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Nº 1431 - Ano 30 - 25.3.2004

Arquivos contam história da repressão

om financiamento do CNPq e da Fapemig, o projeto de organização dos Arquivos da Repressão conta com o trabalho de cinco bolsistas de Iniciação Científica e dois de aperfeiçoamento. Na primeira etapa da pesquisa, a equipe realiza a organização dos acervos documentais do Dops/MG e da Aesi/UFMG. "Ainda não há um sistema de consulta que possibilite conhecer os dados do acervo. Estamos criando um instrumento de pesquisa. Trata-se de um fichário eletrônico que guardará as informações dos arquivos", explica o professor Rodrigo Patto.

Ele ressalta, no entanto, que o trabalho precisa respeitar a legislação federal. Por isso, determinados documentos ainda não devem ser divulgados, por se tratar de informações que podem pôr em risco a segurança do Estado ou atentar contra a honra e a privacidade das pessoas.

Assim que estiver organizado e classificado, o acervo esclarecerá uma série de questões sobre o funcionamento da estrutura repressiva. As informações permitirão, ainda, estudos sobre temas como movimento estudantil, partidos de esquerda e guerrilhas. "É um conjunto de documentos que abrirá muitas possibilidades de pesquisa", completa o professor.

O Reitor e o General

À época do golpe militar de 1964, a UFMG estava sob a gestão do professor Aluísio Pimenta, então com 39 anos. Em nome da resistência da Universidade, o mais jovem reitor a assumir a Instituição precisou, em diversas ocasiões, bater de frente com um oficial de alta patente, o general Carlos Luís Guedes, da Infantaria Divisória no 4.

Foram diversos os embates entre Guedes e Pimenta. Certa vez, o então Reitor recebeu de um oficial subordinado ao general o recado para que proibisse os estudantes de ostentar cabelos longos. Além de não acatar a ordem, o professor respondeu à altura: "Não mando nem meus filhos cortarem o cabelo".

Em outro episódio, o general, sempre à caça dos "bruxos" subversivos, pediu ao Reitor que preparasse um relatório com o nome de suspeitos de práticas comunistas. Para a investigação, Aluísio Pimenta instituiu uma comissão. Um mês depois, os resultados foram apresentados: não havia focos de comunismo na UFMG. Em reunião na Reitoria, além de chamar o relatório de farsa, Guedes deu um murro na mesa. O professor respondeu com dois murros e uma frase definitiva: "Não admito uma ofensa dessas à Universidade".

No dia 9 de julho de 1964, Aluísio Pimenta foi deposto do cargo de reitor da UFMG por determinação de Carlos Luís Guedes. Em seu lugar, assumiria o tenente-coronel Expedito Orsi Pimenta. A atitude foi a gota d´água para que Aluísio começasse uma intensa articulação política. Além de relatar o acontecido ao então ministro da Justiça, Milton Campos, o Reitor deposto enviou telegrama ao presidente da República Humberto de Alencar Castelo Branco. Quatro dias depois, a intervenção foi suspensa e Aluísio Pimenta voltou a dar expediente na Reitoria.

Em suas memórias, Carlos Luís Guedes descreve Aluísio Pimenta como um de seus principais desafetos. Tal inimizade declarada foi o preço _ pequeno - pago pelo Reitor em sua luta pela manutenção da integridade e da autonomia da UFMG.