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Nº 1679 - Ano 36
7.12.2009

Professor da UFMG apresenta em Copenhague estudo sobre fim do desmatamento na Amazônia

Publicada na Science, pesquisa vislumbra cenário “factível” para 2020

Ana Maria Vieira

Colocar um ponto final no desmatamento da Amazônia brasileira pode ter data e custo bem mais precisos, segundo artigo apresentado na edição do último dia 4 da revista Science – publicação especializada norte-americana de reconhecido prestígio entre a comunidade científica internacional. Estimada para ser alcançada em 2020, com o aporte entre 7 e 18 bilhões de dólares, a meta é qualificada pelos próprios autores como extraordinária e de realização extremamente difícil. No entanto, chama a atenção ao ser posta em cenário bastante positivo para sua concretização.

“Ela é factível; basta lembrarmos que, entre 2004 a 2009, houve redução de 27 mil quilômetros quadrados para sete mil quilômetros quadrados de desmatamento na região”, diz o professor do Instituto de Geociências da UFMG Britaldo Soares Filho, um dos principais autores do artigo, junto com Daniel Nepstad, do Woods Hole Research Center (EUA). Britaldo, que participou da elaboração do quarto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC – 2007), realiza diversas pesquisas direcionadas a programas de mitigação para a região amazônica, sobretudo sob a égide da Redd (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal). O estudo que resultou na produção do artigo publicado na Science contou com a participação de outro pesquisador da UFMG, Herman Rodrigues, vinculado ao Centro de Sensoriamento Remoto (CSR).

Na avaliação dos autores, a oportunidade de financiar o fim da derrubada da floresta amazônica deverá ter origem exatamente no pagamento de créditos de carbono ou pela Redd. Por este mecanismo, governos e organizações diversas podem compensar países pela redução do desmatamento. Sua adoção oficial estará em negociação nas reuniões visando ao próximo tratado climático da ONU, durante a 15ª Conferência das Partes (COP 15), realizada pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), de 7 a 18 de dezembro, em Copenhague.

“As nações já sinalizaram que devem incluir no novo protocolo do clima mecanismo de compensação financeira para os países em desenvolvimento reduzirem suas emissões de carbono, pondo fim ao desmatamento, como é o caso do Brasil”, observa Britaldo Soares Filho, que participará de evento científico paralelo à COP 15, apresentando o estudo publicado na Science, além de outra pesquisa sobre a região trinacional da Amazônia conhecida por MAP e constituída pelo departamento de Madre de Deus do Peru, estado do Acre e departamento de Pando da Bolívia.

Prêmio a quem preserva

A expectativa relativa à Redd não é utopia. Em 2008, conforme exemplificam os autores, a Noruega decidiu destinar 1 bilhão de dólares à Amazônia caso ela sustente metas de redução de desmatamento estabelecidas no tratado do clima das Nações Unidas. Outra sinalização do fortalecimento do mercado de compensação pela Redd reside na aprovação de lei sobre energia limpa pela Câmara dos Deputados dos Estados Unidos. A estimativa dos autores é que ela possa gerar receitas – por meio de reduções no desmatamento – da ordem de 37 bilhões a 111 bilhões de dólares entre 2013 e 2020. Internamente, os recursos se destinariam sobretudo às comunidades locais responsáveis pela manutenção da floresta, financiando suas atividades econômicas, saúde, educação e preservação cultural. Incluem-se aí os chamados povos tradicionais da floresta, pequenos agricultores e proprietários de terra legalizada.

“É preciso criar mecanismos no Brasil para premiar os produtores dessas regiões que cumprem a lei. Eles enfrentam custos altos e competem com outros que se encontram ilegais na atividade, e assim podem vender a preços mais baixos”, acrescenta o professor da UFMG, lembrando que a pecuária é responsável por quatro quintos do desmatamento da Amazônia. Compromissos sociais e ambientais de frigoríficos e outras medidas legais para impedir a invasão e derrubada da floresta também são lembrados pelos autores.

O Brasil ocupa quinto lugar no ranking mundial de geração de gases do efeito estufa (GEE). Apenas de gás carbônico, o país lança 1 bilhão de toneladas na atmosfera. Pelo menos 60% do total provêm de desmatamento e queima de florestas. Simulações desenvolvidas pelo Centro de Sensoriamento Remoto do IGC avaliam que o fim da derrubada da mata amazônica brasileira reduziria de 2% a 5% as emissões globais de carbono – o que traria grande impacto sobre o efeito estufa. Outra vantagem apontada pelos autores do artigo da Science é que, se as medidas de redução de desmatamento forem ampliadas, 80% da floresta amazônica original vai se encontrar preservada em 2020. “Isso seria um capítulo inédito na expansão histórica das fronteiras. Não ocorreu em nenhum outro local do mundo”, observa Britaldo, que coordena o Programa de Pós-Graduação em Modelagem de Sistemas Ambientais da UFMG.