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Nº 1411 - Ano 29 - 09.10.2003


O carro dos sonhos

Alunos do curso de Instrumentação Industrial do Coltec desenvolvem protótipo de veículo híbrido

Andréa Hespanha

 

m veículo operacionalmente flexível, economicamente viável e ecologicamente correto. Seria o carro dos sonhos? Esse objetivo, por sinal, nada modesto, é perseguido por um grupo de alunos do curso de Instrumentação Industrial do Colégio Técnico. Sob a coordenação do professor Giovane Azevedo, eles desenvolvem o carro híbrido, modelo dotado de motor elétrico e a combustão, e que, por isso, apresenta baixo consumo de combustível, reduzida emissão de poluentes e de ruídos e menores custos de manutenção. Tudo que um motorista gostaria de ter na garagem.

A tecnologia híbrida vale-se de qualquer tipo de combustível (diesel, álcool, gasolina, gás) para ser transformado em energia elétrica que movimentará o carro. O veículo possui um sistema motogerador (formado por um motor de combustão interna que aciona um gerador responsável pela recarga de um conjunto de baterias) e um motor elétrico. Esse motor é controlado por um sistema eletrônico que responde aos comandos de aceleração e frenagem executados pelo motorista.

O carro híbrido permite a alternância de funcionamento do motor de combustão - existente nos carros convencionais - e do elétrico. "É isso que garante um consumo menor e a redução da emissão de poluentes", esclarece o professor Giovane Azevedo. A poluição atmosférica gerada pelo veículo híbrido é 60% inferior à emitida pelos automóveis convencionais, enquanto o ruído sonoro é inferior a 65 decibéis, dentro de uma faixa considerada suportável ao ouvido humano.

Homenagem

O protótipo desenvolvido pelos alunos do Coltec recebeu o nome de Kenzo, homenagem ao estudante e idealizador do projeto, Kenzo Noce, falecido em julho deste ano. O projeto começou no final de 2002 e encontra-se em etapa intermediária, em que se estuda a adaptação do motor de combustão interna. Atualmente, ele funciona apenas com o motor elétrico.

Segundo o professor Azevedo, o protótipo foi construído em estrutura metálica de alumínio, o que o deixou mais leve em relação aos automóveis existentes no mercado, já que o material possui um terço da densidade do aço. "Apesar do peso reduzido, essa estrutura, a mesma usada na fabricação de alguns aviões da Força Aérea Brasileira, é extremamente resistente a impactos", acrescenta o orientador do projeto.

O automóvel também apresenta vantagens econômicas em relação aos modelos convencionais, tanto no processo de fabricação quanto na manutenção. O modelo projetado pelos alunos apresenta baixo custo de produção, devido ao tipo de material utilizado, o alumínio. Já o custo de manutenção do veículo híbrido - gastos com lubrificantes, pneus, revisão mecânica - é 20% inferior ao de um veículo movido a gasolina. "Diante das constantes elevações no preço dos combustíveis, o carro híbrido torna-se uma opção muito atraente, pois que a economia com gasolina pode chegar a 60%", estima o professor Azevedo.

Apesar de o protótipo ser uma miniatura e atingir, no máximo, a velocidade de 30 quilômetros por hora, o professor Azevedo assegura que o projeto é perfeitamente viável para carros convencionais. "Pretendemos adaptar um sistema de engrenagem para aumentar o torque do motor", anuncia o professor, o que, segundo ele, otimizará o funcionamento do motor e permitirá que o veículo atinja velocidades maiores.

Outras aplicações

O coordenador do projeto também aponta outras alternativas de aplicação para o sistema híbrido. Ele pode, por exemplo, ser adaptado a outros equipamentos móveis, como veículos para portadores de deficiência física e de transporte de cargas em parques industriais e aeroportos.

Giovane Azevedo pretende patentear o modelo desenvolvido para viabilizar sua comercialização, mas aponta as dificuldades para inserção desse tipo de produto no mercado. "Os grandes conglomerados de petróleo fazem lobby contra tecnologias que contribuam para reduzir os lucros do mercado de combustíveis", afirma. Outro setor resistente é o das indústrias de automóveis a combustão, que precisariam modificar todo o seu parque industrial para a fabricação de veículos híbridos. "Nosso objetivo é mostrar que é possível aplicar a tecnologia para proporcionar a produção de carros de qualidade acessíveis a mais setores da sociedade", conclui Azevedo.

O projeto já começa a ficar conhecido fora do Coltec. Ele foi apresentado na última edição da UFMG Jovem, realizada em junho, e na 55a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que aconteceu em julho, na Universidade Federal de Pernambuco, em Recife.

Projeto: Veículo híbrido
Orientadores: Giovane Azevedo, Eustáquio Apolinário e Alberto Gontijo
Alunos: Jonas Albinati Castro, Rafael Blon Faria e Rafael Maia Serra, do curso de Instrumentação Industrial do Coltec, e Cláudio Henrique Alves, do curso de Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia