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Nº 1597 - Ano 34
18.02.2008

Entre amigos

Bruno Vieira dos Santos

Fotos: Foca Lisboa
Letícia Marçal
Letícia Marçal: se você não quiser brincar, ninguém pode te obrigar
 
Paula Fonseca
Paula Fonseca: trote é legal desde que haja moderação

Com correspondentes em vários idiomas, a palavra “trote” refere-se a um modo de movimentação dos cavalos, intermediário entre o passo e o galope. No universo estudantil, trote é uma espécie de ritual de passagem, formado por atividades que ocorrem no início de um semestre ou ano letivo em escolas, faculdades e universidades. Nelas, os estudantes mais antigos, os veteranos, recebem os recém-chegados (denominados calouros ou “bixos”). O problema é que, em vez de integrar, o trote, em muitos casos, acaba semeando o conflito por causa do constrangimento que impõe aos novos estudantes.

Estimular uma discussão sobre o verdadeiro sentido do trote, que deve ser visto como sinônimo de integração e não de humilhação, é o propósito da campanha Vem amigo, sem perigo, tá contigo, tá comigo, idealizada pela Diretoria para Assuntos Estudantis (DAE). O professor Seme Gebara Neto, diretor da DAE, explica que a iniciativa não é inibir nem coibir o trote, mas propor uma reflexão crítica sobre o assunto, de uma forma simples, direta e multilateral. “Nós também queremos ouvir as opiniões dos alunos sobre o assunto, entrevistando-os sobre o que deu certo e o que deu errado com relação à recepção dos calouros”, afirma Gebara Neto. O foco das ações, segundo o diretor, é convidar o estudante veterano a pautar sua relação com os calouros pelo respeito e bom senso. Com a campanha, a UFMG pretende evitar a repetição de incidentes ocorridos em trotes anteriores.

A prática também preocupa o Ministério da Educação, que na semana passada enviou circular às universidades recomendando a adoção de medidas para coibir o trote violento.

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Frente e verso do abanador, uma das peças da campanha de recepção aos calouros

Sem abuso

Paula Fonseca, 19 anos, caloura do curso de Comunicação Social, vê o trote como uma brincadeira. Ela acredita que a prática é um modo diferente de começar a faculdade e de conhecer os veteranos. Ressalta, no entanto, que a moderação não pode estar ausente. “O trote passa a ser um abuso quando a pessoa que o recebe não o aprova. Aí, sim, deve haver punição”, defende a futura comunicóloga. Da mesma opinião é o estudante Anderson Lourenço, 25 anos, aprovado no curso noturno de Ciências Biológicas. Ele, que sofreu um trote pesado quando ingressou em colégio federal de São Paulo, afirma que medidas devem ser tomadas caso os limites sejam transgredidos. “Se se chegar ao extremo da violência, a expulsão dos envolvidos da universidade é válida. Mas, num primeiro momento, uma advertência seria o ideal”, diz Lourenço.

Diferentemente de Paula, a estudante Letícia Bruna Marçal, 20 anos, caloura do curso de Veterinária, não aprova a prática. Nem mesmo como brincadeira. “Não acho legal. Há abusos, como o que aconteceu em São Paulo, onde fizeram uma brincadeira com um calouro de Medicina e ele morreu afogado.” Letícia Marçal refere-se ao caso ocorrido em abril de 1999, quando o calouro de Medicina Edison Tsung-Chi Hsueh, da USP, foi encontrado morto no fundo de uma piscina. A estudante afirma que ninguém deve ser coagido a participar da atividade: “Se eu quero levar trote, tudo bem; mas, se eu não quiser, ninguém deve me obrigar.”

Na semana passada, os calouros que efetuaram seu registro acadêmico receberam kits com mochila, adesivo e flyer abanador. Também foram convidados a visitar o site da campanha (www.ufmg.br/dae/vemamigo). A página contém textos que contam histórias e curiosidades, remete a links interessantes sobre o assunto, abre espaço para opinião e reproduz o regimento interno da Universidade, que informa sobre os direitos e deveres dos estudantes da UFMG. “A intenção é amparar os calouros, informando-os sobre o que fazer caso entendam que estão sendo vítimas de excessos cometidos por alunos veteranos”, complementa Gebara Neto.

A distribuição dos brindes continua na Semana do Calouro (25 a 27 de fevereiro), quando serão entregues aos alunos veteranos.