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Nº 1536 - Ano 32
22.06.2006

Literatura brasileira, uma ilustre desconhecida
na América Latina

Diana Carolina Diaz López*

literatura é parte essencial da existência de um povo. Assim, não existe um país sem produção literária, e por menos expressivos que sejam, sempre há registros escritos. Com isso, a maioria dos habitantes de um pais conhece sua literatura e avalia que as produções estrangeiras são piores ou iguais à sua própria produção, mas o que há de certo nesse pensamento? A questão aqui é determinar, dentro da própria literatura, a importância da produção estrangeira. Abordando especificamente a literatura latino-americana, pode-se dizer que as semelhanças são enormes, tomando como fato principal que o descobrimento desta parte do continente americano foi obra de dois países com uma história em comum: Portugal e Espanha. Mas então por que a literatura brasileira chega a ser quase um mistério para os
países que o cercam?

A literatura ensinada em cursos de graduação e pós-graduação é aquela reconhecida no cânone ocidental, que confere pouca importância à criação latino-americana, tendo em vista que o espanhol e o português não são consideradas línguas de história literária. Além disso, são poucos os que procuram aprender as coisas das quais não se têm muita referência. Há um interesse em saber mais sobre o que já é conhecido – para assim aproveitar melhor as conversas comuns entre literatos – do que aquilo que possa trazer inovações, pois não representam aspectos de interesse geral.

Dentro da literatura colombiana, argentina e até mexicana, sempre existem pontos em comum quanto ao início dos períodos literários. É o caso, por exemplo, dos primeiros registros literários em que se inserem as crônicas de índios, que no Brasil são representadas pela literatura de informação ou de expansão: A carta, de Pedro Vaz de Caminha, e O diário de navegação, de Pedro Lopes de Souza, são alguns exemplos. Da mesma maneira, se comparássemos os outros movimentos literários, concluiríamos que a criação literária brasileira não está tão distante do resto da América Latina.

Todos esses anos de estudo sobre produções de literatura estrangeira ainda não me permitiram dimensionar a real relevância e riqueza da produção literária do Brasil. Não sou brasileira, mas sempre tive grande curiosidade em conhecer mais a literatura do país, reduzida no continente latino-americano a nomes famosos como Machado de Assis e Jorge Amado. Há autores excepcionais absolutamente desconhecidos em nosso continente, mas suas obras são de difícil acesso fora do Brasil.

Os cursos de literatura ignoram as próprias raízes ao cumprir as ordens do cânone, segundo o qual o estudante precisa conhecer primeiro a produção estrangeira ocidental para só depois mergulhar no universo de sua própria cultura. Se nós, estudantes universitários e professores, acreditarmos na importância da literatura brasileira e na sua divulgação em nações vizinhas, ela talvez ganhará mais relevância no contexto dos estudos latino-americanos. A barreira da língua não pode ser apresentada como um pretexto para impedir que a literatura brasileira – da Carta de Caminha até as produções contemporâneas – sejam difundidas de forma didática e veemente.

Pessoalmente, levarei ao meu país o maravilhoso universo brasileiro imerso nas suas letras, demostrando que, na América Latina, sem distinção de língua, há uma produção literária de excelência e uma grande semelhança de temas que nos fazem acreditar que pertencemos, de fato, a um mesmo continente.

*Estudante de Letras da Universidade Pedagógica Nacional, em Bogotá, Diana Carolina Diaz López se diz apaixonada pelo Brasil e, em especial, pela língua portuguesa. Em fevereiro deste ano, trancou sua matrícula em Bogotá e veio para o Brasil cursar Português para estrangeiros no Centro de Extensão da Faculdade de Letras. Aqui, descobriu que poderia fazer matéria isolada e não perdeu tempo: matriculou-se numa disciplina de Literatura Brasileira. Carolina é uma pesquisadora de publicações universitárias e se interessou pelo BOLETIM e por revistas que circulam no âmbito da Universidade, o que a estimulou escrever este artigo sobre a importância da literatura brasileira. “Estou feliz demais aqui”, garante, para depois emendar, com uma ponta de pesar. “Mas tenho que voltar para Colômbia para me formar”.

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