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Nº 1635 - Ano 35
24.11.2008

A serviço da inclusão

Alunas da UFMG ganham Prêmio Jovem Cientista com
estudos sobre fatores de equalização social

Manoella Oliveira

Duas alunas da UFMG recebem nesta quinta-feira, dia 27, no Palácio do Planalto, em Brasília, o Prêmio Jovem Cientista, em cerimônia comandada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A iniciativa é do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com a Fundação Roberto Marinho e com a Gerdau. O tema desta edição foi Educação para reduzir as desigualdades sociais.

A estudante do 7º período de Ciências Sociais da Universidade Mariana Gadoni Canaan conquistou o terceiro lugar na categoria Ensino Superior com o trabalho Rompendo a reprodução: o impacto da bolsa de iniciação científica nas trajetórias acadêmicas de alunos assistidos pelo programa de assistência estudantil da UFMG. Já a jornalista Fernanda Santos também ficou com o terceiro lugar na categoria Graduado, com o trabalho Realejo: a experiência de produzir uma revista para pessoas com deficiência visual, desenvolvido em conjunto com Eliziane Lara, Luisa Naves e Flávia Reis.

Orientada pela professora Maria Alice Nogueira, da Faculdade de Educação, a pesquisa de Mariana teve como ponto de partida os resultados de outro estudo realizado por ela anteriormente no qual comparou as trajetórias acadêmicas de estudantes da UFMG assistidos pela Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump) e de seus pares não-assistidos. A estudante observou que os primeiros optaram, com menos freqüência, pelo bacharelado, ingressaram em menor número na pós-graduação stricto sensu e, quando o fizeram, isso ocorreu em idade mais avançada. “As disparidades acadêmicas insinuavam-se como um reflexo de desigualdades sociais. A partir daí, minha proposta foi examinar, neste novo trabalho, se a bolsa de iniciação científica seria capaz de corrigir, ou pelo menos diminuir, o abismo entre essas trajetórias”, afirma.

De acordo com a estudante, apesar da importância das políticas de assistência para o atendimento das demandas básicas dos graduandos, o auxílio material não é suficiente para nivelar o acesso dos estudantes à produção do conhecimento. “Já havia pesquisas sobre a permanência e o desempenho desses alunos durante a graduação. Meu trabalho consistiu em verificar se, apesar do rendimento similar durante o curso, os estudantes assistidos ingressavam na pós-graduação na mesma proporção que os outros alunos da UFMG. Os dados de matrículas na especialização são bem próximos, mas no mestrado e no doutorado, essa tendência não se repete”, explica.

Para Mariana, a bolsa de iniciação científica permite aos discentes conhecer as etapas de uma pesquisa, incrementar seu currículo com produções científicas e travar contato com vários docentes. Tudo isso funciona como estímulo para posterior entrada no mestrado. A pesquisa foi realizada a partir dos dados dos cursos de Geografia, Direito, Ciências Sociais e Ciências Biológicas, que cobrem o período de 1980 a 2000.

Produto híbrido

O outro trabalho premiado aborda a experiência de Realejo, publicação em áudio voltada para pessoas com deficiência visual e que começou como projeto de conclusão do curso de Comunicação Social da UFMG das estudantes Eliziane Lara, Luisa Naves, Fernanda Santos e Flávia Reis.

Hoje, a publicação é um projeto de extensão da Universidade. Desde sua criação, em 2006, já foram produzidas duas edições, e a terceira será finalizada ainda este ano em laboratório do curso de Comunicação Social coordenado pelo professor Elton Antunes, orientador do grupo.

“A principal característica da Realejo é a independência que ela proporciona à pessoa com deficiência visual. Durante a pesquisa, percebemos que, na maioria das vezes, um cego depende de alguma ferramenta específica ou de alguém para conseguir se inteirar das notícias. Consideramos a publicação um híbrido entre o rádio e a revista impressa”, analisa Fernanda.

O planejamento de relações públicas ficou a cargo de outras componentes do grupo, Flávia e Luisa, que desenvolveram instrumento de análise de recepção das revistas distribuídas em instituições que atendem pessoas com deficiência visual, algumas delas apoiadoras do projeto, e em eventos direcionados ao público da Realejo. “A idéia de criar a revista surgiu de um problema real: a maior dificuldade que pessoas com deficiência visual têm em relação ao acesso à informação na comparação com quem enxerga. O resultado nos permitiu constatar que um problema real pode muito bem ser trabalhado na universidade”, conclui Flávia Reis.