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Nº 1553 - Ano 33
23.10.2006

Mistura fina

Melhoria na infra-estrutura de laboratórios de análise de combustíveis deve incrementar produção mineira de biodiesel

Ana Maria Vieira

ubstituir o diesel de petróleo pelo biodiesel nos ônibus que circulam em Belo Horizonte é projeto arrojado que, certamente, beneficiaria o meio ambiente e a qualidade de vida da população. Pois é exatamente isso que está em curso, conforme consta em projeto apresentado à UFMG e ao Estado por equipe da BH-Trans. A proposta deverá ser viabilizada com a venda de créditos de carbono, que os ônibus mineiros deixarão de lançar na atmosfera, para empresas japonesas do Japão, país signatário do Protocolo de Kyoto.
Foca Lisboa

No plano técnico, o projeto poderia permanecer no papel, uma vez que o Estado ainda não conta com laboratório credenciado para certificar a qualidade do biodiesel. De acordo com legislação federal, o produto só pode ser comercializado após obter laudo que ateste sua conformidade com características físico-químicas estabelecidas pela Agência Nacional de Petróleo (ANP).

Além da proposta da BH-Trans, outras iniciativas do setor produtivo poderão agora tornar-se realidade, com a aquisição de equipamentos, no valor aproximado de R$ 1 milhão, para dois laboratórios considerados referência na área de combustíveis: um da UFMG, outro da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec). Termo de outorga assinado no início de outubro, entre o reitor Ronaldo Pena, o diretor do Cetec, Caio Nelson Lemos de Carvalho, e o secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino superior, Paulo Kleber Duarte Pereira vai possibilitar o trabalho comum entre ambos os laboratórios. O financiamento é da Fapemig.

“Temos demanda reprimida nesse segmento, pois não adianta produzir se os produtores não dispuserem de um laudo técnico atestando a qualidade do combustível”, diz a professora Vânya Pasa, coordenadora do Laboratório de Ensaios de Combustíveis (LEC), instalado no departamento de Química do ICEx. Ela relata que a Instituição recebe inúmeras consultas de produtores mineiros, interessados na oferta do serviço, mas as instalações disponíveis nos dois laboratórios não são suficientes para realizar a certificação. O processo é normatizado por resolução da ANP, que exige a análise de 26 características do biodiesel.

Para identificar cada um desses parâmetros é necessário recorrer a metodologias previamente especificadas pelo órgão federal, além de equipamentos sofisticados. Com o financiamento da Fapemig, a UFMG deverá adquirir pelo menos seis novos equipamentos, por meio dos quais será possível caracterizar oito parâmetros estabelecidos pela ANP. Atualmente, encontram-se em fase de instalação equipamentos e procedimentos para atender a nove ensaios. O laboratório já realiza análise de outros nove itens.

Qualidade
Estimativa apresentada no projeto de ampliação da infra-estrutura dos dois laboratórios revela que, caso um produtor quisesse investir nessa modalidade de instalação, desembolsaria mais de R$ 2,5 milhões. Além de reduzir custos para os produtores, o investimento realizado na UFMG e no Cetec permitirá atender a demandas do Estado e de outras regiões. Desde 2000, os dois laboratórios integram a rede da ANP de certificação de qualidade de gasolina, álcool e diesel. O trabalho dos laboratórios também identificará a qualidade da matéria-prima utilizada na produção do biodiesel.

A oferta do serviço é considerada estratégica, uma vez que, a partir de 2008, todo o diesel de petróleo comercializado no país deverá conter, pelo menos, 2% de biodiesel. Em 2013, o percentual aumentará para 5%. O objetivo do programa é reduzir a emissão de partículas poluentes na atmosfera, garantir preços competitivos, qualidade e suprimento do combustível e estimular sua produção a partir de oleaginosas existentes no país.

Em Minas Gerais, a capacidade de produção em seis unidades industriais já instaladas – e em implantação –, é avaliada em torno de 49 milhões de litros ao ano. Um dos pólos importantes de produção de biodiesel deverá ser Montes Claros, com o investimento, pela Petrobras, de US$ 20 milhões em nova usina.

Parceria com Cetec “divide” Estado

No Laboratório de Ensaio de Combustíveis (LEC) da UFMG, o mapa de Minas Gerais foi reinventado. A leste, a administração é da Universidade, enquanto, a oeste, a responsabilidade cabe ao Cetec. Não se trata de nova versão do Tratado de Tordesilhas, mas de bem sucedido projeto de parceria entre os dois grupos para realizar o trabalho de monitoramento de qualidade de combustíveis no Estado.

A demarcação de território orienta apenas a responsabilidade de cada um com a origem das amostras, colhidas em mais de 1.900 postos revendedores. Juntos, os dois laboratórios poderão analisar pelo menos duas mil amostras por mês, realizando cerca de 12 ensaios.

O LEC promove treinamentos gratuitos sobre caracterização de combustíveis, adulterações e riscos ambientais para o Corpo de Bombeiros, Procon e Secretaria Estadual da Fazenda. Outro trabalho de destaque dos dois laboratórios é a análise de amostras oriundas da ação fiscalizadora desses órgãos, além daquelas provenientes de delegacias e do Ministério Público.

Instalado em prédio próprio, no campus Pampulha, o LEC é certificado pela normas ISO 9001:2000 – sistema de gestão da qualidade – e ISO/IEC 17025:2001 para sete modalidades de ensaios. A prestação de serviço, contudo, não é a única linha de trabalho do órgão. “Nossa missão inclui desenvolver metodologias de análises e novos produtos, além de formar recursos humanos”, ressalta Vânya Pasa. Desde a criação do Laboratório, seus profissionais já orientaram sete dissertações de mestrado. Entre as seis teses de doutorado em andamento, quatro versam sobre o biodiesel.