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Nº 1558 - Ano 33
27.11.2006

Uma engrenagem chamada Vestibular

Cerca de oito mil pessoas trabalham para garantir segurança máxima ao concurso da UFMG

Maurício Guilherme Silva Jr.

aquele espaço de 600 metros quadrados, o visitante, devidamente identificado e credenciado, tem a oportunidade de compreender, com os próprios olhos, as dimensões do maior concurso universitário de Minas Gerais. Ao transpor a porta do almoxarifado mantido pela Comissão Permanente do Vestibular (Copeve), o que se encontra é um ambiente de números superlativos.

Foca Lisboa

Sala de aplicação de provas do Vestibular da UFMG, o mais concorrido de Minas Gerais

Em outubro passado, quando este repórter teve acesso ao local, já havia lá milhares de objetos, criteriosamente organizados para a realização do Vestibular 2007 da UFMG, cuja primeira etapa, que acontece neste sábado e domingo, 2 e 3 de dezembro, reunirá 62.883 candidatos em 13 cidades mineiras.

No almoxarifado sob gestão da Copeve, são armazenados, embalados e identificados objetos diversos, importantes para a manutenção da tranqüilidade, eficácia e segurança do Vestibular da UFMG. Do local, saem os “pacotes”, criteriosamente preenchidos com produtos como material de escritório, biscoito e água, destinados a cada um dos 200 setores onde os candidatos realizam as provas da primeira etapa. Lá também são armazenadas peças de reposição, como lâmpadas, para que, durante o exame, nada fique “fora do lugar”.

Desde sua primeira edição, em 1970, o Vestibular da UFMG enfrenta diferentes desafios. “Nos primeiros anos, buscava-se revelar para a comunidade universitária a necessidade de unificação do processo de ingresso à UFMG. Hoje, vivemos a era da segurança”, ressalta o professor Marcus Vinicius de Freitas, coordenador-geral do Vestibular.

A idéia de segurança, contudo, não se restringe à vigilância contra fraudes. “Tornar seguro o processo de elaboração do Vestibular significa também evitar a ocorrência de eventos incomuns durante o exame. Há mais de 10 anos não identificamos anormalidades”, explica Marcus Vinicius.

Big Brother
O Vestibular da UFMG funciona como um permanente “Big Brother”. Todas as atividades, na sede da Copeve e em outros setores estratégicos, como a Imprensa Universitária, são monitoradas por câmeras, ligadas 24 horas por dia: “As luzes da Copeve não se apagam nunca”, completa o coordenador.

Os procedimentos de segurança dividem-se em várias vertentes. Depois de elaboradas e diagramadas (veja boxe), as provas seguem para um cofre de dimensões cinematográficas. Trata-se de “caixa de metal”, também filmada ininterruptamente, com cerca de 100 metros quadrados de área. Tais ações preventivas são complementadas ao longo do concurso, o que inclui a identificação dos candidatos a partir de suas digitais, utilização de detectores de metais, atividades com auxílio policial, organização dos cadernos de exame e divisão de pessoas por setor.

Nos dias que antecedem a realização do concurso, outras ações preventivas são postas em prática. No trajeto até as 12 cidades do interior, por exemplo, os pacotes com as provas “viajam” acompanhados por profissionais das polícias Militar e Federal, além de vigilantes da própria UFMG. “Estudamos os melhores roteiros e monitoramos o tempo de entrega das provas. Além disso, os carros que levam os pacotes têm ordem pré-definida para sair”, conta Marcus Vinicius.

Trabalho coletivo
O Vestibular da UFMG também é capaz de unir e mobilizar a comunidade universitária. Na edição 2007 do concurso, estão envolvidas aproximadamente oito mil pessoas, entre estudantes, professores e servidores da Instituição. Na Copeve, atuam cerca de 30 profissionais, responsáveis pela coordenação das atividades de outros 300 chefes e sub-chefes de setor. Todo o sistema é gerenciado por quatro grandes áreas de trabalho: coordenadorias geral, operacional, de aplicação de provas e de segurança.

