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Nº 1538 - Ano 32
06.07.2006

O herbário de 100 mil amostras

Marca dá nova dimensão ao Herbário da UFMG, criado em 1969

Manoella Oliveira

té o ano de 1980, eram apenas 1.338 amostras restritas a plantas medicinais e a alguns itens vindos da Faculdade de Farmácia de Ouro Preto. Vinte e seis anos depois, o herbário da UFMG, conhecido pela sigla BHCB, ultrapassa 100 mil espécimens de plantas secas, que representam cerca de 15 mil árvores, arbustos e ervas nacionais e estrangeiras.

“O marco de 100 mil é importante porque nos reposiciona no cenário nacional. Apenas 10% dos herbários do Brasil atingiram esse patamar”, afirma o professor Alexandre Salino, curador do BHCB. Localizado no Instituto de Ciências Biológicas (ICB), o BHCB é hoje o maior do Estado, seguido de longe pelo herbário da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), que abriga 48 mil amostras de espécies.
Eber Faioli

Alexandre Salino: herbário revela diversidade da flora mineira

O herbário está focado nas coleções dos biomas existentes do Estado – cerrado, caatinga e mata atlântica –, mas abriga também exemplares de todos os tipos de vegetação brasileira, inclusive de ambientes extintos. Cerca de 90% dessas amostras foram recolhidas pelo Laboratório de Sistemática, do departamento de Botânica.

O número de registros de espécimens do BHCB deu um salto a partir da década de 1980. Isso foi possível graças à adoção de projetos de levantamento florístico e fitossociológico em Minas Gerais. “A coleta está vinculada a projetos de alunos e estudantes da Universidade voltada principalmente para flora mineira, que é muito rica e ainda desconhecida: observamos a ocorrência de espécies, sua quantidade, suas variações. Mas também estamos atentos a áreas pouco exploradas”, explica o professor.

No Brasil, há cerca de 150 herbários, dos quais 87 indexados internacionalmente, entre eles, o da UFMG. O BHCB ocupa a décima-quinta posição no ranking nacional em número de amostras. Desde 2003, é credenciado como Fiel Depositário do Patrimônio Genético, junto ao Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Pesquisa
Os 30 pesquisadores do Herbário desenvolvem projetos com a flora mineira e, em menor escala, com a vegetação do estado de São Paulo. O laboratório também trabalha com buscas isoladas por todo o país e projetos direcionados – não raro em parceria com outras instituições – a unidades de conservação, como parques nacionais, estaduais e reservas particulares de patrimônio natural.

O Herbário representa fonte de dados de pesquisa para diversas áreas, por isso demanda registro permanente de variedades de espécies vegetais e buscas freqüentes. Um exemplo é o projeto financiado pelo Ministério do Meio Ambiente que levou pesquisadores à bacia do Jequitinhonha. Nessa região, foram coletadas mais de 1.300 vegetais, catalogadas dez novas espécies e registradas 35 vegetais de ocorrência desconhecida em Minas, das quais uma não se sabia da existência no Brasil.

“O acervo é atualizado não apenas pelas nossas buscas, mas recebemos doações e realizamos empréstimos com instituições de pesquisa do país, da Europa e das Américas”, diz Salino.

As permutas chegaram a ser suspensas provisoriamente em 2005 porque o espaço destinado ao Herbário, uma sala de cem metros quadrados, se mostrava insuficiente para armazenamento do material. Salino explica que, considerando o ritmo de crescimento da quantidade de amostras, o Herbário precisaria dispor, nos próximos cinco anos, de instalações com o dobro da área atual. A Universidade já reservou espaço para a construção das novas instalações, para as quais existe projeto arquitetônico elaborado pelo Departamento de Planejamento Físico e Obras (DPFO).

Histórico
Criado em 1969, o BHCB foi concebido para armazenar coleção regional de espécimens vegetais preservados para servir como fonte a instituições de pesquisa em diversas áreas. A partir de 1994, uma parceria com o Departamento de Química, a Faculdade de Farmácia, e Fiocruz/Belo Horizonte criou projeto de bioprospecção da flora do Estado para desenvolvimento de novos medicamentos. O trabalho é de referência nacional.

Em 2002, a incorporação da coleção de plantas do Herbário do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG permitiu o aumento do acervo em mais de 10 mil espécimens coletadas no início do século XX. Eles registram a distribuição da ocorrência de espécies vegetais em áreas hoje urbanizadas.

O BHCB é uma coleção de referência para projetos de ecologia, conservação e manejo de áreas de mata atlântica, campo rupestre, cerrado e caatinga em Minas Gerais. Seu acervo também embasa projetos de recuperação de vegetação de áreas degradadas de mata ciliar e campo rupestre.

Levantamento florístico e fitossociológico - levantamento que busca quantificar a composição florística, estrutura, funcionamento, dinâmica e distribuição de uma determinada vegetação.