Busca no site da UFMG

Nº 1718 - Ano 37
08.11.2010

Sociedade dos CIENTISTAS JOVENS

Criado para aprofundar o estudo da disciplina, Clube de Ciências do Centro Pedagógico celebra 20 anos

Fernanda Cristo

Foto: Foca Lisboa
wander_melo_foto_foca_lisboa.jpg
Alunas observam comportamento de formiga: estudo resultou em trabalho apresentado na UFMG Jovem

Arthur, João Pedro e Matheus cuidam de um aquário com um dourado e um beijador. Alunos do 6o ano do ensino fundamental, eles gostam de fazer experimentos com os animais, para observar o comportamento deles. Além da ração, uma vez jogaram goiaba e salsicha no aquário. “A gente queria ver se eles são carnívoros”, explica um dos garotos. A diferença desses estudantes para seus colegas é que, ao fim das observações, eles escrevem artigos e apresentam os resultados em feiras de ciências.

Os três participam do Clube de Ciências do Centro Pedagógico (CP) da UFMG, que esse mês completa 20 anos de existência. Geralmente às quintas-feiras, eles e mais 14 estudantes se reúnem com professores-orientadores para descobrir e testar, por meio da prática, o conteúdo dos livros didáticos.

A coordenadora e fundadora do Clube, Selma Moura, vice-diretora do CP, conta que o objetivo inicial era ajudar os alunos com dificuldades na disciplina. “Normalmente os clubes de ciência atraem estudantes que já conquistaram sucesso acadêmico. Nossa ideia foi fazer o contrário”, diz. No começo, o Clube foi configurado como projeto e tinha data para terminar. Mas em 1996, quando a iniciativa chegaria ao fim, Selma conta que os alunos reivindicaram sua continuidade e ele se tornou um programa permanente.

Além dos experimentos práticos, os alunos complementam a pesquisa com consulta a livros e à internet, participam de excursões dentro e fora da Universidade e até viajam. “Já participamos da semana da biologia marinha no Espírito Santo”, afirma Selma. Outra viagem foi para Natal (RN), onde os alunos apresentaram um trabalho sobre morcegos na SBPC Jovem – evento da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência voltado para o público jovem. O estudo ajudou um pesquisador potiguar a concluir um trabalho sobre esses animais.

Em duas décadas de existência, a professora estima que já tenham passado pelo Clube mais de 500 estudantes. “Temos ex-clubistas que fazem doutorado no exterior”, afirma Selma, sem disfarçar o orgulho. Segundo a vice-diretora, muitos prestam vestibular para as áreas de ciências biológicas e veterinária influenciados pela experiência no ensino fundamental. “Nosso objetivo principal, no entanto, é despertar o gosto pela ciência”, pontua.

Fernanda, de 11 anos, já decidiu que vai ser paleontóloga. Junto com o pai, a estudante criou o jogo “brincando com a paleontologia”. Ela diz que, no Clube, tem a oportunidade de aprender coisas novas, que não são ensinadas em sala de aula. “Gosto de ciências, quero ser cientista quando eu crescer”, afirma.

Formigas, tomates e maquetes

O espaço destinado ao clube fica no nível mais baixo do prédio do CP. Há uma área com mesas e cadeiras, uma pequena sala para guardar os experimentos e uma horta. “Não é uma horta clássica, daquelas bem arrumadinhas. Precisamos que eles vejam como a natureza funciona”, argumenta Selma. Junto da plantação de tomates, por exemplo, estão alguns pés de salsa, uma vez que o cheiro da planta espanta as pragas que atacariam a fruta. Trata-se, segundo a professora, de uma “horta biológica”.

Na sala de experimentos, existe uma maquete de cidade construída pelos próprios alunos. Através dela, os pequenos cientistas podem inferir como a cobertura dos prédios altera o percurso da luz do sol até as árvores.

Outro experimento é o terráreo de formigas e cupins. Ariane, Catarina e Dâmaris, responsáveis pelo projeto, explicam que o objetivo era analisar como seria a convivência desses insetos. “Observamos durante três semanas. Da última vez que fomos olhar, não tinha nada lá”, diz Catarina. “A gente não sabe se eles fugiram ou morreram”, completa Ariana, um pouco decepcionada. Mesmo assim a observação deu origem ao artigo “Comportamento de formigas e cupins dentro de um terráreo”, exposto na UFMG Jovem, no mês passado, dentro da programação do UFMG Conhecimento e Cultura.

A coordenadora do Clube diz que os próprios estudantes escolhem o que vão pesquisar. “Certa vez uma aluna queria fazer um trabalho sobre qualidade do leite. Para desenvolver a pesquisa, ela fez até um treinamento com o pessoal do ICB”, diz Selma. Se o projeto envolve bichos, os estudantes são alertados de que terão que cuidar deles durante toda a pesquisa. “Em outra ocasião, uma estudante levou um jabuti para a escola, para ver se ele realmente viveria cem anos”, lembra a professora. A direção do CP pediu licença ao Ibama para ficar com o animal e, durante um ano, os alunos tomaram conta dele, enquanto observavam seu comportamento. Tempos depois, a aluna que tinha levado o jabuti decidiu devolvê-lo. “Ela disse que já tinha dado para constatar que ele vivia mesmo cem anos. Acho que, na verdade, ela se cansou”, brinca Selma.

Os orientadores do Clube de Ciências são professores do próprio Centro Pedagógico. Mas o programa também conta com a colaboração de professores de outras unidades e alunos de graduação, principalmente do ICB. No último dia 5, um colóquio celebrou os 20 anos do programa. O evento teve palestra da professora Berenice Álvares Rosito, da PUC-RS, e mesa-redonda com orientadores e coordenadores de clubes de ciência, além de exposição de trabalhos e apresentações musicais.