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Nº 1568 - Ano 33
12.3.2007

Caricatura_Lor

A vida em seu melhor traço

O cientista e cartunista LOR é homenageado por chargistas mineiros da nova geração

Maurício Guilherme Silva Júnior

Q

uando freqüentava o ginásio, na mineira Lambari, seu talento servia de auxílio à vida estudantil de diversos colegas de sala. Repletas de informações sobre o Brasil e o mundo, as histórias em quadrinhos de Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues eram lidas, à forma de cartilhas pedagógicas, por meninos e meninas afoitos por passar de ano.

Hoje, com o traço consolidado, o cartunista Lor é referência nacional. Tanto que recentemente colegas mais jovens – desta vez ligados à arte – resolveram homenageá-lo com a criação de um troféu anual que leva seu nome.

Quem receber a estatueta do Justiceiro ideológico, alusão a um dos personagens imortalizados por Lor, terá sido condecorado como um dos melhores cartunistas de Belo Horizonte.

As suas mãos que, há 34 anos, dedicam-se a quadrinhos, ilustrações, gravuras, caricaturas, peças de teatro e livros infantis, também geram ciência de qualidade. Médico formado pela UFMG em 1972, Luiz Oswaldo Rodrigues é mestre em Fisiologia do Exercício pelo ICB e doutor pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Nascido em Jesuânia (MG), perto de Lambari, o pesquisador se especializou em clínica médica e medicina esportiva. Desde 1985, é professor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG, onde desenvolve estudos no Laboratório de Fisiologia do Exercício. Primogênito dos seis filhos do médico José Benedito e da pintora, pianista e cantora Edith Carneiro Rodrigues, Luiz Oswaldo faz jus, na própria vida, aos princípios da ciência: observar, experimentar e analisar o mundo e suas complexidades.

Terrorista
Acusado de terrorista na juventude – e depois inocentado – por pertencer ao grupo Corrente, ligado a Carlos Marighela, Lor lançou mão de arma muito mais sofisticada para manifestar sua indignação: o traço. Seu primeiro “petardo” foi detonado em 1973, quando o Jornal do Brasil publicou sua sátira sobre a crise petrolífera, em que Tio Sam, em um tabuleiro de xadrez, dá o xeque-mate, com uma bomba atômica nas mãos, a uma torre de petróleo.

Lor já publicou em 11 jornais do país, entre os quais Diário de São Paulo, O Globo, O Estado de São Paulo, O Dia, Estado de Minas, Diário da Tarde, O Tempo e Hoje em Dia, além do BOLETIM. “Nos primeiros 13 anos, o desenho era uma atividade paralela, sem interesse lucrativo. Sempre vi a arte como instrumento de expressão artística e política”, diz o desenhista, sem esquecer de sua genealogia cartunística: “Meu pai artístico é Ziraldo, meu orientador, Nilson, e meu irmão, Henfil”.

A partir de 1986, o já cientista percebe que o desenhista também é profissional. Naquele ano, Lor vence o concurso nacional de charges de O Globo e passa a fazer tirinhas para o periódico.

Além da participação na imprensa, Lor publicou o livro Retrato Falado, história em quadrinhos escrita em 1979 e reeditada em 2003, e obras para o público infanto-juvenil, como O Urso Fiote (1985) e O segredo do Águas Virtuosas Futebol Clube (2003). Também foi consultor científico dos quatro volumes da Coleção Espaço Ciências (1996) e ilustrou obras do escritor e pesquisador Angelo Machado. Atualmente, o traço do artista aparece nas páginas da Revista da Associação Médica de Minas Gerais e na seção Humor de Segunda, do jornal O Tempo.

Mais uma boa causa

As mãos de Luiz Oswaldo Rodrigues empunham outra importante bandeira. Junto com o professor Nilton Alves de Rezende, da Faculdade de Medicina, ele coordena, na UFMG, o Centro de Referência em Neurofibromatose que, em dois anos de funcionamento, já atendeu mais de 150 famílias e mantém programa de pós-graduação.

A luta de Lor e Nilton Alves contra a neurofibromatose tem inspiração familiar. Ambos possuem filhos portadores desta doença, provocada pela mutação do cromossomo 17. A enfermidade acomete um a cada quatro mil crianças nascidas e se caracteriza pelo aparecimento de tumores, geralmente benignos, nos nervos. Cerca de 50% dos seus portadores apresentam alguma dificuldade de aprendizado ou problemas escolares. Mais informações sobre o grupo e a doença na página www.amanf.org.br.