CDC cria espaço itinerante de divulgação científica para percorrer municípios mineiros

Ana Maria Vieira

Julius

Um caminhão-baú dotado de laboratórios, estações para oficinas, sala para acesso a internet, telão e outros recursos tecnológicos e pedagógicos deverá começar a rodar as estradas mineiras no segundo semestre deste ano. Destino: os 853 municípios do estado. Objetivo: popularizar a ciência e estimular a atualização de conceitos e uso de tecnologia entre professores e estudantes do ensino básico.

“Com esse espaço, queremos fomentar uma cultura que valorize e compreenda os fenômenos naturais, culturais e sociais numa abordagem científica”, diz a professora Tânia Margarida Lima Costa, diretora do Centro de Difusão da Ciência (CDC), órgão responsável pela coordenação do projeto na UFMG. Denominado Ciência na Estrada, o programa já obteve R$ 483 mil em edital da Fapemig para a aquisição do caminhão. Os recursos para adaptação do baú, que totalizam cerca de R$ 400 mil, deverão ser captados em outras fontes, como o Ministério da Ciência e Tecnologia.

A proposta é que o espaço ofereça exposições; teatro sobre temas científicos; oficinas nas áreas de física, química, matemática, biologia, história, letras, artes e filosofia; palestras; hora do conto e da astronomia; bate-papo e eventos noturnos. “A programação será definida de acordo com a necessidade de cada cidade”, ressalta a diretora. A partir dessa identificação, a equipe vai mobilizar professores e alunos da UFMG a produzir conteúdos e materiais sobre os temas eleitos. “Uma das repercussões do projeto será a de estimular atividades interdisciplinares na Universidade, criando demanda para a produção de filmes em 3D e de outros recursos em linguagem acessível e prazerosa para a população”, reflete Tula Rocha, professora da FaE e coordenadora pedagógica do Ciência na Estrada.

Trinta municípios mineiros já assinaram carta de intenções com a Universidade, manifestando interesse em receber o projeto. A contrapartida local é disponibilizar espaço de pelo menos 500 metros quadrados e assumir a segurança dos equipamentos. Pirajuba, Formiga, Pescador, Padre Paraíso, Araçuaí, Campos Gerais, Engenheiro Caldas e Governador Valadares são alguns dos municípios de pequeno e médio porte incluídos na primeira lista. Segundo o planejamento do CDC, a equipe do Ciência na Estrada deverá realizar duas viagens mensais, permanecendo quatro dias em cada local. Praças públicas e pátios de escolas são exemplos de lugares onde o caminhão deverá ficar estacionado.

Além da novidade

A passagem do caminhão pelos municípios cumprirá meta que vai além da exposição de novidades sobre a ciência. “Nosso objetivo é atrair o interesse de públicos mais amplos e criar núcleos capazes de dar continuidade ao trabalho de difusão da ciência”, informa Tânia Costa.
Um dos principais especialistas em divulgação científica na UFMG, o professor Eduardo Valadares, do departamento de Física, aprova a iniciativa. “A Universidade já possui um acervo móvel transportado pelo Carro-Biblioteca. Por isso, é interessante levar outro conjunto de experimentos e recursos audiovisuais que ofereçam novas oportunidades para as escolas do estado”, observa Valadares.

Para ele, a proposta do CDC deve ser pensada também como forma de superação da precariedade do ensino da ciência, um quadro que, em sua opinião, a Universidade ajudou a configurar ao estimular as escolas a desenvolver uma educação livresca, voltada para o vestibular. “Os jovens não internalizam o significado dos instrumentos que têm nas mãos”, diz. O contraponto, segundo a avaliação do professor, consiste em recuperar as questões mais essenciais da ciência: “a sua capacidade de inovar, indagar e romper com visões estereotipadas”