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Nº 1676 - Ano 36
16.11.2009

Imagens flagram ‘guerra’ no organismo

Pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Imunofarmacologia do ICB produz vídeos mostrando o combate a agentes patogênicos

Igor Lage

Imagem registra a passagem dos neutrófilos (em verde) na corrente sanguínea

Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras. Em se tratando de estudos em imunologia, ramo da biologia que investiga os mecanismos utilizados pelo corpo para se defender de vírus, bactérias e outros invasores, a captura de momentos de atuação do sistema imunológico significa criar oportunidades de desenvolver ainda mais as pesquisas na área.

Foi o que conseguiu o pesquisador Gustavo Batista de Menezes, aluno de pós-doutorado do Departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB. Em pesquisa desenvolvida na Universidade de Calgary (Canadá) para seu projeto de pós-doutorado, o pesquisador produziu vídeos que mostram o acúmulo de células de defesa no fígado de um camundongo, simulando uma situação de infecção generalizada. “A análise das imagens aumenta as chances de descobrir novos fenômenos”, afirma Gustavo de Menezes.

Para realizar a gravação do vídeo, ele utilizou uma técnica que permite visualizar a reação do organismo a um processo de infecção com o animal ainda vivo, em estado de anestesia. Utilizando marcadores para facilitar a distinção de neutrófilos (células de defesa capazes de realizar fagocitose) e bactérias, o animal ficava em observação por horas enquanto a imagem gerada pelo microscópio era gravada. Segundo o pesquisador, foi possível perceber que, durante o processo filmado, o organismo libera um “mediador” que regula a resposta inflamatória. Isso faz com que as células inflamatórias se acumulem no fígado, um dos órgãos mais atuantes no combate a corpos estranhos, o que aumenta as chances do organismo se curar da infecção.

“As imagens geradas ajudam a entender melhor o funcionamento do sistema imunológico, o que pode resultar no desenvolvimento de novos tratamentos para infecções generalizadas”, afirma Gustavo de Menezes. Ele explica que, na maioria das vezes, as bactérias responsáveis pela infecção espalham-se pelo corpo através da corrente sanguínea e acabam atingindo o fígado, que as retém para tentar destruí-las. Se a quantidade de bactérias for muito elevada, o organismo pode reagir causando uma inflamação exagerada, o que levaria as células de defesa a destruírem não só os invasores, mas também o tecido hepático. “Grande parte dos pacientes que apresentam esse tipo de infecção podem sofrer um choque séptico e, consequentemente, falência hepática. Nesses casos, a chance de morte é bastante elevada”, afirma o pesquisador, ressaltando que muitos óbitos poderiam ser evitados se houvesse maior conhecimento da doença. “Acredito que a pesquisa possa servir de base para futuros tratamentos”, complementa.

Prêmio

Foca Lisboa Gustavo de Menezes entre Fernanda Coelho (à esq) e Ana Maria de Paula

O trabalho desenvolvido por Gustavo de Menezes recebeu o prêmio de melhor pôster na categoria pós-doutorado no XXXIV Congresso da Sociedade Brasileira de Imunologia, realizado entre 23 e 26 de setembro, em Salvador. Sua pesquisa também foi apresentada no IX Congresso Latino-Americano de Imunologia, que aconteceu entre 3 e 7 de novembro, em Viña del Mar, no Chile. Além disso, ele publicou recentemente os resultados do estudo no periódico norte-americano The Journal of Immunology.

“Mais que o reconhecimento, o importante foi trazer essa pesquisa para o Brasil e dar continuidade a ela aqui na UFMG”, afirma Menezes. Sob a coordenação do professor Mauro Teixeira, chefe do Laboratório de Imunofarmacologia do ICB, O pesquisador dá prosseguimento a seus estudos em colaboração com a professora Ana Maria de Paula, do Laboratório de Biofotônica do Departamento de Física do ICEx, e com a doutoranda em Fisioterapia Fernanda Coelho. Esta última vale-se de imagens para estudar artrites.

Toda a tecnologia de ponta utilizada nas melhores universidades do mundo foi incorporada pela UFMG, inclusive o microscópio confocal por dois fótons que permite a geração de imagens com alta qualidade, como as gravadas no projeto. “A UFMG é a única universidade da América Latina que desenvolve pesquisa do gênero com equipamentos dessa qualidade”, orgulha-se Gustavo Menezes. Segundo ele, que está envolvido nessa linha de investigação há nove anos, o próximo passo é testar novas drogas no modelo animal de infecções inflamatórias para, em seguida, dar início ao processo de desenvolvimento de futuros medicamentos.