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Nº 1718 - Ano 37
08.11.2010

A VISA como ela é

Nescon lança publicações que reúnem histórias de
profissionais da Vigilância Sanitária do Brasil

Zirlene Lemos*

Histórias não faltam. Algumas engraçadas, como a do dentista que usava sua estufa de esterilizar instrumentos para assar pizza no consultório, ou de uma funerária que vendia caixões com alças que se rompiam e faziam com que o cadáver chegasse mais rápido à sepultura do que o esperado. Outras têm caráter de tragédia, como a que denuncia as precárias condições de funcionamento de uma creche e os maus-tratos dispensados pelos seus funcionários às crianças.

Esses são alguns dos 189 relatos ocorridos no cotidiano dos trabalhadores da Vigilância Sanitária, conhecida pela sigla Visa, que compõem o projeto Histórias da Visa Real. Trata-se de uma iniciativa da UFMG, que produziu material multimídia contendo quatro e-books, além de vídeos e fotos. Todo esse material será lançado no V Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária (V Simbravisa) que acontece de 13 a 17 de novembro, em Belém (PA).

O projeto é fruto de parceria do Centro Colaborador em Vigilância Sanitária (Cecovisa), do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon) da Faculdade de Medicina da UFMG, com a Escola de Saúde Pública de Minas Gerais (ESP/MG) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para Gustavo Werneck, coordenador do Cecovisa/Nescon e um dos organizadores do material, “coletar estas histórias a partir da palavra dos trabalhadores das diversas regiões do país possibilitou conhecer diferentes situações e realidades distintas do ponto de vista regional, técnico, político, cultural e social”.

Werneck destaca ainda que a iniciativa também dá aos servidores da vigilância sanitária a possibilidade de trocar experiências. “As histórias e as dificuldades relatadas pelo profissional podem ajudar trabalhadores a resolverem uma situação semelhante vivenciada em outro local”, analisa ele, ressaltando ainda a importância de reunir as histórias como forma de construir a memória da vigilância sanitária no Brasil.

Daniella Guimarães de Araújo, do Núcleo de Educação, Pesquisa e Conhecimento da Anvisa, compartilha a mesma opinião e vai além. “Escrever uma história real leva a um processo de reconstrução e a pensar o que o acontecimento narrado pode significar no processo de trabalho, além de apresentar uma perspectiva de novas tecnologias em pesquisa”, destaca.

Organizado em quatro volumes e por categorias, as histórias, ilustradas com aquarelas e fotos, foram divididas em grandes temas: A imagem da Visa e do risco; O modo de fazer em Visa; Réplica do setor regulado; Síndrome do ‘levar vantagem’: interesses individuais em detrimento do coletivo e Situações inusitadas. O material, que será distribuído na versão de CD-ROM, também ficará acessível na Biblioteca Virtual do Nescon e no site historias visa.

Além do material produzido, que poderá ser utilizado em capacitações promovidas pela Anvisa e instituições afins, como auxílio no processo de educação permanente dos profissionais, há planos para a formação de uma rede virtual de troca de experiências e de novo estudo que traga o olhar da população sobre o trabalho da vigilância sanitária.

Adesão em massa

Lançado nacionalmente em agosto de 2009, o objetivo do Histórias da Visa Real foi reunir experiências vivenciadas pelos trabalhadores da área de vigilância sanitária no âmbito da prevenção, eliminação e diminuição dos riscos à saúde. Durante 70 dias e apenas com divulgação eletrônica, o projeto recebeu 189 histórias de 113 autores. “Alguns mandaram apenas uma, mas teve gente que enviou quatro, cinco e até mais de nove histórias. O limite dos textos era de até duas páginas, mas recebemos alguns que variavam de quatro linhas a 12 folhas”, relatou Marilene Barros, superintendente de Pesquisa da ESP/MG.

Foram coletadas histórias de todas as regiões do país. O Sudeste foi a região com o maior número de colaboradores, seguida pelo Sul. Minas Gerais foi o estado que mais enviou histórias, superando Rio de Janeiro e São Paulo. A participação feminina predominou (66%) em relação à masculina (34%).

Todas as histórias recebidas foram agrupadas em categorias de acordo com o tema principal. A maioria abordava questões relacionadas aos processos de trabalho (38,6%). Os textos também foram divididos por áreas da vigilância sanitária. A mais comentada foi “alimentos” (36,5%).

*Jornalista do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon) da Faculdade de Medicina