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Nº 1417 - Ano 29 - 20.11.2003

UFMG transfere tecnologia de produção
de medicamento contra hipertensão

Pesquisadores desenvolvem nova formulação para o remédio, que deverá chegar ao mercado em um ano

Maurício Guilherme Silva Júnior


ela primeira vez em sua história, a UFMG firma contrato de transferência tecnológica com uma indústria farmacêutica nacional. Assinado na semana passada, através da Diretoria de Transferência e Inovação Tecnológica, o acordo entre a Universidade e o laboratório Biolab-Sanus permitirá o desenvolvimento e comercialização de um anti-hipertensivo de longa duração. Elaborado e patenteado em conjunto por pesquisadores dos departamentos de Química, do Icex, e de Fisiologia e Biofísica, do ICB, o medicamento, administrado por via oral, é absorvido de forma gradual e mais eficaz pelo organismo. Assim, os efeitos de uma única ingestão podem durar de 3 a 7 dias.

A assinatura do acordo com o laboratório Biolab-Sanus permitirá à Universidade receber royalties sobre o faturamento líquido das vendas do medicamento. Os recursos arrecadados serão reinvestidos na própria pesquisa. A comercialização do composto depende agora do licenciamento e de sua certificação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo o professor Sérgio Costa, diretor de Transferência e Inovação Tecnológica, a expectativa é de que o medicamento chegue ao mercado em, no máximo, um ano.

Durante a solenidade, a reitora Ana Lúcia Gazzola ressaltou que a parceria representa um marco histórico para a Universidade, um dos grandes centros de conhecimento do país: "Hoje, a UFMG mudou de patamar. Essa assinatura marca uma nova forma de atuação". Além de cumprimentar o professor Rubén Dario Sinisterra e o doutorando Washington Xavier de Paula, da Química, e os professores Robson Augusto Santos e Fredéric Frézard, ambos do ICB, que pesquisaram o novo medicamento, a reitora analisou o papel social das universidades públicas. "Em qualquer país do mundo, os produtos das universidades devem estar à disposição da sociedade. Só assim, as instituições cumprem seu papel", completou.

Presente à solenidade, o diretor técnico-científico da Biolab-Sanus, Dante Alário Júnior parabenizou os pesquisadores pelo medicamento inovador e comentou a importância da proximidade entre universidade e empresa. "Hoje, quebramos a idéia errônea de que academia e indústria não poderiam trabalhar juntos devido a caminhos e interesses diferentes". Dante lembrou que a proximidade com a Universidade é estratégica, até porque não é papel da indústria produzir ciência. "O que fazemos é desenvolver tecnologia, e não pesquisa científica", afirmou.

Formulação

O medicamento a ser industrializado pelo Biolab-Sanus é a nova formulação de um anti-hipertensivo de largo uso popular, que bloqueia as ações da angiotensina II, substância envolvida no desenvolvimento da hipertensão arterial, conhecida como pressão alta. No composto elaborado pelos pesquisadores da Universidade, a substância ativa do fármaco forma um complexo com um derivado do amido de milho. "Trata-se de um oligossacarídeo que potencializa as características de solubilidade e estabilidade do anti-hipertensivo no organismo. Ele permite que o fármaco seja liberado mais lentamente no organismo", explica o professor Rubén Dario Sinisterra.

Metodologia

A partir da tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores da UFMG, a necessidade de ingestão de medicamento cai vertiginosamente. Com o novo produto, os cerca de 7 milhões de usuários do medicamento mais usado no combate à hipertensão poderão substituir a dose diária por outra administrada a cada três ou sete dias, sem acréscimos de quantidade. Além de depender de um menor volume da substância para produção do remédio, a possibilidade de ingestões mais espaçadas poderá resultar na ampliação da adesão ao tratamento. Apesar da doença acometer cerca de 20% da população adulta do planeta, ainda é pequeno o índice de pessoas cientes da importância de cuidados especiais com a pressão arterial.

Para o desenvolvimento do anti-hipertensivo, os professores da UFMG utilizaram modernos métodos de análise e produção. No departamento de Química, foram empregadas tecnologias de encapsulamento molecular, e, no ICB, aparelhos de telemetria realizaram o registro de parâmetros cardiovasculares. Estudos pré-clínicos, feitos em ratos transgênicos espontaneamente hipertensos, revelaram que o complexo proporcionou absorção mais rápida do fármaco.