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Nº 1692 - Ano 36
26.4.2010

Missão cumprida

Reconhecido pelo Conama, Jardim Botânico da UFMG ganha respaldo para intensificar projetos

Fernanda Cristo

Uma ilha verde na zona leste de Belo Horizonte. É assim que o diretor do Museu de História Natural e Jardim Botânico (MHNJB) da UFMG, Fabrício Fernandino, define o espaço. Originada de uma fazenda da família Guimarães, a área foi usada pelo governo do estado, na década de 1930, como Horto Florestal, onde se plantavam mudas para arborizar a então recente capital de Minas Gerais.

“Nesse processo, toda aquela mata foi sendo preservada, tem árvores centenárias lá”, conta Fernandino. Na década de 1970, o espaço foi dividido. Os prédios ficaram com o governo e a área verde foi doada para a UFMG, para criação do Jardim Botânico da capital.

Quatro décadas depois, essa missão foi cumprida oficialmente. No início deste mês, o MHNJB obteve do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) registro oficial de reconhecimento de seu jardim botânico. Para chegar lá, foi preciso cumprir uma série de metas: possuir quadro de profissionais técnicos na área da botânica e em serviços de vigilância, além de jardineiros, apoio administrativo logístico, programas de educação ambiental, infraestrutura para visitantes, herbário, sistema de registro do acervo de botânica, produção de mudas nativas, apoio a parque e unidades de conservação e programas de pesquisa em conservação, os dois últimos em implantação.

“O registro formaliza a missão da instituição. Agora temos mais respaldo”, afirma a bióloga do Jardim Botânico Flávia Faria. Ela ressalta, no entanto, que o reconhecimento não é permanente, por isso é preciso dar continuidade aos programas desenvolvidos até agora.

O processo para obtenção do registro envolveu desde tarefas simples, como a reforma de estufas e sementeiras, até o desenvolvimento de programas cujo objetivo é preservar plantas em seu ambiente natural. “Conseguimos o financiamento e vamos começar levantamento florestal na Serra da Gandarela”, comemora Flávia. O objetivo é ajudar na criação de um parque nacional.

Entre os projetos de preservação, destaca-se ainda a coleção de orquídeas raras, em parceria com o Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). O acervo será usado para construir banco de DNA e realizar estudos taxonômicos, de genética de populações, filogenia e biologia reprodutiva.

Reestruturação

O antigo Horto Florestal produz mudas até hoje. De acordo com Fabrício Fernandino, são cerca de 25 mil por ano, principalmente de mogno, cedro, pau-brasil e ipê. As sementes são coletadas no próprio Jardim Botânico. O diretor do MHNJB lembra que, antes de o prédio do ICB ser instalado no campus Pampulha, a área verde no bairro Santa Inês, que contava com vários laboratórios, era explorada sobretudo por professores do Instituto. Com a mudança para o campus, eles optaram por transferir também seus laboratórios, deixando o Museu de lado.

Para atrair os pesquisadores de volta, a solução foi reconstruir os laboratórios e fazer campanha na Universidade. “Voltamos a ter a presença de estudiosos mapeando árvores e animais. Com isso, construímos um corpo de pesquisa dentro do Jardim Botânico, cumprindo uma das exigências do Conama”, relata Fernandino.

Em 2007 foi estruturado, com apoio da Fapemig e do CNPq, o setor de Plantas Aromáticas, Medicinais e Tóxicas, coordenado por Maria das Graças Lins Brandão, professora da Faculdade de Farmácia. O local é único no país. “Temos plantas que eram muito usadas nos séculos 18 e 19 e que hoje ninguém conhece mais”, comenta ela.

As mudanças não atraíram apenas os pesquisadores. De acordo com o diretor do Museu, o número de visitantes subiu de 40 mil para quase 80 mil por ano desde 2006. “Outra necessidade imposta pelo Conama era consolidar um programa de educação ambiental. Hoje recebemos estudantes e trabalhamos a formação das pessoas na questão ambiental”, explica Fabrício. Além da UFMG, possuem jardins botânicos em Minas Gerais a Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte, a Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas e o Instituto Inhotim.