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Nº 1553 - Ano 33
23.10.2006

Brasil enfrenta desafio
de transformar conhecimento em inovação

A ampliação dos instrumentos de divulgação científica também foi discutida em mesa-redonda no ICB

Manoella Oliveira

os últimos dez anos, o corpo de mestres e doutores no Brasil tri- plicou, o que também elevou o volume da produção científica brasileira. De acordo com Mário Neto, diretor-científico da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), o país apresenta bom desempenho na realização de pesquisa e produção de conhecimento. Mas há uma fragilidade: transformar esse saber em produtos para a sociedade.

A opinião é compartilhada pelo pró-reitor de Pesquisa, Carlos Alberto Pereira Tavares. “O país publicou, em 2005, 15.700 artigos indexados internacionalmente, o que é um patamar significativo. O problema é transformar esse conhecimento em inovação tecnológica”, resumiu o pró-reitor.

A distância entre o conhecimento gerado nas instituições de pesquisa e o que efetivamente vira produto foi discutida durante a mesa-redonda A divulgação científica, como retorno à sociedade, de investimentos públicos em ciência, parte do evento Ciência em Pauta, realizado dia 17 último, no Instituto de Ciências Biológicas (ICB). Além do diretor da Fapemig, a mesa-redonda contou com a participação da pesquisadora Flávia Natércia, do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp. A mediadora foi a professora Maria Céres Pimenta Spínola Castro, diretora do Centro de Comunicação (Cedecom).

Para o diretor da Fapemig, a causa desse gargalo reside no fato de que, no Brasil, apenas 1% das patentes vira produto. Além disso, são as empresas internacionais instaladas no Brasil que detêm a maior parte das patentes registradas em território brasileiro, numa proporção de quatro para uma.

Novo dilema
Outro aspecto debatido na mesa-redonda foi a necessidade de divulgar melhor as pesquisas desenvolvidas no país, até porque são custeadas por dinheiro público. “A população bem informada certamente vai apoiar e entender o apoio do governo às instituições de pesquisa”, lembrou a pró-reitora Elizabeth Ribeiro, na abertura dos trabalhos.

No século 19, o acesso à pesquisa era possibilitado pelos próprios cientistas, que faziam palestras para leigos. Em tempos de produção volumosa, essa prática já não é mais suficiente, e a divulgação da ciência foi incorporada pelos meios de comunicação de massa. Essa realidade traz um dilema: por um lado, os cientistas temem que os jornalistas deturpem o conteúdo de suas pesquisas, já que esses profissionais não têm formação em ciência. Por outro, a linguagem dos pesquisadores ao discorrer sobre seu trabalho, muitas vezes, não é suficientemente clara para os leigos.

Esse aspecto norteou a exposição de Flávia Natércia, pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp. Ela observa que, na tentativa de facilitar a compreensão do público ou por desconhecimento, os jornalistas acabam por generalizar algumas expressões, como “clonagem humana” sem especificar se a prática é para fins terapêuticos ou reprodutivos. “O termo é associado genericamente à reprodução de indivíduos em série, mas o significado nem sempre é esse. As pessoas precisam estar bem informadas para compreender as aplicações da ciência e até contestá-las”, defendeu.

ICB quer estimular a divulgação da ciência

Reunir as diversas iniciativas de divulgação científica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) é a proposta defendida pela professora Janetti Nogueira de Francischini, que organizou o evento Ciência em Pauta, realizado no último dia 17. “Já não dá mais para trabalhar tanto com pesquisa, e a sociedade ter tão pouca notícia do que aqui é produzido”, afirma a professora.

Segundo ela, a realização de duas mesas-redondas com a presença de jornalistas, professores e dirigentes de agências públicas de fomento à pesquisa teve por objetivo reunir os envolvidos com o tema e congregar esforços para a criação de um núcleo que englobe as iniciativas já em funcionamento e estimule novas atividades.

Janetti Nogueira cita, entre as experiências de sucesso do ICB na divulgação do conhecimento científico para o público leigo, o Museu de Ciências Morfológicas, que produz conhecimento a partir do contato com o público, e o projeto Na onda da vida, série de programas radiofônicos coordenada pelas professoras Adlane Vilas Boas e Débora D´Ávila Reis. Em formato de “pílula”, com duração de dois a três minutos, cada programa é veiculado duas vezes por dia durante a programação da Rádio UFMG Educativa.

Outra iniciativa de destaque, coordenada pelo professor Paulo Sérgio Lacerda Beirão, o UFMG & escolas mostra, a alunos e professores da rede de ensino da Região Metropolitana, como é produzida a ciência. Já o professor Sérgio Danilo Pena escreve a coluna Deriva Genética para a publicação Ciência hoje on line.

A diretora do ICB, professora Maria Cristina Castro, comenta que o Instituto possui cerca de 130 laboratórios, 600 alunos em seus 10 cursos de pós-graduação, e cerca de outros mil estudantes de graduação envolvidos em atividades de laboratórios de iniciação científica. “Entretanto, sabemos muito pouco o que nossos colegas estão fazendo”, afirma. A diretora também defende a criação de núcleo no ICB que reúna as iniciativas.