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Nº 1581 - Ano 33
10.9.2007

Mais água e menos lixo

Projeto da Escola de Engenharia leva estudantes ao Vale do Jequitinhonha para ajudar no gerenciamento de lixo e orientar moradores na construção de cisternas

Fernanda Cristo

Divulgação
Neusa Rodrigues
Construção de cisterna em Padre Paraíso: mutirão envolveu alunos e comunidade

E pesquisadora Camila Moreira de Assis defendeu, recentemente, sua dissertação de mestrado junto ao programa de pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Escola de Engenharia. A pesquisa – um levantamento de iniciativas em educação ambiental – trabalhou a questão do lixo na região do Vale do Jequitinhonha. O estudo deu origem a um projeto de extensão, intitulado Gestão de resíduos sólidos domésticos e abastecimento de água em municípios do Médio Vale do Jequitinhonha, que recebeu recursos do Ministério das Cidades e levou, no mês de julho, 35 alunos voluntários de graduação e pós-graduação aos municípios de Francisco Badaró, Padre Paraíso e Ponto dos Volantes.

“Parte do grupo ficava envolvida na construção de cisternas, em contato com a comunidade. Outros alunos faziam um levantamento sobre limpeza pública, coleta seletiva e catação de lixo, entre outros temas”, explica o professor Raphael Tobias, do departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, orientador de Camila de Assis e coordenador da parte de gestão de lixo do projeto.

Esta foi a terceira vez que os voluntários passaram férias no Vale do Jequitinhonha. No primeiro ano, em 2005, praticamente todos eram da engenharia civil. No segundo ano, a participação foi ampliada e, em 2007, o grupo contou com estudantes da engenharia química, ciências biológicas e arquitetura e urbanismo, além de mestrandos em engenharia sanitária e ambiental. “Em 2005 e 2006, o foco foi só a gestão de água. Este ano, por causa da minha dissertação, acrescentamos o gerenciamento do lixo”, esclarece Camila Assis. Além do Ministério das Cidades, o projeto foi apoiado pelas prefeituras locais, que ofereceram hospedagem, alimentação e transporte para os estudantes da UFMG.

Continuidade

Ao longo do primeiro semestre de 2007, os estudantes passaram por treinamentos. Uma das sessões ocorreu em Mateus Leme, a 52 quilômetros de Belo Horizonte, durante o feriado de Corpus Christi. “Os alunos até dormiram lá, em uma escola. Levamos um pedreiro do Vale do Jequitinhonha, com experiência na construção de cisternas, para orientar os estudantes”, lembra Raphael Tobias.

Na primeira semana de atividades no Vale, o grupo se concentrou nas cidades de Padre Paraíso e Francisco Badaró. Na segunda semana, a equipe se deslocou para Ponto dos Volantes. Durante a estada de 15 dias na região, os estudantes realizaram palestras em comunidades rurais e entregaram cartilhas com informações gerais sobre lixo e os horários de coleta em cada bairro. “Com os homens, falávamos sobre técnicas de construção de cisternas e cuidados com a qualidade da água. Com as mulheres, tratávamos de questões sobre saúde e com as crianças fazíamos brincadeiras, sempre focando água e lixo”, resume Camila Assis.

A presença dos grupos da UFMG nas cidades é por tempo determinado, mas o projeto não pára. “Nos três municípios existe uma iniciativa do Governo Federal, chamada Agente Jovem, que envolve 25 adolescentes, entre 15 e 18 anos, em situação de risco social, nas atividades da comunidade. Fizemos uma parceria com eles para aplicação do questionário”, diz Camila. Na primeira semana, os estudantes da UFMG aplicam o questionário junto com os Agentes Jovens. Quando os alunos vão embora, os adolescentes continuam o trabalho, sob orientação do coordenador local do projeto. Para o professor Raphael Tobias, essa é uma forma de monitorar as experiências do projeto. “Coletamos alguns indicadores para avaliar como deveremos dar continuidade à experiência de gerenciamento da água e do lixo nesses municípios”.

Vivência social

Para Camila Assis, o projeto propicia uma vivência social que os estudantes de engenharia, principalmente os de períodos iniciais às voltas com matérias básicas, não possuem. “Ao participar do projeto, eles perceberam que não basta simplesmente chegar lá e construir uma cisterna. Se o ser humano não cuidar da qualidade daquela água, a cisterna não vai funcionar sozinha”, comenta.

Além de ajudar a comunidade, os estudantes também têm oportunidade de pôr em prática conhecimentos teóricos que aprenderam em sala de aula. “Trata-se de transferência de uma tecnologia simples e barata”, define Raphael Tobias, ao lembrar que a construção das cisternas reunia estudantes e população. “Além da parte técnica em si, o trabalho envolvia questões de comunicação, informação, mobilização. Usamos mão-de-obra local para melhorar a condição de abastecimento de água no período de seca”, observa. O processo consiste em direcionar a água de chuva que cai nos telhados para reservatórios, usando-a para consumo humano.