Encarregada de questões acadêmicas e da interface com a sociedade, a coordenadoria geral “pensa” o Vestibular da Instituição em parceria com o Conselho Universitário. “Essa coordenadoria que coloca a ‘máquina’ para andar”, comenta Marcus Vinicius. Também a cargo da área ficam a administração do Programa de Isenção da Taxa do Vestibular e as atividades de secretaria, informática e estatística.

Já a coordenação adjunta, sob o comando do professor Antônio Zumpano, encarrega-se das compras e outras questões financeiras. O Vestibular 2007 está orçado em R$ 7 milhões. “O alto custo se justifica pelo grau de rigor e segurança envolvido em todas as etapas do processo, ao longo do ano”, justifica Marcus Vinicius.

Cuidar das questões de infra-estrutura, como alimentação, transporte, limpeza e atendimento médico, é atribuição do setor operacional. Seus profissionais mantêm-se em contato permanente com a Coordenadoria de Ação Comunitária (CAC) e o Departamento de Serviços Gerais (DSG), ambos da UFMG, e com a Polícia Federal e a BH-Trans.

Já a coordenadoria de aplicação é responsável pelos processos que garantirão que, no momento exato, as provas estejam nas mãos dos candidatos. A área também define chefes e sub-chefes de setor e realiza visitas a todas as salas de exame, em Belo Horizonte e nas outras 12 cidades mineiras. “Os lugares onde serão aplicadas as provas são medidos e descritos detalhadamente. A partir daí, realizamos planos de identificação de todas as cadeiras a serem ocupadas pelos candidatos”, explica.

Por fim, o cuidado com a impressão das provas e o controle dos processos ficam a cargo da coordenadoria de segurança. “Os profissionais dessa área mantêm-se antenados ao que há de mais moderno no mundo. Eles sempre participam de feiras onde são apresentados novos equipamentos de segurança”, comenta.

Durante a realização do Vestibular, uma série de atividades de apoio são requeridas pela Copeve. Para que as provas sigam tranqüilas, ficam de plantão, durante a primeira e segunda etapas, especialistas em áreas verdes, médicos, técnicos em mecânica, elétrica e procuradores jurídicos. Além deles, integrantes da comissão responsável pela elaboração de provas estão atentos a possíveis dúvidas sobre as questões do exame.

Outra área importante, o trânsito é previamente “analisado” pela Copeve em parceria com a BH Trans. Nos dias de concurso, além de ônibus extras, os técnicos da empresa realizam mudanças de trajeto e alterações no fluxo do tráfego. “Nunca um candidato deixou de fazer as provas do Vestibular em conseqüência do trânsito”, destaca o professor Marcus Vinícius.

Candidatos especiais
A idéia de democratização do acesso, além de estratégias de ampliação do ingresso à Universidade, passa também pela necessidade de garantir as mesmas oportunidades a todos. Neste ponto, ao longo dos anos, a UFMG tem aprimorado o seu atendimento a portadores de necessidades especiais. Os candidatos com algum tipo de deficiência física realizam exame pericial prévio. Identificadas as demandas, eles fazem as provas em setores específicos, com acompanhamento de profissionais especializados.

Quase o ano todo

Para que sejam aplicadas em dezembro, as provas do Vestibular precisam chegar à Imprensa Universitária no mês anterior. Conseqüentemente, nos meses de agosto e setembro todo o trabalho de diagramação das páginas deve estar concluído. Como é inevitável que se diagrame textos corretos, o prazo de revisão – pedagógica e gramatical – encerra-se em meados de junho.

“A elaboração das provas depende de debate do conselho acadêmico da Copeve”, explica Marcus Vinícius. O primeiro passo, portanto, acontece em março, quando 14 integrantes do conselho, formado por representantes de todas as áreas do conhecimento, discutem as questões da próxima edição do concurso. Cerca de 60 professores participam da formulação das provas.