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Nº 1676 - Ano 36
16.11.2009

Do campo ao prato

Campus regional de Montes Claros recebe simpósio sobre segurança alimentar

Juliana Paiva

Conhecimento científico-acadêmico e experiência popular estarão reunidos entre 19 e 22 de novembro, no campus regional de Montes Claros, em nome da promoção da segurança e da soberania alimentar. O I Simpósio de Segurança Alimentar do Norte de Minas Gerais, com o tema Sustentabilidade e Inovações, acontece no Instituto de Ciências Argárias (ICA). São esperadas aproximadamente 300 pessoas, entre professores, pesquisadores, estudantes, agricultores familiares e representantes de órgãos governamentais ligados ao setor.

Segundo a coordenadora do evento e do mestrado em Ciências Agrárias/Agroecologia, Anna Christina de Almeida, há especificidades que justificam uma discussão regionalizada sobre o tema segurança alimentar. Entre elas a expressiva presença da agricultura familiar no Norte de Minas e as adversidades ambientais – como o clima – que interferem na produção de alimentos. Aspectos que exigem foco na sustentabilidade, a exemplo do que será abordado na palestra sobre produção de hortaliças não convencionais e sua possível contribuição para a segurança alimentar.

Para o coordenador do recém-criado curso de Ciências de Alimentos, Eduardo Robson Duarte, outra característica regional que preocupa é a carência de padrões na produção de alimentos, muitas vezes feita artesanalmente. Ele cita produtos como carne-de-sol, conservas e doces de frutas que costumam ser preparados sem as condições mínimas necessárias para garantir a segurança dos consumidores. “Será muito importante para os produtores locais e também para os alunos de Ciência de Alimentos esse contato com os pesquisadores que virão apresentar seus trabalhos e palestras”, avalia o professor.

Experiências bem-sucedidas de associação entre os produtores rurais, a exemplo de feiras livres, e a realidade nutricional dos agricultores familiares e de outras comunidades tradicionais do Norte de Minas, como geraizeiros e quilombolas, também estarão na pauta do simpósio. Serão discutidas, ainda, questões ambientais, como os contaminantes provenientes da produção agrícola, e as inovações da indústria de alimentos.

A parte científico-acadêmica da programação contará com palestras e apresentação de trabalhos de pesquisa e extensão. Foram aceitos 20 resumos e 41 artigos ligados ao tema segurança alimentar. Todos serão publicados no Caderno de Ciências Agrárias da UFMG, e os melhores em cada área receberão diploma de honra ao mérito. O simpósio prevê, ainda, discussões e atividades com a presença da comunidade – mesa-redonda sobre políticas públicas voltadas para o setor, workshops e minicursos.

O evento é uma promoção do Mestrado em Ciências Agrárias, do curso de graduação em Ciência de Alimentos, do Grupo de Estudo em Segurança Alimentar (Gesa) e do programa de extensão Apoio a Agricultores Familiares no Norte de Minas Gerais em Produção, Higiene e Saúde Pública. A programação completa e informações sobre inscrições estão disponíveis no site www.ica.ufmg.br/pcaa e no blog www.gesaufmg.blogspot.com. Mais informações pelo telefone (38) 2101-7748.

Juliana Paiva Curso leva práticas de fácil adoção a agricultores do Norte de Minas

Na origem de tudo

Orientar os produtores a adotarem boas práticas desde o preparo do solo até o armazenamento e transporte dos produtos agrícolas é trabalhar pela segurança alimentar. Esse é o foco de um dos trabalhos de extensão do ICA selecionados para apresentação no simpósio Capacitação em boas práticas agrícolas para produção de hortaliças pelos agricultores familiares do Norte de Minas. Desde o final de 2008, o grupo de alunos responsáveis pelo projeto oferece cursos que já beneficiaram cerca de 150 agricultores familiares de Montes Claros, São João da Lagoa, Japonvar e Lontra.

“As boas práticas agrícolas consistem em várias regras para uma produção economicamente viável e sem prejuízo ambiental”, explica o aluno Rafael Jorge Almeida Rodrigues, do 8º período de Agronomia. “Os agricultores familiares da região são muito carentes de informações técnicas a esse respeito”, acrescenta. Outro detalhe importante, segundo o estudante, é que essas práticas são de simples adoção.

As orientações começam pela proteção ao solo, que pode ser feita com materiais de fácil acesso, como mangueiras, ripas de madeira, arames e fitas métricas de costureira. Este equipamento permite ao produtor medir a declividade do terreno a ser cultivado e verificar se há necessidade de medidas para evitar a erosão.

“Também abordamos o controle alternativo de pragas e doenças, com o uso de caldas naturais preparadas com ingredientes de fácil aquisição”, conta Rafael. As caldas são alternativas para o uso de agrotóxicos. As boas práticas agrícolas repassadas aos agricultores incluem aproveitamento integral de resíduos, como restos vegetais e esterco, que serão transformados em adubos orgânicos e biofertilizantes. As orientações chegam à colheita e à pós-colheita, com o armazenamento e o transporte das hortaliças. Nestas últimas etapas, segundo Rafael Rodrigues, o risco de contaminação e perdas na produção é muito grande.