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Nº 1608 - Ano 34
06.05.2008

Terra em acordes e fotogramas

Seminário aborda o olhar de compositores e cineastas
sobre a questão da terra no Brasil

Itamar Rigueira Jr.

 

Depois do seminário Utopias Agrárias, realizado no ano passado, a questão da terra volta à pauta na UFMG sob uma ótica diferente. O objetivo agora é discutir como a canção popular e o cinema nacionais interpretaram, ao longo do tempo, o tema que tem atraído o interesse de nomes como Glauber Rocha, Chico Buarque, Walter Salles e Sergio Ricardo.

Acervo do Projeto República
Disco
cinema
A música de Geraldo Vandré e Sergio Ricardo e o cinema de Glauber Rocha (abaixo) vão inspirar os debates

Pesquisadores e artistas estarão reunidos na Universidade nesta semana – de 7 a 9 de maio – para o seminário Imaginação da terra: memória e utopia na canção popular e no cinema brasileiro. A promoção é do Projeto República: Núcleo de Pesquisa, Documentação e Memória da UFMG, do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural, ligado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, e do Programa de Pós-Graduação em História da Fafich.

O evento pretende operar com a capacidade das linguagens estéticas de criar narrativas e alegorias destinadas a opinar sobre a questão agrária no interior da formação social brasileira. Através da articulação entre os temas da memória, da república e da utopia, a idéia é construir pontos de interlocução entre as linguagens da moderna canção popular e do cinema brasileiro. A estrutura do seminário é composta por palestras de reconstituição histórica, sessões de exposição, análise conceitual e debate, shows e exibição de filmes. Em torno das mesas de debate estarão, entre outros, o compositor e cineasta Sergio Ricardo, o crítico musical Zuza Homem de Mello, o crítico de cinema José Carlos Avellar e professores como Ivana Bentes, da UFRJ, Ivan Vilela, da USP, e César Guimarães, da UFMG. Na semana seguinte, uma mostra especial trará filmes de Glauber, Suzana Amaral, Nelson Pereira dos Santos e Ozualdo Candeias.

Tensões criativas

“Há um pensamento construído dentro da academia sobre as relações entre terra e arte, e queremos colocar a questão para os produtores artísticos”, explica Bruno Viveiros Martins, integrante do Projeto República e coordenador da vertente do seminário que trata da canção popular. As conversas vão girar em torno de aspectos como as origens rurais da moderna canção popular brasileira, o lugar ocupado na música pelo migrante numa situação de desterro na cidade grande e as tensões criativas entre as tradições e os projetos de modernização do país. Uma das mesas-redondas está reservada ao cinema latino-americano: o objetivo é resgatar imagens da terra produzidas pelo cinema do continente, buscando identificar um terreno apropriado para a criação de diálogos.

O seminário vai homenagear Sergio Ricardo, cuja produção artística marcou a resistência contra o regime militar. O compositor e cineasta se diz animado com a perspectiva de voltar a conversar com acadêmicos e estudantes, sobretudo “neste momento histórico no país, em que a gente sente no ar uma transformação”. O eixo de sua abordagem serão as injustiças cometidas contra os camponeses. Elas são responsáveis, em grande parte, pela miséria no Brasil, diz o músico. Ele vai se apresentar para o público da UFMG na sexta-feira, dia 9, às 18h30, no auditório da Reitoria. A programação integral do seminário Imaginação da terra está no site do Projeto República (www.ufmg.br/projetorepublica).