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Nº 1452 - Ano 30 - 2.9.2004


Juventude libertária

Exposição na Reitoria relembra trajetória dos movimentos
estudantis da UFMG durante os anos de chumbo

Maurício Guilherme Silva Jr.

o Romanceiro da Inconfidência, a poeta Cecília Meireles registra a força de certo vocábulo que, alimentado pelo sonho humano, “não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”. Por sua misteriosa força simbólica, a palavra “liberdade” servirá de mote à homenagem que a UFMG prestará aos seus movimentos estudantis, exatamente no ano em que o golpe militar completou quatro décadas.

No dia 9 de setembro, em comemoração aos 77 anos da UFMG, o saguão da Reitoria abrirá suas portas para a exposição Liberdade, essa palavra, cuja curadoria é do professor Fabrício Fernandino, diretor de Ação Cultural da Instituição. A mostra contará com cerca de 90 imagens, entre fotos, cartazes, charges e panfletos, que retratam momentos marcantes do movimento estudantil no período 64-84.

Outro destaque está na montagem de uma “trilha sonora”, com mais de cem músicas entoadas pelos estudantes da época. Na coletânea, não faltam ícones do cancioneiro da resistência, como Disparada, de Geraldo Vandré, e Apesar de você, de Chico Buarque. “Mas há também um ´lado B´, formado por canções muito apreciadas pelo movimento estudantil, mas desconhecidas da juventude de hoje. São músicas que ficaram presas em seu tempo histórico”, diz a historiadora Heloísa Starling, coordenadora do Projeto República, responsável pela produção da mostra. Entre as raridades, estão canções de Paulo Sérgio Pinheiro, Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha, e “algumas do Chico menos conhecidas”, exemplifica a historiadora. A mostra também contará com um vídeo produzido com imagens da época.

A exposição homenageará os alunos da Universidade mortos em conseqüência da luta contra a repressão militar. Os nomes dos estudantes foram gravados em uma placa. “A mostra surgiu da idéia de rememorar a participação do movimento estudantil na busca por uma sociedade mais democrática”, explica a professora Maria Céres Pimenta, diretora do Centro de Comunicação (Cedecom) da UFMG. O próprio catálogo da mostra, produzido por profissionais do Cedecom, fará com que os visitantes retornem a tal período de luta pela democracia. Um dos lados da peça gráfica traz fac-símile de edição do Gol a Gol - Se pegá com o pé é dibra, publicação editada pelo DCE, entre 1970 e 1973, que funcionou como veículo de divulgação dos movimentos de resistência estudantil.

Conflito e esperança

A exposição será dividida em dois ambientes. Em um deles, mais “soturno”, ficarão imagens e documentos referentes aos conflitos entre estudantes e representantes do regime militar. No outro, serão reveladas ao público as manifestações culturais e artísticas que alimentavam o sonho de liberdade. Curador da mostra, o professor Fabrício Fernandino se diz satisfeito em realizar um evento de caráter político: “Não porque seja uma exposição de arte engajada, mas por se tratar de mostra documental, que traz a público os registros de uma época de luta, em que se acreditava no poder transformador do sonho e na força do coração”.

Exposição: Liberdade, essa palavra
Período: 9 de setembro a 13 de outubro, de 8 às 18h
Local: saguão da Reitoria
Curador: professor Fabrício Fernandino
Realização: Projeto República, Diretoria de Ação Cultural e
Centro de Comunicação (Cedecom)


Vigília democrática


A professora Samira Zaidan, da Faculdade de Educação, sentiu na pele a pressão dos anos de chumbo. Presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMG, na década de 70, ela lembra o quanto era difícil viver em contexto “fechado e repressivo”, caracterizado pela censura. Apesar disso, as universidades mantinham-se como espaço propício à discussão permanente e à formação da resistência: “Todos os dias, e ao longo de muitas horas, as mesmas pessoas encontravam-se nas universidades”, comenta.

Como outras instituições de ensino superior brasileiras, a UFMG transformou-se, nos anos 60 e 70, em espaço privilegiado de debate, cultura, manifestação e denúncia dos abusos da repressão. Até porque, destaca Samira, nem mesmo a edição do AI-5 fechou as entidades estudantis da Instituição. Além de participar de cineclubes, produzir festas e debates políticos, os estudantes envolveram-se em manifestações públicas e em conflitos com a Polícia Militar. Em dois deles, a PM invadiu os prédios da Fafich e da Faculdade de Medicina para reprimir manifestações que reivindicavam a rede- mocratização do país e a anistia.

De cima para baixo, vigília das Diretas na Praça da Rodoviária, em Belo Horizonte; cartaz do movimento pela anistia; e charge do cartunista Henfil