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Nº 1607 - Ano 34
25.04.2008

Energia para viver e crescer

Selênio Rocha Silva*

Um momento de efervescência se estabelece no setor elétrico nacional. São os novos projetos de linhas de transmissão disputados por empresas em diferentes configurações de parcerias e os de geração de eletricidade marcados pela diversidade de graus de complexidade e de fontes energéticas. Em todos esses casos, a preservação do meio ambiente se impõe como exigência determinante.

A necessidade de crescimento nacional contrasta com a precariedade de rodovias para escoar a produção agrícola, com a obsolescência dos portos e com o abandono do modelo de transporte ferroviário. Além das questões relativas ao abastecimento de água, ao saneamento básico, às dificuldades da educação e ao atendimento de saúde à população, a infra-estrutura do sistema elétrico é requisito de destaque. É essencial a existência de um sistema abundante em fontes e reservas e forte em estrutura para transporte da energia. A capacidade de abastecer a população e a indústria perpassa a preocupação com o crescimento propriamente dito e transforma-se em questão de soberania e de dignidade.

As lembranças dos recentes períodos de racionamento do consumo de energia elétrica, denotando falta estrutural de reservas, e a ocorrência de acidentes que interromperam o suprimento de eletricidade em parte do país, conhecidos como “apagões”, expuseram a fragilidade do sistema elétrico do Brasil. Após aqueles eventos, a desregulamentação do setor e a procura por nichos mais rentáveis do negócio com a eletricidade promoveram o crescimento da nossa malha de linhas de transmissão. Em contrapartida, programas do governo federal buscaram diversificar a matriz energética e incentivaram a construção de usinas, algumas com fontes de energia renováveis, outras em parcerias comerciais diversas. Recentemente, 118 empreendimentos de geração térmica utilizando bagaço e palha de cana e resíduos vegetais se candidataram ao leilão de energia de reserva que se realizará no dia 30 de abril próximo. Esse número indica que o setor está receptivo a estímulos.

O racionamento de energia elétrica ainda não é uma palavra banida, e a perspectiva de um novo estrangulamento do sistema de geração se vislumbra em horizonte próximo. Trata-se de um modelo que não consegue atender ao crescimento e que encontra-se fragilizado por ainda depender intensamente de um ciclo de águas em mutação. Estabelecer uma infra-estrutura capaz de atender ao crescimento do país é uma questão que se impõe a todos os fóruns do setor e da sociedade.

O Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos (SBSE2008) é um encontro marcado entre a academia e o setor elétrico, concebido no calor da discussão feita pela universidade brasileira e pelos profissionais do setor. É resultado do reconhecimento mútuo da necessidade de partilhar o mesmo caminho, de aprofundar a discussão dos temas relevantes e da constatação de que estamos maduros o suficiente para colocar a engenharia a serviço do desenvolvimento nacional. Fruto de realização do departamento de Engenharia Elétrica da UFMG em parceria com a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) e com a Sociedade Brasileira de Automática (SBA), o evento busca respostas que se esquadrinham no estabelecimento de canal de comunicação entre os diversos agentes e na avaliação do status do conhecimento e da competência nacional.

Neste contexto, merecem destaque temas como linhas de transmissão percorrendo longas distâncias conectando sistemas elétricos isolados do Norte do país e os grandes projetos de geração do Rio Madeira ao sistema interligado nacional; novas usinas movidas pela energia de biomassa e pela energia eólica, modificando o panorama das tecnologias de geração no país; a reconfiguração de redes e a regulação de tensão, temas tradicionais do planejamento e da operação dos sistemas elétricos, incorporando a contribuição de técnicas matemáticas baseadas em processos naturais evolucionários. Estes e outros aspectos serão discutidos nos últimos dias do mês de abril em Belo Horizonte.

A UFMG não poderia estar ausente de discussão tão relevante para o futuro do país num momento tão oportuno, quando grandes projetos de energia estão sendo decididos. A força desta universidade não só atraiu dois importantes parceiros para realização do evento, Chesf e SBA – que, não por coincidência, nos alerta para a importância da parceria universidade/empresa –, como também profissionais de norte a sul do país vindos de universidades, centros de pesquisa e empresas privadas e estatais. Essa conjunção de competências, por si só, já prepara o ambiente para profícuas discussões.

* Professor Titular do Departamento de Engenharia Elétrica da UFMG e coordenador-geral do Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos (SBSE2008), que está sendo realizado esta semana em Belo Horizonte

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