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Nº 1545 - Ano 32
28.08.2006

Pesquisa aperfeiçoa resina odontológica

Método desenvolvido por professora da UFMG representa um
avanço nos estudos que começaram há mais de 40 anos

Maurício Guilherme Silva Jr.

ara restaurar regiões da arcada atingidas pelas cáries, os dentistas costumam utilizar, em seus pacientes, a chamada resina composta, desenvolvida, em 1965, por Rafael Lee Bowen. O material, que à época revolucionou a área odontológica, é empregado nas reparações estéticas por ter a mesma cor e translucidez dos dentes humanos. Apesar dos pontos positivos, apresenta um inconveniente: ele se contrai na boca do paciente assim que é realizado o chamado processo de polimerização. O fenômeno compromete a vida útil da resina, deixa fendas que facilitam a infiltração de bactérias e toxinas e torna necessária a utilização de “sistemas” adesivos.

Como forma de diminuir a “tensão residual de polimerização” da resina, e, conseqüentemente, aumentar sua vida útil, a professora Maria Antonieta Siqueira Moraes, do departamento de Odontologia Restauradora da Faculdade de Odontologia, realizou pesquisa baseada na tecnologia do polietileno de alto impacto, utilizado em boxes de banheiros e janelas de avião. A investigação, que apresentou resultados inéditos, culminou com seu doutorado apresentado no curso de pós-graduação em Engenharia Metalúrgica e de Minas da UFMG.

Os restauradores dentários utilizados há décadas, em diversas reparações estéticas, baseiam-se no monômero bis-GMA, o dimetacrilato sintetizado e patenteado por Bowen em 1962. Ele nasceu da junção de uma resina acrílica com uma epóxica, formando um “sistema” intitulado resina composta, utilizada até os dias de hoje. O material é caracterizado pelas fases polimérica – cujo monômero principal é o bis-GMA –, inorgânica, em que são inseridas partículas de vidro, quartzo e/ou sílica fundida e, por fim, o acréscimo de um agente de ligação, capaz de unir quimicamente as outras duas etapas.

“Com o tempo, houve evolução dos procedimentos. Mas o problema da contração da resina permaneceu”, explica Maria Antonieta. Ao longo das últimas décadas, muitos pesquisadores buscaram formas de minimizar este fenômeno, e, conseqüentemente, tornar mais duradoura a resina composta. Em seu doutorado, Maria Antonieta procurou incorporar à resina de Bowen um polímero de alto impacto no estado de borracha.

A pesquisadora buscava formas de absorção da tensão residual de polimerização, o que, automaticamente, poderia aumentar a longevidade do material. Com esse intuito, sintetizou uma resina experimental, também constituída por três fases: orgânica, inorgânica e interfacial – esta última representada por uma substância química, o silano organo-funcional.

No momento da polimerização da resina composta, diferentemente do que sempre aconteceu no processo criado por Bowen, o sistema passou a fornecer meios de absorção da tensão residual. Além disso, a resina não perdeu resistência. O resultado e o método são inéditos, o que levou Maria Antonieta a protocolar o pedido de patenteamento, em junho deste ano. “A descoberta, futuramente, deve interessar à indústria”,prevê.

Testes
Para examinar a resina sintetizada experimentalmente, Maria Antonieta e seu orientador, professor Rodrigo Oréfice, realizaram testes de microscopia eletrônica de varredura, calorimetria diferencial e espectrometria no infra-vermelho. Além disso, a pesquisadora precisou fazer adaptações numa máquina de ensaio universal, que pertence à Escola de Engenharia. “A partir das avaliações, pudemos perceber que demos mais um passo na pesquisa de durabilidade das resinas compostas”, diz a professora.

resina composta - Polímero é uma substância constituída de moléculas caracterizadas pela repetição de uma ou mais espécies de átomos ou grupos de átomos ligados uns aos outros. No estado de borracha, o material apresenta resposta elástica instantânea.

 

Doutorado: Desenvolvimento e análise de compósitos à base de bis-GMA modificados com polímero no estado de borracha
Autora: Maria Antonieta Siqueira Moraes
Orientação: professor Rodrigo Lambert Oréfice
Defesa: 17 de junho de 2005,
dentro do curso de Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica e Minas
da UFMG
Patente: processo protocolado em junho de 2006, sob o título
Compósitos modificados com polímero no estado da borracha – seus procedimentos de preparação e usos