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Nº 1620 - Ano 34
07.08.2008

 

Artesanato com um toque de design

artesanato
Artesãos do Projeto Pitangaporã, da PBH: produção vendida na feira da Avenida Afonso Pena

 

Pesquisadores coordenam projetos que melhoram a vida de famílias de baixa renda

Itamar Rigueira Jr.

Onde se encontram reunidas idéias relacionadas a engenharia de produção, design de produto, artesanato familiar e sustentabilidade econômica e social? O professor Eduardo Romeiro Filho, do curso de Engenharia de Produção da UFMG, tem orientado projetos de pós-graduação que procuram, através das técnicas do design, adequar produtos e sistemas de produção às realidades locais, criando alternativas de geração de renda.

Ana Luiza Freitas e Carlos Alberto Miranda, professores de design da Universidade do Estado de Minas Gerais, passaram recentemente pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (linha de pesquisa Metodologia de projeto e gestão de design, área de concentração Produto e trabalho). Ana Luiza coordenou projeto da Prefeitura de Belo Horizonte voltado para a formação de artesãos com duas características em comum: sustentam suas famílias com uma pequena renda e são pais de crianças com necessidades especiais. Carlos Miranda trabalhou na criação de embalagens para produtos alimentícios caseiros, como goiabadas e biscoitos, que valorizam suas características artesanais.

“Esses projetos buscam garantir sustentabilidade econômica, social, cultural e ambiental à atividade artesanal, que é forte no Brasil, e especialmente em Minas Gerais”, diz o professor Eduardo Romeiro. Segundo ele, o aumento do fluxo turístico pressiona a demanda. “Por estranho que pareça, isso não é bom para a própria atividade, que acaba sacrificando suas características e se torna em parte industrial.”

Cuidado e produção em casa

No caso de Ana Luiza Freitas, o desafio era criar atividade produtiva para pais de crianças portadoras de necessidades especiais, em comunidades carentes, com dificuldade de trabalhar fora, já que precisam cuidar desses filhos muito de perto. Como parte de programa da Prefeitura de Belo Horizonte, a professora propôs formar artesãos, e surgiu o Projeto Pitangaporã. Em primeiro lugar, foi feita a capacitação dessas pessoas – a maioria mulheres em torno de 45 anos –, espalhadas por diversas regiões da cidade. Depois veio a fase de trabalhar o produto, respeitando e estimulando o processo criativo individual. “Partimos, então, para a inserção no mercado, e os produtores foram vender suas peças na feira da Avenida Afonso Pena.

E esgotaram seus estoques durante evento em um sofisticado shopping de decoração na cidade”, conta a pesquisadora.
A proposta é possibilitar o fortalecimento de vínculos da criança com a sua família, incentivar autonomia e cidadania, e promover a inserção das famílias no mundo da geração de renda. A análise de todo esse processo e da produção foi o tema da dissertação defendida por Ana Luiza Freitas em 2006. Ela considera que contribuiu para fortalecer uma cultura de continuidade em ações do gênero. “Percebo hoje uma preocupação maior com a sustentabilidade”, afirma Ana Luiza.

Carlos Alberto Miranda, por sua vez, trabalhou na valorização do trabalho de artesãos já em atividade, como parte do programa Minas Artesanal, da Secretaria de Agricultura de Minas Gerais, e com participação da Embrapa – na adequação da produção às normas – e da Uemg, na confecção das embalagens. Ele estudou, entre outros temas, a agricultura familiar, as tradições que envolvem a produção artesanal e a viabilidade técnica e econômica. “Investimos muito no planejamento, em que o projeto da embalagem teve como foco a realidade do processo produtivo e as características específicas do produto”, explica.

Embalagem

O tradicional celofane com adesivo simples que embalava a goiabada caseira transformou-se, então, numa caixinha de papel-cartão ornada com imagens que remetem ao artesanato, e passou a ostentar selo do programa Minas Artesanal. “Fica comprovada a eficácia do projeto porque o design permite conciliar o produto artesanal com uma apresentação que estabeleça vínculo com seu consumidor, além de conectar o sistema de embalagem com o sistema produtivo nacional vigente”, afirma Miranda. A novidade foi um sucesso em uma grande feira de produtos agrícolas: a goiabada embalada da nova maneira foi toda vendida em um dia, deixando para trás o estoque do doce empacotado no antigo modelo. “Os produtores reconhecem essa mudança, que valorizou ainda mais um produto feito com carinho. Agora eles podem competir em mercados de maior poder aquisitivo”, diz o designer.

De acordo com o professor Eduardo Romeiro Filho, projetos como esse abrem perspectivas para o design e seus profissionais, cuja imagem ainda é muito relacionada a produtos de luxo e a grandes empresas. “É preciso levar ferramentas de design à população. Nosso trabalho pode ajudar a viabilizar a atividade profissional, como no caso do artesanato, aumentando a auto-estima e o poder de compra de famílias e comunidades”, conclui Romeiro.