um dos módulos da pesquisa (leia mais nesta página), está associada não apenas à intensificação do trabalho, mas também à insegurança. Segundo os pesquisadores, independentemente das variações nas taxas de criminalidade, o medo do crime se mantém como constante preocupação da população, o que se reflete em mudanças de comportamento e, particularmente, no uso do espaço público.

Coordenado pela professora Corinne Davis Rodrigues, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), este módulo da pesquisa, restrito ao município de Belo Horizonte, revelou que a sensação de insegurança depende de fatores individuais e contextuais. Mulheres, idosos, minorias e pobres tendem a sentir mais medo. A percepção de risco é relacionada ainda às taxas de crime e a evidências de incivilidades – vandalismo, pixações, festas barulhentas, presença de mendigos, adolescentes arruaceiros, gangues e tráfico – e de abandono e desintegração da máquina urbana.

O estudo apresenta detalhes sobre taxas de insegurança nas nove administrações regionais da Capital. Os resultados da pesquisa sinalizam que o incentivo a ações que valorizem as relações sociais entre vizinhos e a ocupação dos espaços públicos contribuiriam para a redução da sensação de insegurança nos bairros de Belo Horizonte.

Ao analisar a empregabilidade formal do jovem na Grande BH, os pesquisadores Maria Carolina Tomás e Jorge Alexandre Neves abordaram os contrastes entre herança familiar e escolaridade, a estrutura do mercado de trabalho em relação a atributos pessoais como sexo, cor e idade, além de aspectos como o dualismo entre mercado formal e informal.

Mulheres ainda reinam no lar

Embora trabalhem tanto quanto os homens, as mulheres ocupam uma parte menor do seu tempo com serviços remunerados. Além disso, têm menos momentos de lazer e maior participação social e em atividades de estudo. A pesquisa, feita por amostragem probabilística, comparou os usos do tempo na capital mineira com levantamento semelhante realizado no Rio de Janeiro há três décadas.

Entre os dados encontrados, destacam-se a redução do tempo dedicado ao lazer e o aumento da jornada de trabalho, ampliada pela média de duas horas diárias usadas no deslocamento (ida e volta) entre a residência e o local de trabalho.

A pesquisa revela que o trabalho doméstico continua sendo realizado quase exclusivamente pelas mulheres, que somam tais tarefas à sua já prolongada jornada remunerada. Elas dedicam, em média, 158 minutos às tarefas do lar, quase cinco vezes mais que o tempo dispensado pelos homens à mesma finalidade. Já o cuidado com as crianças ocupa 35 minutos diários das mulheres, e apenas seis minutos dos homens. Outro item que se destaca é a média diária de minutos utilizada com cuidados pessoais – sono, higiene e alimentação –, que não difere muito entre os sexos. Enquanto o homem ocupa 618 minutos com estas atividades, a mulher gasta 621 minutos.

“Estamos apresentando os dados. Quem sabe as entidades ligadas aos direitos da mulher não decidem fazer propostas de negociação das tarefas domésticas?”, sugere Neuma Aguiar.

 

Projeto: Pesquisa da Região Metropolitana de Belo Horizonte
Realização: Professores dos departamentos de Sociologia e Antropologia e de Ciência Política da Fafich.
Coordenação-geral: professora Neuma Aguiar
Financiamento: CNPq, Pronex (Parceria CNPq-Fapemig), fundações Tinker e
Ford e Programa de Aperfeiçoamento Discente da UFMG