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Nº 1640 - Ano 35
9.2.2009

Curva da prevenção

Monografia analisa os impactos da transição demográfica
em programa nacional de saúde feminina

Paula Lanza

Filipe Chaves
Juliana Vasconcelos
Juliana Vasconcelos: cenários para a prevenção do câncer ginecológico
O Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama, mais conhecido como Viva Mulher foi implantado em cinco estados no ano de 1997, tendo se expandido para todo o Brasil no ano seguinte. Oferece serviços de precaução e detecção precoce em estágios iniciais da doença, por meio dos exames de mama (clínico e mamografia) para mulheres entre 25 e 69 anos, e de útero (o exame citopatológico, conhecido como Papanicolaou) para mulheres entre 25 e 59. O programa também prevê tratamento e reabilitação nos casos em que as doenças forem detectadas.

De cada 100 mulheres atendidas em 2007 pelo Programa Viva Mulher em Minas Gerais, iniciativa voltada para a saúde feminina, apenas 18 realizaram mamografia e 57 o exame de colo de útero, o papanicolau. Por si só, esses números já seriam preocupantes, uma vez que os exames, gratuitos, são oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Mas a gravidade deles é potencializada por um dado demográfico: como a população feminina cresce nas faixas etárias mais avançadas, as de maior risco, também é de se supor que os casos de cânceres de mama e de colo de útero aumentem em proporção parecida, caso a prevenção não seja feita.

Essa tendência é delineada por Juliana Vasconcelos, que acaba de se graduar em Ciências Sociais pela UFMG. Em sua monografia de conclusão de curso, ela associa os efeitos da chamada transição demográfica sobre as duas maiores causas de morte de mulheres em idade reprodutiva – justamente esses dois tipos de cânceres – segundo o Ministério da Saúde. De acordo com a autora do estudo, a transição demográfica tem três características: queda da taxa de fecundidade, aumento da expectativa média de vida e feminização da população nas faixas etárias mais avançadas. “Esse quadro demandará maior assistência às mulheres tanto no que diz respeito à oferta de exames quanto de tratamentos. Isso significa que haverá uma grande pressão sobre os gastos públicos”, projeta Juliana.

Diante desse quadro, Juliana avaliou as possíveis consequências da transição sobre o Programa Viva Mulher em Minas Gerais. Como parte do estudo, ela criou um Índice de Prevenção ao Câncer (IPC) para o estado. Os resultados não são animadores: os cálculos do IPC mostram que, em 2007, 18% das mulheres atendidas pelo programa realizaram mamografia, enquanto 57% se submeteram ao exame papanicolau. Em 2004, esses índices eram de 14% e 50%, respectivamente. Ou seja, em três anos o crescimento da adesão às duas práticas de prevenção foi pequeno.

Cenários

A autora do trabalho projetou os IPCs para os anos de 2010, 2015 e 2020. Para isso, estabeleceu três cenários distintos, cada um ilustrando um possível horizonte em torno da prevenção aos dois tipos de cânceres. No primeiro cenário, Juliana considerou que o número de exames não oscilará, mantendo-se constante nos anos posteriores a 2007. “Isso ocorrerá se o governo não oferecer mais recursos além dos que já destina ao Viva Mulher”, aponta ela, considerando esse horizonte um retrocesso, uma vez que a cobertura, que já é falha, tenderia a regredir ainda mais.

O segundo cenário considera um alcance ideal, isto é, a situação em que todas as mulheres teriam acesso aos exames. Foram feitas projeções para verificar o quanto a curva de crescimento deveria crescer – tomando como base os dados de 2007 – para alcançar essa cobertura. “O número de mamografias deveria aumentar aproximadamente seis vezes, enquanto os exames citopatológicos precisariam dobrar”, revela. Já o terceiro cenário supõe um aumento constante de 10% ao ano no número de exames. “Em relação à mamografia, teríamos, em 2020, 50% de cobertura da população feminina. Já o papanicolau, se seguisse essa tendência, chegaria a 70% em 2010, e em 2015, todas as mulheres poderiam ser atendidas”, calcula Juliana Vasconcelos.

Monografia: A atual transição demográfica e suas implicações na oferta de serviços públicos voltados para a saúde feminina: o caso do Programa Viva Mulher
Autora: Juliana Vasconcelos de
Souza Barros
Onde: trabalho apresentado ao curso de Ciências Sociais da Fafich como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Ciências Sociais
Orientadora: Professora Laura Lídia Rodríguez Wong, do Departamento de Demografia da Face
Data: 9 de dezembro de 2008