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Nº 1635 - Ano 35
24.11.2008

Impressões térmicas

Pesquisa da Engenharia Eletrônica associa perfil de
temperatura dos indivíduos à identidade

Manoella Oliveira

Foca Lisboa
Carmen Pataro
Carmen: perfil confirma identidade em mais de 90% dos casos

Aparelhos sensíveis a raios infravermelhos são utilizados, normalmente, para detectar problemas na rede elétrica. A pesquisa Processos de detecção de padrões térmicos individuais por meio de perfil térmico, realizada pelo Departamento de Engenharia Eletrônica da Escola de Engenharia, conferiu nova aplicação às variações térmicas medidas pelo equipamento: elas identificam o padrão térmico de cada indivíduo a partir da leitura de determinados pontos do rosto. A metodologia já foi patenteada pela UFMG, em parceria com a Fapemig.

O estudo, iniciado em 2003, teve como foco inaugural a construção do perfil com base na medição desses pontos, durante vários dias e em horários diferentes, envolvendo mais de 100 voluntários em estado de repouso. “Ao longo do tempo, percebemos que cada pessoa tem uma distribuição diferente de temperatura. Ela é específica, mas não apresenta necessariamente os mesmos valores. A curva se desloca, embora o padrão se repita. É possível que isso aconteça no corpo inteiro”, explica a professora Carmen Déa Moraes Pataro, coordenadora da pesquisa.

Na segunda etapa do projeto, que começou a ser desenvolvida em novembro do ano passado e tem conclusão prevista para os próximos 12 meses, o estudo testa a repetição desses perfis com os voluntários que executam movimentos triviais, como subir e descer escadas, carregar objetos e andar. Os resultados foram positivos, ou seja, a variação se repetiu.

Já as experimentações com movimentos mais bruscos, como na prática de esportes, precisam de mais investigação. Testes preliminares realizados com praticantes de capoeira e de jiu-jítsu apresentaram respostas diferentes. No caso da primeira, o perfil se desloca muito, mas tudo indica que ele se repete, enquanto no segundo não existe padrão. “Vamos ter que trabalhar mais nessa pesquisa, temos poucos dados, mas tudo indica que essa vertente será bem-sucedida, com exceção dos esportes de contato como o jiu-jítsu, em que o praticante esfrega muito o rosto no tatame, leva golpes e mantém contato contínuo com o adversário. Isso tudo pode mudar o perfil térmico”, diz a professora.

Ainda nessa fase da pesquisa, o grupo investigará o padrão associado à prática de esportes que envolvem menos contato, como ginástica olímpica, corrida e, novamente, a capoeira.

Gráfico
Cada linha colorida representa a medição de 16 pontos identificados no rosto, após um período de descanso, em dias diferentes. Apesar de as temperaturas se modificarem, as curvas são similares e configuram um padrão.

Aplicações

O estudo tem potencial para servir de base a várias aplicações. Uma delas é na segurança pública. “O padrão térmico pode ser reconhecido mesmo que a pessoa esteja usando máscara. Já realizamos vários testes e conseguimos confirmar a identidade em mais de 90% dos casos.

Dependendo da cor e do material da máscara, o deslocamento é diferente, mas o perfil se mantém”, explica a professora, que acrescenta: “Se todo mundo fosse cadastrado, essa tecnologia ajudaria no reconhecimento das pessoas. Como exemplo, ela cita o processo de produção da carteira de identidade. “Além das impressões digitais, as pessoas poderiam ter seu padrão térmico capturado”, exemplifica.

A professora admite, no entanto, que, no momento, a implantação desse sistema é de difícil viabilização por causa do valor do equipamento.

Quando a pesquisa foi iniciada, em 2003, o aparelho de visão termográfica mais barato custava em torno de R$ 100 mil. Hoje, já há fabricantes que o vendem por R$ 13 mil. A tendência é que os preços continuem baixando.

No caixa 24 horas

Outra vertente que poderá ser explorada, também na área de segurança, está ligada à detecção do estresse no momento em que um correntista saca dinheiro no caixa eletrônico. Segundo a professora Carmen Pataro, a intenção é avaliar a possibilidade de fazer com que o equipamento seja capaz de identificar o perfil térmico de quem digita os dados no teclado – ainda que corretos – e que esteja em estado de pânico provocado por seqüestro ou assalto. Ela acredita que essa situação de risco tende a alterar o perfil térmico do indivíduo, e a oscilação decorrente dela, se identificada pelo sistema de segurança, pode ajudar a prevenir ações criminosas.

“Com o sangue saindo da periferia em direção aos músculos, é possível que a curva se desloque muito e mantenha o padrão ou mude também. É algo a ser investigado”, afirma a professora. Nesse caso, a medição não seria mais feita pelo rosto, mas pelas mãos – vertente a ser examinada numa próxima etapa da pesquisa. Por enquanto, o eixo principal consiste em fazer a comprovação de identidade do indivíduo, pelo padrão térmico do rosto, em qualquer situação de movimento ou descanso.