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Nº 1719 - Ano 37
15.11.2010

ALFA, beta e MOUSE

Dissertação prevê diretrizes para criação de aplicativos que facilitem ensino de libras e português para crianças surdas

Giselle Ferreira

Arquivo de Pollyanna Abreu
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Crianças testam aplicativo que favorece a interface da língua de sinais com o português

As tecnologias de informação e comunicação (TICs) disponíveis no mercado nem sempre estão focadas em crianças surdas, e o ensino da linguagem de sinais para esse público em Minas Gerais ainda é muito defasado em termos de recursos didáticos e práticas pedagógicas. Essa é a principal conclusão apontada pelo estudo Recomendações para projetos de TICs para apoio a alfabetização com Libras, desenvolvido pela pesquisadora Pollyanna Miranda de Abreu como dissertação de mestrado em Ciência da Computação na UFMG.

Dedicada a melhorar os aplicativos computacionais de alfabetização de crianças com deficiência auditiva, a dissertação apresenta diretrizes de acessibilidade para auxílio de projetistas voltados à alfabetização de crianças surdas, além do programa Mãos Mágicas Libras, protótipo criado para validar tais recomendações.

Dividido em três etapas, o estudo privilegiou, num primeiro momento, depoimentos de seis professores de escolas inclusivas da rede pública de Belo Horizonte com formação em Libras. De acordo com as respostas, ficou constatado que também é preciso adotar medidas para capacitá-los, uma vez que muitos afirmaram não dominar as tecnologias.

Na segunda etapa, parte das recomendações propostas baseou-se em especificações do consórcio internacional W3C/WAI, que visa desenvolver padrões para a criação e a interpretação de conteúdos para a Web. Ele propõe diretrizes gerais de acessibilidade para atender quaisquer tipos de deficiência, sendo selecionadas apenas as aplicáveis a sistemas para usuários surdos.

Em seguida foi realizada inspeção nas interfaces de sistemas voltados para surdos disponíveis no mercado através do Método de Inspeção Semiótica (MIS), com o objetivo de identificar estratégias de comunicação com surdos usadas por outros projetistas de sistemas. As avaliações provaram que as interfaces não atendem satisfatoriamente às necessidades das crianças e, na tentativa de superar essa barreira da comunicação, Pollyanna Abreu buscou abranger especificações psicológicas e linguísticas das crianças surdas em um trabalho multidisciplinar e aplicá-las nas recomendações e no protótipo de software.

Uma das premissas de convivência entre os surdos defende que as coisas devem sempre ser ditas de modo a facilitar a comunicação. Assim, as recomendações desenvolvidas a partir das entrevistas e das análises procuram, em primeiro lugar, atender a esse quesito.

Fixação do aprendizado

Entre as medidas aconselhadas, destacam-se a utilização de linguagem e signos presentes nos cenários concretos conhecidos pela criança e a disposição do conteúdo de forma simples – interativa e redundante – de modo a possibilitar a fixação do aprendizado. “As propostas da pesquisa representam um primeiro passo na direção de se oferecer recursos de apoio ao desenvolvimento de TICs para alfabetização de crianças surdas, e isso não serve só para os sistemas assistivos. Na internet, por exemplo, quando um surdo não entende o texto de uma propaganda ou de outro conteúdo, ele deve ter acesso a um vídeo ou à tradução em libras – o que não acontece”, argumenta Pollyanna.

Outras condições consideradas indispensáveis por Pollyanna Abreu para uma tecnologia voltada para esse público são a realização de atividades para exercitar o vocabulário e o uso de indicadores de aprendizado, tanto para guiar as ações dos professores quanto para motivar os alunos.

Magia nas mãos

O sistema-embrião de alfabetização de crianças surdas teve suas bases totalmente projetadas a partir das recomendações apresentadas na pesquisa. Na análise das interfaces, a pesquisadora percebeu que algumas das falhas dos programas deviam-se à falta de traduções para a linguagem de sinais. “Alguns projetistas não compreendem que a língua portuguesa não é a mais fluente entre as crianças, e sim a língua de sinais. É preciso fornecer alternativas de linguagem para que o entendimento aconteça”, afirma.

O Mãos Mágicas Libras foi desenvolvido com o objetivo de favorecer a ligação da língua de sinais com o português, utilizando três formas de representação: vídeos, figuras e textos. O programa foi dividido em quatro módulos, que dispõem o conteúdo gradualmente: de início, são oferecidas figuras geométricas para familiarizar a criança com o computador, treinando a coordenação motora e o manuseio do mouse. Em seguida, é apresentado o alfabeto em libras, associando-o ao seu correlato em português. Na terceira etapa, a criança monta um quebra-cabeça para desenvolver a capacidade de juntar as sílabas. O quarto módulo tem o objetivo de ensinar palavras em libras e em português, por meio de clássicos da literatura narrados em vídeos.

Dissertação: Recomendações para projetos de TICs para apoio a
alfabetização com Libras
Autora: Pollyanna Miranda de Abreu
Data de defesa: 25 de agosto
Programa: Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação do ICEx
Orientadoras: Raquel Oliveira Prates e Elidéa Lúcia Bernardino