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Nº 1581 - Ano 33
10.9.2007

Arte em quadrinhos

Dissertação da Belas-Artes premiada nacionalmente discute potencial criativo das HQs

Fernanda Cristo

João Marcos Mendonça
aloysio faria
Cartum do professor João Marcos Mendonça, autor de dissertação vencedora do Troféu HQ Mix

Criança adora livro com gravura. Talvez por isso também goste tanto de história em quadrinhos. Quando ainda não sabem ler e não entendem o que está escrito nos balões, elas inventam enredos à sua maneira e, mesmo mais tarde, quando a imaginação cede lugar às palavras impostas pelo roteirista, o fascínio continua. Desde que foi criada, na década de 1960, por Maurício de Souza, a emblemática Turma da Mônica impulsionou a leitura de meninos e meninas de várias gerações. E se os quadrinhos podem ser usados para este fim, porque não empregá-los também no ensino de arte nas escolas?

Foi exatamente essa idéia que deu origem à dissertação de mestrado de João Marcos Mendonça, defendida em agosto do ano passado, sob orientação da professora Lucia Gouvêa Pimentel, na Escola de Belas Artes. Em julho, Mendonça foi premiado no Troféu HQ Mix, definido por ele como o Oscar dos quadrinhos. “A cada ano aumenta a produção acadêmica nesta área. Em 2007, a categoria mais concorrida foi a de mestrado”, comenta. Além das outras duas categorias acadêmicas (doutorado e trabalho de conclusão de curso), O HQ Mix também premia publicações da área. “É um dos mais importantes reconhecimentos da área de artes gráficas”, orgulha-se João Marcos.

Sem amarras

João Marcos é professor universitário em Governador Valadares, mas também trabalha como chargista e cartunista, sendo o criador dos cartuns do personagem Mendelévio, publicado no jornal Hoje em Dia. Na graduação em Belas-Artes pela UFMG, optou pela licenciatura e, desde então, ministrou diversas oficinas de quadrinhos para crianças. “Percebi que, quando os alunos criavam histórias e personagens, trabalhavam com arte o tempo todo, ainda que indiretamente”. comenta. Para ele, a infância é uma das fases mais critivas do ser humano. “As crianças ainda não têm as amarras dos adultos”, completa.

Mas convencer professores de que quadrinhos também são uma forma de arte, como o cinema e a pintura, ainda não é tarefa fácil. “Ainda existe muita discriminação. Por isso, antes de entrar no mestrado, procurei descobrir as origens do preconceito contra quadrinhos na área de arte”, explica João Marcos. Na segunda fase de estudos, ele buscou elementos dos gibis que pudessem ser considerados como princípios artísticos. A penúltima etapa foi buscar uma história em que pudesse aplicar os conceitos definidos. A escolha recaiu sobre livro Persépolis, que traz a autobiografia, em quadrinhos, da artista plástica iraniana Marjane Satrapi. “Analisei o gibi como se analisa uma obra de arte”, conta o João Marcos.

O trabalho resultou em proposta metodológica de uso da linguagem dos quadrinhos para ensinar arte a estudantes de ensino fundamental. “Tento mostrar que o desenho é acessível, não é algo que exige um dom. Arte é uma área de conhecimento, como a matemática. Pode, portanto, ser aprendida e é importante para a formação dos alunos”, afirma o professor universitário, que pretende continuar os estudos na área e se prepara para o doutorado: “Venho anotando algumas idéias, tentando associar quadrinhos e arte”.

Por enquanto, a maioria das produções acadêmicas na área é feita sob a ótica da comunicação. “A cada dia fico mais convencido de que os quadrinhos estão mais no campo das artes, apesar de transitarem por essas duas áreas”, defende o quadrinista. Ele diz que, apesar do recente aumento da produção na área, a maioria das pessoas desconhece as novas tendências. “Há histórias para adultos que tratam de temas pesados. A tendência é ter quadrinhos cada vez mais artísticos, trabalhos cada vez mais pessoais”, conclui João Marcos Mendonça.