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Nº 1659 - Ano 35
29.6.2009

Cortinas abertas há uma década

Curso de Teatro comemora formação de multiplicadores e investimento em metodologia de pesquisa

Itamar Rigueira Jr.

É mesmo para se comemorar. A implantação da graduação em Teatro na UFMG é resultado de um esforço de décadas de tentativas – e este ano o curso completa seus primeiros dez anos. Para alegrar a festa, além de recente classificação com nota máxima pelo MEC, a certeza de que a graduação tem cumprido a importante missão de formar profissionais criadores, pesquisadores e multiplicadores da atividade em suas comunidades. A programação de aniversário inclui mostra de trabalhos que está em curso (veja programação no site www.eba.ufmg.br) e ciclo de conferências sobre o ensino de teatro, marcado para o segundo semestre de 2009.

A Escola de Belas-Artes (EBA) recebe 40 novos alunos de teatro a cada início de ano. Trata-se de pessoas que se iniciaram na arte em escolas, igrejas, associações, cursos profissionalizantes e até manifestações populares como o congado e a folia de reis. “O curso tem perfil inclusivo e democrático. Nossas pesquisas com os ingressantes mostram que grande parte dos alunos não tem situação socioeconômica privilegiada e é proveniente de ONGs que proporcionaram a eles o primeiro contato com as artes cênicas”, conta a professora Mariana Lima Muniz, coordenadora do curso de Teatro, vinculado ao Departamento de Fotografia, Teatro e Cinema da EBA.

Ela recorda que as primeiras turmas, em função da demanda reprimida, reuniram pessoas com até 20 anos de experiência, o que exigiu do curso foco em aprofundamento e pesquisa. Nos últimos anos, os alunos chegam com bem menos tempo de prática; são jovens que vêm a ter a primeira experiência formal na universidade, o que mudou a perspectiva do currículo.

Multiplicadores

Muitos dos jovens deram os primeiros passos orientados por ex-alunos da licenciatura em Teatro da UFMG, que forma professores para a educação básica da rede pública – ali, o teatro é disciplina obrigatória – e para instituições que oferecem educação não-formal. A outra opção oferecida, depois de dois semestres do chamado núcleo básico, é o bacharelado em interpretação teatral. O aluno é iniciado nas diversas funções em torno do palco: direção, iluminação, cenografia, figurino, entre outras.

Segundo Mariana Muniz, as duas modalidades do curso têm forte preocupação comum. “O objetivo é formar agentes multiplicadores, que ensinem em suas comunidades e ajudem a ampliar o acesso ao teatro”, afirma a professora, formada em Letras na UFMG antes de estudar Teatro na Espanha, onde fez graduação (Teatro do Gesto) e doutorado (Improvisação).

Os processos de criação cênica contemporânea e a formação do criador cênico são as linhas que guiam a formação e a pesquisa na graduação e na pós-graduação. “Tanto o professor quanto o bacharel devem estar antenados com a cena contemporânea, a partir da articulação entre teoria e prática”, explica a coordenadora do curso.

Essa formação é proporcionada por 13 docentes (são sete doutores e seis mestres), que desenvolvem, paralelamente à atividade acadêmica, trabalho artístico importante, em grupos como Galpão, Zap 18 e Oficcina Multimédia. Mariana Muniz destaca um aspecto da atuação da equipe de professores: a contribuição para o desenvolvimento de uma área incipiente – metodologia de pesquisa em teatro.

A linha de pesquisa em artes cênicas – que tem pouco mais de dois anos e integra o programa de pós-graduação em Artes – envolve seis professores, já levou à defesa de cerca de 15 dissertações e tem atualmente perto de 30 orientandos, entre o mestrado e o doutorado, oriundos de diversas instituições, incluindo outros estados. “As perspectivas são de crescimento contínuo, já que novos docentes estão se qualificando”, afirma o professor Fernando Mencarelli, coordenador do programa.

Mais integração

O curso de Teatro vive expectativas promissoras. Já no segundo semestre de 2009, passa a compartilhar seu espaço físico com o Teatro Universitário (TU), segundo curso profissionalizante do país, criado em 1952. “Será um desafio interessantíssimo aproximar as gestões desses cursos, unindo experiências e criando novas formas de trabalhar”, comemora Mariana Muniz. Além disso, a instalação na EBA até 2010 de novos cursos viabilizados pelo Reuni permite vislumbrar a criação, como ela diz, “de um grande instituto de artes, que incentivará o cruzamento de currículos e ainda mais integração”. O curso de Teatro é, por sinal, marcado pela possibilidade de o aluno construir um percurso muito próprio, já que são várias as disciplinas optativas e as alternativas de formação complementar em áreas como Ciências Sociais e Artes Visuais.

Divisor de águas

Ela era formada em Letras e já tinha iniciado carreira de atriz quando soube do novo curso de Teatro da UFMG. “Era tudo o que eu queria. Cheguei com vontade de mergulhar no assunto, aproveitando que estava mais madura que na época da primeira graduação”, conta Rita Maia, bacharel formada em 2004 e mestranda em artes cênicas, também na Universidade. Logo ela ajudou a criar grupo de pesquisa que funcionava como laboratório e possibilitava aliar teoria e prática. Aquele foi o embrião do Teatro Invertido, grupo que integra até hoje.

Rita Maia classifica o curso como divisor de águas em sua carreira. “Descobri ali o tipo de atriz que queria ser”, ela diz. Parte relevante das questões que interessavam à então estudante girava em torno da função do ator, especialmente no chamado processo colaborativo – baseado na criação coletiva, sem hierarquia –, que deu o tom de todas as montagens do grupo de pesquisa. Seus estudos no mestrado também têm como foco esse modelo. Uma das primeiras crias da graduação em teatro da UFMG, Rita considera que ele “é muito importante para Belo Horizonte, como formador de profissionais tanto para o exercício da arte quando para a carreira acadêmica”.

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