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Nº 1545 - Ano 32
28.08.2006

O fantástico mundo de Éolo Maia

Livro de arquiteto belo-horizontino destrincha obra de um dos mestres da arquitetura pós-moderna

Miguel Arcanjo Prado

s construções desse arquiteto ouro-pretano chamam a atenção de quem passa diante delas. Muitas vezes, parecem saídas de um mundo fantástico e brincam, sem nenhum pudor, com a forma das coisas. Elas são resultado do trabalho inventivo de um dos maiores nomes da arquitetura pós-moderna brasileira: Éolo Maia, morto em setembro de 2002, aos 60 anos. Meses após a morte de Maia, um jovem arquiteto belo-horizontino resolveu destrinchar a obra do mestre, em uma dissertação de mestrado, defendida na Escola de Arquitetura da UFMG, em 2004.


Condomínio Barca do Sol, em Belo Horizonte, projetado por Éolo Maia

O resultado da pesquisa de Bruno Santa Cecília, 29 anos, deu origem ao livro Éolo Maia: complexidade e contradição na arquitetura brasileira, lançado pela Editora UFMG com o patrocínio da Usiminas e apoio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.

Bruno conta que o interesse inicial era pesquisar a obra de um arquiteto brasileiro. Se fosse mineiro, melhor ainda. Logo concluiu que a saída era debruçar-se sobre a obra de Maia, com quem havia trabalhado por seis meses na Escola de Arquitetura da Fumec. “Há poucos registros da obra dos nossos arquitetos. O Éolo foi uma escolha natural. Além de ser um grande nome, tivemos um contato muito próximo. Tomávamos cerveja juntos e ele freqüentava o escritório do qual sou sócio”, revela.

Imersão
O autor enfrentou dois anos de pesquisa bibliográfica e análise da produção do arquiteto. Ele contou com ajuda de amigos e de colaboradores de Éolo Maia, que cederam projetos originais e textos escritos pelo arquiteto. Bruno redesenhou cada construção que demandaria análise mais minuciosa em sua pesquisa. Foi a forma que encontrou para entrar no mundo criativo de Maia.

No livro, são apresentados aspectos gerais da obra, com foco em quatro atributos da Arquitetura: a relação com o lugar, o conteúdo técnico-construtivo da obra, a solução das demandas de uso e o tratamento plástico dado ao edifício.

O autor também analisou quatro importantes construções do arquiteto: o Hotel Verdes Mares, em Ouro Branco, na região central de Minas; o condomínio Barca do Sol, no bairro da Serra, em Belo Horizonte; a Capela de Santana do Pé do Morro, também em Ouro Branco, e o Centro de Apoio Turístico Tancredo Neves, o Rainha da Sucata, na Praça da Liberdade. “Éolo Maia iniciou sua carreira com uma produção orientada por idéias da arquitetura moderna e caminhou em direção a uma obra mais livre”, diz Bruno Santa Cecília. Para o arquiteto, Éolo foi um dos responsáveis pela inauguração do pós-modernismo em Minas e no Brasil. “Ele não teve medo de fazer experimentações formais e plásticas, descompromissadas de qualquer corrente”, afirma.

O desprendimento de Maia das amarras modernistas acabou por originar prédios nos quais, muitas vezes, a fachada em nada antecipa o interior. As raízes do arquiteto, nascido na mais importante cidade histórica mineira, também aparecem na obra, ainda que sutilmente. “Na segunda fase de sua carreira, ele usa elementos da arquitetura barroca de Ouro Preto, como referências a fontes, arcadas, chafarizes e torres. Além disso, suas construções se destacam na paisagem, da mesma forma que as igrejas chamam a atenção no cenário de Ouro Preto”, afirma. Apesar de não seguir em seu trabalho a linha arquitetônica criada por Maia, Bruno Santa Cecília ressalta um grande mérito do mestre. “Todos os seus prédios despertam reações. Diante de uma construção assinada por Éolo, as pessoas sempre se posicionam de forma crítica. Suas criações estenderam o debate arquitetônico da academia para as ruas”.

Livro: Éolo Maia: complexidade e
contradição na arquitetura brasileira

Autor: Bruno Santa Cecília
Edição: Editora UFMG
Páginas: 206
Vendas: Livraria UFMG (3499-4561
e 3218-9346)