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Nº 1617 - Ano 34
07.07.2008

 

Unidas pelo essencial

Conceito do 40o Festival de Inverno perpassa todas as oficinas distribuídas entre as seis grandes áreas

Ana Luísa Sá e Glauciene Lara

Arte essencial é o conceito que dá unidade às 50 oficinas oferecidas pelo 40° Festival de Inverno da UFMG, a ser realizado em Diamantina entre 13 e 26 de julho. São mais de 800 vagas em seis áreas: Artes Literárias, Artes Cênicas, Artes Musicais, Artes Visuais 1 e 2 e Projetos Especiais. Cada uma trabalha o essencial de seu fazer artístico específico.
De acordo com a professora da Faculdade de Letras (Fale) da UFMG e coordenadora da área de Artes Literárias, Vera Casa Nova, a busca da arte essencial guiou a escolha dos oficineiros. A oficina A palavra poética, ministrada por Carol Lara, mestranda em Estudos Literários da Fale, se concentra na materialidade e na sonoridade da palavra. Para ela, que participará pela primeira vez do Festival, o essencial nas artes é a possibilidade de novas formas de percepção do mundo. “A arte é essencial em toda e qualquer medida, pois colabora com a questão do ser e com a expressão do sentido do mundo”, afirma.

Foto: Felipe Augusto / Montagem: Fabiano Barroso
Giramundo
Cena de Um baú de fundo fundo, do Grupo Giramundo

Interfaces

A poesia no cinema: exercícios de análise fílmica, oficina das Artes Literárias, da escritora e professora da Fale Maria Esther Maciel, vai explorar a interface das linguagens fílmica e textual. “Os filmes e poemas que selecionei são marcados pela valorização do elemento estético”, explica a professora, que escolheu para a oficina filmes como Asas do desejo, de Wim Wenders, e Nossa música, de Godard.

A interdisciplinaridade marca também atividades das Artes Cênicas, organizadas por oficineiros com formação híbrida. Para a professora da Escola de Belas-Artes da UFMG Mônica Ribeiro, coordenadora da área, esta é uma característica própria do profissional de teatro. “O corpo do ator é o meio de comunicação por excelência, onde acontecem transformações do fazer artístico, e, por isso, deve estar afinado em todas as suas expressões”, afirma ela.

As oficinas dessa área estão assentadas em três pilares: ritmo, trabalho corporal e música. O compositor Eduardo Álvares, encarregado da oficina Música-Cênica, defende a tese de que a arte deve ser visionária. “Buscar zonas comuns às manifestações do teatro e da música é uma forma de fugir do pragmatismo, das convenções. A criação artística é uma área de risco, de experimentações, de vivências subjetivas, de amadurecimento gradual de formas e conteúdos”, argumenta. A proposta de Álvares é interligar os elementos cênicos, visuais e sonoros numa partitura especial.

Bandas sinfônicas

A primeira oficina pensada para a área de Artes Musicais foi a de Música de câmara, segundo o coordenador da área e professor da Escola de Música, Mauro Rodrigues. “Pareceu-nos que, musicalmente, o essencial é tocar com outras pessoas. Assim, preparamos uma oficina de bandas sinfônicas, tradição de Diamantina”, explica. Outro elemento importante, de acordo com Rodrigues, é a reflexão sobre o fazer artístico, feita pela oficina Música, poética e filosofia, do professor Antônio Jardim, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Vou abordar a perspectiva filosófica, tentando resgatar a noção de música ligada à memória, tendo como ponto de partida a experiência da Grécia antiga”, explica Jardim.
A percussão e o ritmo como elementos essenciais da música também serão tema de oficina. A proposta de Fernando Rocha, professor da Escola de Música da UFMG, em Percussão e música contemporânea, é lidar com aspectos básicos da música e, ao mesmo tempo, trazer uma perspectiva atual, como suas ligações com novas tecnologias e formas de emprego da percussão.

As Artes Visuais 1 trazem oficinas que tratam das artes manuais em contato íntimo com o conceitual. “Vamos utilizar materiais básicos para propostas contemporâneas, inventar soluções inusitadas para materiais conhecidos”, afirma o professor da Escola de Belas Artes (EBA) e coordenador da área, Lincoln Volpini. Maria do Céu Diel, também professora da Unidade, vai ministrar a oficina Cadernos de desenhos, em que os registros vão remeter, visualmente, a elementos da cidade de Diamantina.

Arte e tecnologia

A área de Artes Visuais 2 reúne oficinas teóricas e práticas de temática audiovisual. O professor do Departamento de Comunicação Social e coordenador da área, Rodrigo Minelli, lembra que a essencialidade da arte no campo que coordena passa pelo diálogo com a tecnologia, sem abandonar os fundamentos do fazer audiovisual. Uma das oficinas mais relacionadas ao tema é Visual music, de Henrique Roscoe. A proposta é produzir interação áudio-vídeo ao vivo, por meio da manipulação do material produzido na oficina em softwares.

