Busca no site da UFMG




Nº 1358 - Ano 28 - 18.07.2002

Extração de causos

Distrito de diamantina vira palco de oficina
que preserva memória oral do garimpo

Carla Maia

 

urralinho, distrito de
Diamantina, também conhecido como Extração, já foi um dos mais importantes pontos de comércio do Vale do Jequitinhonha. O garimpo atraía pessoas de lugares diversos, com um sonho em comum — encontrar um belo diamante, "enricar", mudar de vida. Alguns deram sorte, garimparam a sorte grande. Outros ficaram esquecidos em Extração, um lugarejo perdido, de casas gastas e bares poucos, que nada faz lembrar o local em que o diamante já foi moeda corrente.

Na quarta-feira, 10 de julho, a rotina dos poucos moradores de Curralinho foi alterada pela chegada de cerca de 40 pessoas, entre alunos e professores das oficinas Memória do Garimpo — Contos Orais da Extração e Arte Nata, Arte, oferecidas pela 34ª edição do Festival de Inverno da UFMG. Eles desembarcaram no lugarejo com um objetivo: ouvir as histórias e causos de Seu Oto Guedes e Seu João da Cruz, dois antigos moradores do distrito. O cenário da performance dos contadores não poderia ser mais inspirador: a Ponte do Acaba Mundo, ícone da arquitetura do lugar.

Seu Oto, 68 anos, mais de meio século no garimpo, foi o primeiro a contar suas histórias de diamantes encontrados e perdidos, seus casos de assombração e valentia. Seu João da Cruz, 58 anos, chegou atrasado, estava no garimpo, como faz há mais de 40 anos. Falou menos que Seu Oto, em voz baixa, sorridente, como se resgatasse não só a lembrança, mas a alegria dos outros tempos. Os jovens participantes da oficina Memória do Garimpo, todos nascidos em Curralinho, ouviam com atenção a história que também é deles.

A tarde passou rapidamente, distraída pelas narrativas dos garimpeiros — resgates de um tempo perdido, que resiste na memória dos contadores para retornar e permanecer, em forma de voz e fábula, na lembrança de uma gente.

Oficina

A oficina de iniciação Memória do Garimpo Contos Orais da Extração, da área de Literatura e Cultura, foi ministrada pelas professoras de língua portuguesa e literatura brasileira da Faculdade de Filosofia de Diamantina (Fafidia), Vera Lúcia Dias e Iara Cardoso. Gratuita, a oficina foi direcionada a crianças e adolescentes de Curralinho, com o objetivo de resgatar e preservar a memória do município através de histórias contadas por cinco moradores antigos da região. Toda a oficina aconteceu no distrito. Ao final, os alunos apresentaram uma pequena peça de teatro, em que contaram e encenaram as histórias que ouviram. Os contos utilizados na oficina já haviam sido recolhidos e transcritos pelas professoras, em parceria com a docente da Faculdade de Letras da UFMG, Sônia Queiroz, que assessorou a elaboração do projeto de pesquisa Narrativas e cantos da Estrada Real.

A pesquisa, atualmente coordenada por Vera Dias e Iara Cardoso ao lado da professora da UFMG Carolina Antunes, busca preservar a memória e a tradição da região da Estrada Real, rota dos diamantes que eram transportados para o Rio de Janeiro. As professoras percorrerão o itinerário Diamantina-Conceição do Mato Dentro em busca de relatos que correm risco de cair no esquecimento.

As histórias contadas durante a oficina foram registradas em fita cassete para posterior gravação em CD, que será utilizado em escolas de 1ª à 4ª séries de Diamantina e região. Segundo Vera Lúcia Dias, a oficina preserva a memória do garimpo e desperta nos jovens o interesse pela sua terra. "Esses meninos podem vir a ser contadores de histórias, trabalhando como guias turísticos", sugere a professora.


Oficina: Literatura e Cultura Memória do Garimpo — Contos Orais da Extração
Evento: 34º Festival de Inverno da UFMG
Coordenação: professoras Vera Lúcia Dias e Iara Cardoso (Fafidia)
Duração: 8 a 13 de julho
Local: Curralinho, distrito de Diamantina