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Nº 1726 - Ano 37
14.02.2011

Entrevista / Maurício Campomori

Vem das cidades da região metropolitana, e não de BH, a maior parte do público que frequenta as atividades do Festival de Verão. O fenômeno tem explicação: falta de oportunidades e de eventos similares nessas cidades e o trânsito já comum de pessoas que dormem lá e trabalham cá. Se a informação é indicativa de sucesso, para o coordenador do Festival, Maurício Campomori, ela ainda não é suficiente. Em entrevista ao BOLETIM, o professor explica as metas da UFMG e as mudanças que o evento sofreu este ano. “Não dormimos sobre fórmulas de sucesso”, afirma ele.

A programação do Festival traz, este ano, temas da academia, com outros de ciência do cotidiano. Essa é a direção do evento?

Buscamos maior abertura do perfil do Festival para atender da forma mais larga possível o interesse do matriculando. Não é apenas o interesse acadêmico da Universidade. O que descobrimos, com o passar do tempo, é que a Universidade, a despeito da imagem de Torre de Marfim do conhecimento, lida – e sempre lidou, mas não vem muito à tona – com questões do interesse cotidiano das pessoas. Precisamos fazer com que elas saibam disso. Ao mesmo tempo em que fazemos pesquisas de ponta, trabalhamos também com o dia a dia das pessoas.

A pesquisa Percepção Pública da Ciência divulgada recentemente pelo MCT mostrou que o brasileiro se interessa mais por temas da ciência do que pelos do esporte. Para o Festival isso não deve surpreender...

Acho impressionante, mas creio que era esperado, ainda que não imaginasse a ciência superando o interesse por esporte. Hoje, no entanto, vemos que a mídia está muito interessada em ciência e a programação das televisões já reserva fatia muito grande voltada para o tema. Creio que as pessoas estão começando a compreender que a ciência não é algo separado da vida. Elas estão buscando respostas, explicações para problemas de seu cotidiano.

Este tipo de evento ajuda a colocar abaixo a noção de que o espaço da UFMG se destina apenas a um segmento de pessoas?

É exatamente isso. E, ao trazer o Festival para o campus da Pampulha, queremos que este espaço comece a se abrir um pouco mais para a população. O reitor Clélio Campolina sempre diz que é necessário fazer com que o campus interaja mais com a cidade. E nós temos tido a percepção de que ele não deve se tornar um gueto no tecido urbano. É preciso aceitar que pessoas que não são da Universidade utilizem esse espaço, que é público e precisa ter função social.

Estudantes de fora mostram quase espanto por esse espaço...

Todos se impressionam com o campus. Ele é um ilustre desconhecido da população de Belo Horizonte. No entanto, é um dos locais que têm maior potencial para funcionar como espaço de visitação: é uma reserva ambiental, um local de grandes atrações intelectuais e com razoável patrimônio arquitetônico da época do modernismo. Então ele deveria fazer parte dos roteiros turísticos da Pampulha. Neste Festival teremos uma oficina sobre o tema, que, se bem-sucedida, deverá ser transformada em projeto de extensão permanente para estimular a cidade a interagir mais com o campus.

Maria Alcina vai fechar o Festival: que diálogo é esse que estão propondo?

Basicamente, continuamos a nossa tradição de trabalhar a ideia de diversidade e fazer resgates culturais, trazendo para o convívio da população valores que às vezes são muito significativos da nossa cultura e que, por alguma razão, ficaram fora do circuito tradicional da mídia. Maria Alcina foi uma figura importante dos anos 70 e o show em homenagem a Carmem Miranda expressa isso.

Qual o perfil do público do Festival?

Ele é majoritariamente da região metropolitana, mas não de Belo Horizonte. Nós temos 54% do público contabilizado nas quatro edições de fora de Belo Horizonte. A faixa etária vai de 7 a 84 anos.

Isso decorreria de falta de oportunidades em suas cidades?

Muitos atuam em BH, mas residem nessas cidades, sendo natural buscarem oportunidades aqui. A outra razão é que oferecemos, no período de carnaval, alternativa de programação qualificada. As prefeituras da região metropolitana estão se empenhando muito, mas as pessoas têm uma demanda muito larga em termos culturais e acabam buscando oportunidades em outros locais

O senhor já comentou que a UFMG é a maior produtora de eventos culturais em BH, incluindo os festivais que coordena. Isso permanece?

É verdade. No ano de 2009 produzimos mais de 340 eventos. Temos média muito superior à de um evento por dia útil. Não há em Minas Gerais produtor que faça algo semelhante. Nosso foco é abrir oportunidades e criar condições para formação e experimentação na área.

Como financiar tudo isso?

Basicamente, com recursos próprios. Às vezes conseguimos patrocínios. Mas sempre com muita dificuldade, mesmo amparados nas leis de incentivo, porque não fazemos o que o mercado deseja. Temos, na verdade, atuação complementar ao mercado.