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Nº 1562 - Ano 33
22.01.2007

Olhos para os céus

Projetos de divulgação da área de Astronomia da UFMG recebem recursos para ampliar atendimento ao público

Ana Maria Vieira

m 1956, um antigo telescópio alemão, montado na então distante Praça Cairo, do bairro Santo Antônio, foi a vedete na observação de um fenômeno astronômico que eletrizou Belo Horizonte: a aproximação entre Marte e Terra. Todo o mundo oficial esteve lá, liderado pelo governador Bias Fortes. Cinquenta anos depois, o destino desse aparelho parecia obscuro, esquecido em uma sala do Museu de História Natural e Jardim Botânico (MHNJB) da UFMG. Em breve, contudo, voltará à ativa, pois será restaurado e ganhará nova cúpula.

“Com esse instrumento, vamos inaugurar em junho, durante o solstício de inverno, no Museu, um novo espaço para atividades de ensino e observação astronômica, destinado a diversos públicos”, antecipa o astrônomo e professor do departamento de Física do ICEx, Renato Las Casas, que coordena, na UFMG, o Observatório Astronômico Frei Rosário, na Serra da Piedade, que abriga o segundo maior telescópio profissional do país. Nele, especialistas realizam pesquisas e desenvolvem atividades de divulgação científica para leigos, professores e alunos do ensino básico.

“Em 2006, recebemos 18 mil pessoas de todos os níveis de renda”, relata Las Casas. Desse total, metade era formada por escolares. Com a abertura do novo espaço no Museu, a expectativa é de que esse número dobre. “A procura por conhecimentos e informações em Astronomia é tão intensa que, já em março, as vagas para as atividades destinadas às escolas são preenchidas”, ressalta o professor.
Os recursos para a restauração do antigo telescópio foram obtidos recentemente com a Fapemig e o CNPq. Juntos, eles vão destinar R$ 250 mil também para aquisição de equipamentos do Laboratório Física FácilCriado há dez anos pela professora Beatriz Alvarenga, realiza experimentos interativos, que ajudam alunos e leigos a compreender como determinados conhecimentos são alcançados na Física e de um super binóculo.”Cada lado dele seria um excelente telescópio”, explica Las Casas.

Enquanto os binóculos comuns possuem 20 milímetros de lente, o profissional tem 250 milímetros e chega a ocupar quatro metros de diâmetro em uma sala. Ele será instalado em uma cúpula da Serra da Piedade, com visão de 360 graus para o céu. O super binóculo é utilizado na Astronomia para a descoberta de asteróides e cometas. Na UFMG, deverá ser usado por pesquisadores e em projetos de divulgação científica para o grande público. Segundo Las Casas, o instrumento é bastante útil para observar objetos de fundo, que possuem pouca luz, como as nebulosas – nuvens de poeira e gás existentes nas galáxias.

Matemáticos no ninho

À frente, na UFMG, de atividades de divulgação da ciência na área de Astronomia, há cerca de 20 anos, Renato Las Casas comemora as perspectivas de expansão abertas com a injeção de recursos. “A Astronomia é a grande porta de entrada para a ciência, pois desperta curiosidade e interesse filosófico e histórico”, diz o professor.

Apesar dessas vantagens, Las Casas observa que nem sempre estudantes e professores têm oportunidade de conhecer esse universo. “Os professores se queixam de que não sabem responder às dúvidas dos alunos”, revela. Para o astrônomo, apesar da melhoria dos cursos de licenciatura em Física, ocorrida nos últimos anos, a formação dos professores do ensino básico ainda sofre deficiências. Sobre o perfil desses profissionais que atuam em Belo Horizonte, pesquisa realizada pelo departamento de Física da UFMG mostra que a maioria é formada em matemática. O ensino de Astronomia convive também com a precariedade bibliográfica.

Acervo Observatório Astronômico Frei Rosário

Meu primeiro Carl Zeiss

Refazer o percurso dos instrumentos de trabalho dos cientistas é trabalho que produz não só boas histórias, mas novas informações sobre o modo como a ciência foi se constituindo. Que o diga o antigo telescópio do Museu de História Natural e Jardim Botânico, fabricado na cidade alemã de Jena pela empresa Carl Zeiss, a mesma que fornecerá o planetário para o Espaço TIM-UFMG do Conhecimento, a ser inaugurado na Praça da Liberdade.

Não se sabe ao certo como o instrumento chegou ao país. “O comentário geral era de que teria sido encontrado na região costeira da França, por volta de 1945, e doado ao Brasil como indenização de guerra”, relata o astrônomo e professor aposentado de Física da UFMG, Bernardo Riedel. Ele tinha apenas 14 anos quando escutou a história. À época, começava a freqüentar o Centro de Estudos Astronômicos Cesar Lattes de Minas Gerais, o atual Ceamig. A sociedade era formada por astrônomos amadores e professores da Universidade empenhados em divulgar e estudar os fenômenos da área.

Segundo Riedel, o telescópio foi reformado em 1956. “Ele ficava na Escola de Engenharia, onde eram ministradas disciplinas sobre a área. Após um período na Praça Cairo, o equipamento retornou à Universidade”, relata. O professor explica que, nos anos 1950, o instrumento já era considerado de pequeno porte, mas eficiente para o trabalho de amadores. “Ele é uma peça histórica”, ressalta Riedel, “pois representa o fim de uma era em que os telescópios eram acionados por um mecanismo de pêndulo, que equivale a uma mecânica fina, complicada e sofisticada”.