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Nº 1676 - Ano 36
16.11.2009

Tese propõe novo método para avaliar alterações motoras decorrentes de AVE

Bárbara Xavier França

Foca Lisboa Christina Faria: teste para movimentos funcionais pós-derrame

Um instrumento desenvolvido pela UFMG permite avaliar de forma mais precisa as alterações do movimento apresentadas por indivíduos que sofreram Acidente Vascular Encefálico (AVE). Atividades cotidianas, como levantar e sentar-se em uma cadeira, andar, virar para mudar de direção enquanto anda, comumente comprometidas pela doença, receberam maior atenção no estudo realizado pela pesquisadora Christina Danielli Coelho de Morais Faria, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. A pesquisa materializou-se na primeira tese de doutorado defendida na Unidade.

O AVE, popularmente conhecido como derrame, é considerado uma das maiores causas de incapacitação física e mental no Brasil e no mundo. Entre as sequelas deixadas pela doença, os problemas motores são as mais prevalentes, atingindo cerca de 70% das pessoas que sofreram derrame, os hemiplégicos. Boa parte deles pode ficar incapacitada, o que exige avaliação clínica mais detalhada dessas alterações para elaborar tratamentos melhor direcionados para cada paciente.

Informações mais detalhadas

O método de avaliação clínica dos movimentos funcionais mais comum entre os especialistas, chamado teste Timed ‘up and go’, consiste na mensuração do tempo que o indivíduo gasta para levantar de uma cadeira, andar três metros, girar 180°, voltar e sentar novamente. “O teste pode ser considerado uma boa medida, mas usar somente o tempo como parâmetro limita a avaliação. Diferentes pessoas podem realizar os movimentos em tempos parecidos, mas de formas completamente diferentes”, afirma Christina Faria.

O instrumento desenvolvido pela pesquisadora consiste em 15 questões com três opções de resposta, que o profissional deve marcar ao observar o paciente realizando as mesmas atividades propostas pelo Timed ‘up and go’. “Mantivemos esse conjunto de atividades dentro do teste para padronizar e universalizar o instrumento. Qualquer profissional da área conseguirá identificá-lo quando ouvir falar em uma avaliação dos movimentos baseada nas atividades sequenciais do Timed ‘up and go’”, explica Crhistina, que, preocupada com uso internacional do instrumento, traduziu as questões para inglês e francês do Canadá, onde estudou um ano durante o doutorado, na Universidade de Montreal.

A avaliação dos movimentos baseados nas atividades do teste idealizado pela pesquisadora se justifica também por sua simplicidade, exigindo apenas uma cadeira e um espaço de três metros para circulação do paciente. O diferencial, no entanto, está nas questões. Os movimentos de cada atividade – levantar da cadeira, andar, girar ou sentar – são analisados separadamente. Segundo a professora Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela, orientadora da tese, o estudo foi pioneiro também por analisar o giro, que não recebia tanta atenção dos profissionais da área, e é marcado por muitas quedas. O número de passos para completar a volta, a maneira como o corpo realiza a rotação e a relação entre o pé externo e o interno do indivíduo à circunferência do giro são algumas características propostas para análise.

Aplicabilidade

O desenvolvimento dos itens do instrumento também se ateve às características da doença apresentadas nas últimas décadas. “Houve um tempo em que o AVE era típico de pessoas idosas. Hoje afeta muitas pessoas jovens, devido principalmente ao estresse, à falta de atividade física e à alimentação inadequada”, lembra a professora Luci Teixeira-Salmela. Assim, o teste foi concebido para ser aplicado em pessoas a partir de 20 anos, tornando seu uso ainda mais abrangente.

O instrumento já foi aprovado por 19 fisioterapeutas convidados a simular seu uso durante as avaliações. Christina Faria enfatiza, no entanto, que o método pode ser aplicado apenas em pessoas que sofreram acidente vascular encefálico. “A avaliação de alterações no movimento decorrentes de outras doenças demanda estudos diferenciados”, alerta.

O AVE

O acidente vascular encefálico é decorrente de comprometimentos na circulação sanguinea encefálica. Estes são alguns aspectos relacionados à doença:

Tese: Desenvolvimento e validação de um instrumento clínico para identificação de características biomecânicas e estratégias de movimento adotadas por hemiplégicos durante o desempenho no teste Timed ‘up and go’

Autora: Christina Danielli Coelho de Morais Faria

Defesa: 23 de outubro, junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação, da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional

Orientadora: Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela (UFMG) Co-orientadora: Sylvie Nadeau (Universidade de Montreal)