Mesmo em expressões artísticas tradicionais, como a fotografia, a tecnologia se revela uma aliada importante, ao produzir imagens de fenômenos em alta velocidade, como o estouro de um balão ou a queda de uma gota na lâmina d’água. A oficina Fotografia em alta velocidade, do professor do Departamento de Engenharia Eletrônica Júlio Cezar David de Melo, vai ensinar a usar lâmpadas de LED no lugar do antigo flash, para produzir fotos com efeito artístico.

Já oficina Extremos do cinema, de Arthur Omar, vai mergulhar na essência da sétima arte. A reflexão baseia-se no abandono do que o fotógrafo chama de filmes médios, direcionados ao espectador médio. Ele acredita na busca pela intensidade do cinema, alcançada pela manipulação do material fílmico e pela duração das imagens.

Convergência

Todas as áreas do Festival convergem na de Projetos Especiais, por meio da oficina Essencial, coordenada pelo professor da EBA Chico Marinho. A proposta é produzir instalação interativa, que reúna o trabalho desenvolvido por alunos e profissionais de formação diversa, baseado em pesquisa na comunidade de quilombolas de Quartel do Indaiá, a 50 quilômetros de Diamantina.

O trabalho envolve a criação de softwares e hardwares específicos para construir instalação visual, musical e performática que será montada no dia 25 de julho, na Casa Verde, edifício no centro de Diamantina que está sendo restaurado pela Prefeitura. Desde a edição de 2005, artistas se reúnem para criar uma obra de vanguarda e multicultural. “Este ano, estamos buscando as origens para desenvolver algo de ponta”, comenta o professor Fabrício Fernandino, coordenador da área de Projetos Especiais e curador do Festival de Inverno.

 

Programação cultural reverencia 68, Guimarães Rosa e Cervantes

O Festival de Inverno da UFMG chega à sua 40ª edição, oferecendo programação cultural com mais de 40 atrações, que lembram outras datas redondas comemoradas este ano. De 21 a 25 de julho, acontece a Mostra Cinema Brasileiro em 1968, organizada pelo Projeto República. Filmes do Cinema Novo, como os de Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos, e do Cinema Marginal, como os de Rogério Sganzerla e Andrea Tonacci, que serão exibidos na Mostra, aludem ao emblemático ano de 1968.

O Festival também homenageia o centenário de nascimento de Guimarães Rosa. A peça O amor no Grande Sertão e o show musical Rosas para João são baseados na obra Grande sertão: veredas. O amor no Grande Sertão, monólogo com João Bosco Alves, a ser representado em 15 de julho, reúne trechos do livro relacionados ao amor. De acordo com o ator, o espetáculo exibe cenografia e figurino simples e privilegia o texto e a interpretação.

Já no dia 20 de julho, o show Rosas para João traz canções de Renato Motha, na voz do compositor e da cantora Patrícia Lobato. “As canções contêm palavra ou frase marcante da obra de Rosa, como Djanira, que é nome de flor e de mulher”, explica Lobato.

Outra obra clássica, a ser apresentada em 21 de julho, é Dom Quixote, adaptada livremente na peça Quixote, da Cia. 4comPalito. Para o ator Júlio Vianna, o processo de montagem foi mais de renúncia que de escolha, face a uma obra tão rica e extensa. Ele explica que o grupo selecionou trechos de potencial teatral que remetem às questões existencialistas e às utopias. Os cenários e figurinos são do artista plástico Leo Piló, feitos a partir de material reutilizado, assim como a armadura e as armas de Dom Quixote na obra de Cervantes.

O palco circular montado pelo cenógrafo Heleno Polisseni remete à narrativa circular de Quixote, que começa na casa do personagem principal, onde ele decide se tornar cavaleiro, e termina no mesmo espaço, para onde retorna após suas aventuras e encontra a morte.

Acervo da Cia. 4comPalito
Quixote
Dom Quixote, montagem livre da obra-prima de Cervantes, adaptada pela Cia. 4comPalito

Para todos os gostos

A cultura diamantinense será representada pela tradicional Vesperata, que reúne bandas da cidade em concerto nas sacadas dos casarões setecentistas, no primeiro dia de Festival. No dia 14, é a vez do som percussivo do Grupo Iukerê, também de Diamantina.

A programação internacional traz, em 16 de julho, a companhia suíço-hispânica Buissonnière, que encena o espetáculo de dança-teatro Androgena de Minas. No dia 18, será a vez do grupo teatral Dos a Deux, formado por atores franceses e brasileiros.

Para amantes dos livros, o Encontro Literário reunirá escritores e leitores no lançamento das obras Antologia das mulheres emergentes, de Tânia Diniz, O livro das coisas, de Maria Esther Maciel e Fricções – traço, olho e letra, de Vera Casa Nova. O escritor gaúcho João Gilberto Noll será entrevistado no Encontro.

O consagrado Grupo Galpão apresenta o espetáculo Arande Gróvore, dirigido por Inês Peixoto e Laura Bastos, no dia 17 de julho. Outra atração é Um baú de fundo fundo, do Giramundo, dia 26. Diamantina promete ser o cenário ideal para representar o apanhado de casos populares, brincadeiras e cantigas de roda que se passam em uma fictícia cidade interiorana rica em antigas tradições.

A lista completa das oficinas do 40° Festival de Inverno da UFMG está no site www.ufmg.br/festival, onde também se encontram as informações sobre a programação cultural.